Editorial - 5ª edição

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poesia



CENA DO DESTINO
Um vício
ao meu redor
um erro corroí
o mundo
do outro lado incomunicável.
A paisagem atrás da noite.
Segredos.
Almandrade

Elegia para uma ilusão
era noite aquele dia
era tudo fantasia
e aquele tudo era nada era uma via proibida
era abismo aquela estrada
era uma escada caída era uma porta fechada
de alguma casa vazia
sem entrada nem saída
era uma bela cilada
era uma era sombria
onde a morte adia a vida
era a zona era a espelunca
era o que era quase sempre
e sempre era aquele nunca
era uma mera miragem
quimera sonho talvez
mentira conto de fadas
era uma vez outra vez
Cairo Trindade

Belleza helada

La suma del mal es el bien...
La resta del bien es el mal...
Hay bien y mal en el camal
De Dios, que perdona también;

Una multiplicación ser.
Hora, no mirar, división.
Tonar una mala canción;
No amar, desaparecer.

Tú, lentitud de caminar
Amordazar, tiempo, azar
No pensar, jamás, volumen.

Célula del corcho sentir
Belleza helada, lumen
Atolondrar fin y vivir.

Salomon Valderrama - Peru

Irreversível

Mesmo que o amanhã surja malogrado
Fruto do aborto do parto iminente
Ou que o premeditado seja concebido em proveta
E a palavra desapareça embargada
Mesmo que a percepção permaneça extraviada
E a bagagem seja meu corpo vazio
Mesmo que o tempo passe a fazer ninhos
Em árvores de penas estagnadas
Mesmo que a noite se torne ínfima
E meus pensamentos embaracem cabelos
Mesmo que as ladeiras percorram desertos
Por trilhos que me escondem atalhos
Mesmo que a fumaça não seja ouvida
E o vapor seja a lágrima das crianças
Mesmo que os dedos enforquem estrofes
E o silêncio realce os acordes.

Ainda que o traço copie o borrado
E os rascunhos já nasçam refeitos
De dentro dos teus olhos mouros
Pude existir no intervalo da tua vontade.

David Cohen



Estas semanas
Que parecem não terminar nunca
Se acumulam.
E eu esqueço
De cumprir minhas promessas
Que se acumulam.
Eu recomeço
O tudo que fica para trás
E me despeço.
Imaginando
Os olhos das pessoas que ainda
Não conheço.

Thiago Oliveira do Nascimento



FUNDO VAZIO

Pobre menino
Malvestido maltrapilho
No mundo mais sozinho
Que cachorro vira-lata

Pobre menino
Sem família sem amigos
Sem carinho escola abrigo
Sem direito algum a casa

Pobre menino
Sem futuro sem caminho
Que se espicha num banco
Da praça que flutua

Pobre menino
Cujo tempo é pequenino
Cujo brilho é fugidio
Cuja mente vive crua

Marcelo Ricardo



Pé de mulher
por Rafael Alvarenga

Sexta feira depois do expediente era sempre assim: Silva e Fernandinho desciam da repartição pública e bebiam aquele chope bem gelado. Afrouxavam as gravatas, tiravam os paletós e arregaçavam as mangas. Pareciam que iam pegar em palavras muito pesadas. Sempre demoravam para começar, mas sempre terminavam falando sobre intimidades suas ou alheias. Era o que se dava a partir da segunda, ou no mais tardar, terceira ida ao banheiro. Quando a camisa já estava para fora das calças, começavam:
_Porra, Silva, tô com um problema sério, cara. – Desabafava Fernandinho.
_Cara, mas você gosta mesmo desse negócio, hein?
_Mas é claro que gosto. Ô, Silva, tá me estranhando, é?
_Fernandinho, então, ou você é maluco, ou não sei o quê... Onde já se viu gostar de problema, rapaz?
_Que problema, Silva? Tô falando de mulher, porra!
_Ah, sim, agora entendi. Ufa! Pensei que cê tava falando que gostava de problema.
_E eu acho que você já bebeu demais. Peraí, fica na sua e deixa eu te conta o meu caso. – Deu uma golada e fez careta. Depois disse que o chope estava quente e pediu mais dois. – O negócio é o seguinte, Silva. Eu tô saindo com a Antônia, cê sabe disso? Aí, ontem eu fui dormir na casa dela...
_Então, cê brochou? Que situação, hein...
_Não, Silva, deixa eu te contar, porra! O negócio é sério e cê fica aí me agourando –Silva levou o indicador aos lábios fazendo sinal de silêncio e Fernandinho continuou – Cara, eu tô falando daquele meu problema com pé de mulher. Lembra? Eu já te contei.
_Sim, sim, eu lembro, mais é daí?
_Cara, a Antônia tem um pé muito feio. Cê tem que ver, rapaz! Tá doido...
_Mais é o outro?
_Que outro, Silva?
_O outro pé. Cê falou que ela tem um pé feio, mas e o outro?
_Ah, qual é Silva eu aqui me abrindo com você na boa, e você aí de sacanagem...
_Não, tá bom. Foi mal. Conta aí o caso, então.
_Cara, não tem como eu continuar com a Antônia. Ela tem o pé mais feio que eu já vi na vida!
_Fernandinho, peraí, deixa eu tenta entender. Cê vai dispensar a gatinha só porque o pé dela não te agrada? É isso cara? Porra, mas tu tá de frescuragem, meu irmão. Onde já se viu isso, rapaz! E homem fica lá com a cara enfiada no pé da mulher pra escolher, rapaz?
_Silva, eu tô falando sério. Eu não vou conseguir mais ficar com ela e aquele pé horroroso que ela tem...
_Que dizer então que cê é um pedófilo, Fernandinho?
_Não, que é isso, Silva! Eu posso até ser um pedólogo. – Pensou...- Não esse é quem estuda o pé, eu não estudo o pé, eu amo um bonito pé de mulher. Eu sou um péfilo, um amante dos pés.
_Aqui, Fernandinho, isso tá me cheirando a boiolagem.
_Que nada, rapaz! É por isso mesmo que nunca vou me meter com essas coisas. Conheço de longe um pé de mulher.
_Tá bom. Olha aqui, a noite todos os gatos são pardos, assim como que dentro de sapatinho rosa, todo pé é de mulher.
Já era tarde e Silva precisava ir. Sua mulher já havia ligado três vezes. Na segunda quando Fernandinho chegou na repartição, ainda com a imagem dos feios pés de Antônia na cabeça, viu o pessoal em frente ao quadro de avisos lendo e tentando entender uma mensagem, entre risos: Atenção, se Você tem um belo pé cuidado com Fernandinho, o péfilo.
Assustado, Fernandinho ouvia todos lhe perguntarem que estória era aquela, enquanto riam e tentavam decifrá-la.
_Não sei que palhaçada é essa. Quem foi que colocou isso aqui?
_Não sei. Já estava aí quando chegamos. –Responderam - Mas que estória é essa de péfilo, hein, Fernandinho?
Porém, raivoso, ele não respondeu. Lançou a mão no quadro de avisos e arrancou o cartaz. Entrou na repartição e enfiou-o dentro da bolsa. Sentou-se à sua mesa, e disse a Silva, cuja mesa ficava ao lado:
_Cê tá maluco é, Silva? Que amigo da onça é você, hein... Péfilo! Que absurdo!
_É pro seu bem, Fernandinho. Cê sabe que eu gosto de você. Fica tranqüilo, rapaz, isso vai passar. – Dizia Silva com uma postura séria.- E aí, vamos tomar aquele chopinho hoje? Pra abri bem a semana...
_Acho que vou mesmo precisar, Silva. Tô com outro problema. E esse é sério.
_Eu já te falei que chope com problema ataca o fígado. Mas você parece que gosta...



E VESTIU-SE O MANTO DA TRISTEZA
Por Bruno N. F. Borja

1 X 0. Mais uma vez França. Era o fim do sonho do hexacampenato mundial de futebol. O sonho de um país inteiro. Sim, éramos um país de sonhadores. E, de repente, o apito do juiz veio como um despertador. Acordamos. Voltamos para a dura realidade de nossas vidas.
Éramos, pela primeira vez na história, a grande nação. Ou melhor, somos, de quatro em quatro anos, a grande nação. O brasileiro só é brasileiro de verdade, com orgulho de o ser, na copa do mundo.
E, vejam bem, não há nisto nenhum mal intrínseco. Não declaramos guerra a ninguém, não destratamos nossos turistas e vemos em qualquer terra estrangeira uma magia fascinante. Ou seja, somos uma pátria de humildes. Mas quando o assunto é futebol, aí não! Somos os mais orgulhosos do mundo.
Eis um traço da personalidade nacional: somos um país movido a futebol, samba e caipirinha. Qualquer cidadão brasileiro, do mais novo ao mais velho, mistura gelo, limão e açúcar com uma dose de cachaça melhor do que o melhor barman europeu. Ou americano, se quiserem. Do samba, nem se fala. Nosso carnaval é, sem dúvida, uma festa religiosa. Um compromisso com Deus e com todos os santos.
Mas, eu quero falar de futebol.
No ônibus da seleção estava escrito: “Monitorado por 180 milhões de corações brasileiros!” Não sei se havia o ponto de exclamação, mas deveria, por que era a mais pura verdade. Não nos utilizávamos de câmeras filmadoras, máquinas fotográficas nem singelos binóculos. Monitorávamos com o coração, com o órgão vital.
Aconteceu, porém, que nossos jogadores simplesmente não compreenderam a dramaticidade da situação. Somos um país que não declara guerra, joga futebol. E vemos, no futebol, a oportunidade para erguer a bandeira nacional, para cantar o hino nacional. Mas nossos jogadores não pensavam no orgulho da nação, pensavam na glória pessoal.
Ronaldo, o maior artilheiro de todas as copas. Cafu, com o maior número de jogos em copas. Roberto Carlos, a celebridade. Se estivessem lado a lado, os dois robertos, o jogador e o cantor, e alguém chamasse:
- Hei, Rei!
Nosso lateral esquerdo bateria no ombro do cantor e diria:
- Deixa que é comigo!
E nosso camisa dez? O melhor do mundo! Tão aclamado, tão amado em todo o globo terrestre. Onde Ronaldinho Gaúcho estivesse, lá estavam os flashes. E ele adorava. Ronaldinho não jogava bola, fazia propaganda. Em sua testa luzia a propaganda. E mais, sua testa brilhava mais do que outdoor.
Diante disto tudo, cada um dos 180 milhões de corações foi à janela recolher sua bandeira. Humilhado, dobrou sua bandeira, tirou sua camisa amarela e vestiu o manto sagrado da tristeza.




Olho de Vidro
por Rodiney da Silva e S. Jr.

Haverá um dia em que o dia não será mais
minhas letras não serão mais
meus olhos não verão mais
e ainda que Carlos diga:
"chega uma hora que a vida é uma ordem"
esta ordem também não será mais
porque mudada para uma nova ordem
o fim.

E como será? o fim?
será que existe realmente aquela bruxa, que Edward Bloom conseguia ver em seu olho de vidro o seu fim? será que saber o nosso fim é solução? nunca mais teve descanso aqueles que souberam ler o olho de vidro da bruxa. Toda aparência, toda semelhança suscitava ao olho, à Bruxa, ao fim.

Mas "chega uma hora que a vida é uma ordem"
não há saída. não há mais aqueles atalhos que encontrávamos quando jovens. não há mais a marca de revolução. não há mais o passeio das meninas sorridentes porque viam rosas pelas calçadas, rosas nas mãos dos meninos, rosas em seus cabelos, rosas que adornavam. não há mais a espera da mulher na janela e nem a despedida da mesma mulher. não há mais amor pelas pedras e ferros que contam a nossa história. não há mais o cuidado do Criador em nos manter vivos. apenas uma ordem. Totalitarismo. Autoritarismo. qual a vida vivida na bela Rússia de Lênin e Stálin. apenas: Viva! é quando a vida deixa de ser estímulo aprazível e torna-se uma sem saída, um viver por viver. aquilo que os ocidentais chamam: rotina.

Por Cristo, não compare rotina com a barbárie bolchevique! mas não deixe de perceber a barbárie da rotina! a primeira é a destruição de tudo que é contrário a uma ideologia genocida. a segunda é Mozart querendo mostrar algo novo e sendo ignorado e querendo fazer o mais do mesmo e sendo ironizado. será que Mozart também tinha parte com a Bruxa de Ed Bloom?



O Poeta Abel Silva
por Gilfrancisco

Hoje, no Brasil, o papel do escritor é tornar a literatura necessária.
(Abel Silva, 1976)

Nascido em Cabo Frio (RJ), em 28 de fevereiro de 1943, Abel Ferreira da Silva foi aos dois anos para a cidade do Rio de Janeiro; criado no bairro do Catete, para onde se mudou com a família. Filho de pastor protestante, Abel começou a ler muito cedo na biblioteca do pai que ele chama de “anárquica”, pois havia desde Tesouro da Juventude até Os sertões de Euclides da Cunha, lido por ele aos 16 anos. Apesar de ser influenciado pelas leituras de Fernando Pessoa, Graciliano Ramos, Sade, Poe, Sartre e Oswald de Andrade, teve na música uma influência marcante na sua formação profissional, em virtude da maioria dos amigos serem músicos.
Abel estudou na Faculdade Nacional de Filosofia e Direito, liderando nas décadas de 60 e 70 os movimentos estudantis. Formado em Letras, em 1969 pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, logo passou a lecionar literatura brasileira na PUC do Rio e na UFRJ. Atuou como professor na Escola de Comunicação, tendo sido editor de cultura do semanário Jornal Opinião (1972) e da revista de cultura Anima (1974/1975) em parceria com o poeta baiano José Carlos Capinan, onde colaborava com nomes como: João Ubaldo Ribeiro, Ferreira Gullar, Rui Espinheira Filho, Gramiro de Mattos, Manduca, José Agripino de Paula, Ronaldo Bastos e outros.
Nessa época morou no Solar da Fossa, onde conviveu com Torquato Neto, Caetano Veloso e Gal Costa. Enveredou-se pela poesia e, no auge da repressão militar, em 1971, lançou o romance “O Afogado”; em 1974, o livro de contos “Açougue das Almas” e. cinco anos depois, seu primeiro livro de poesias intitulado “Asas”.
Sua careira de compositor começou por acaso, nasceu da amizade com o cantor Raimundo Fagner em 1974, quando surgiram as primeiras parcerias, Sangue Pudins e Asa Partida, LP CBS, 1976. Já como poeta-letrista, Abel Silva marcou presença junto a compositores e intérpretes nordestinos, como João do Vale, Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Marines, Robertinho do Recife e Amelinha. Preponderantemente letrista, sua primeira composição foi uma melodia que recebeu letra de João do Vale “Eu chego lá”, mas sua primeira composição gravada foi Jura Secreta (com Suely Costa), que lançou a cantora baiana Simone.
Entre suas composições mais famosas encontramos: Festa do Interior, Espírito Esportivo, Baldes do Maracanã, Bumerangue, Cidade dos Brasileiros (parcerias com Moraes Moreira), Brisa do Mar, Diapasão, Entre o sim e o não, Homem Feliz e Simples Carinho (com João Donato), Quando o Amor acontece e Desenho de Giz (com João Bosco), Água na Boca (com Tunai), Promessas, promessas (com Francis Hime), A família (com Edu Lobo), Asa Partida, Dúvida de Amor, Amor escondido (com Fagner), Raio de luz (com Cristóvão Bastos), E coisa e tal e vento a favor (com Antonio Adolfo). Sua parceria mais constante foi com Suely Costa, criando obras-primas, verdadeiras pérolas da música popular brasileira, que com certeza, estão imortalizadas: Jura Secreta, Alma, Primeiro Jornal, Vento Nordeste, Canção brasileira, Coração aprendiz, A menina e a moça, Voz da Mulher, Mundo delirante, Vida de artista, Frutos do mar, Aos pedaços, Maresia, Bóias de luz, entre outras. Suas letras ganharam as vozes de Gal Costa, Simone, Nonato Luis, Ângela Ro Rô, Ivan Lins, Zé Renato, Edu Lobo, Fagner, Maria Bethânia, Leila Pinheiro, Nana Caymmi, Elis Regina, Nara Leão, João Bosco, Zizi Possi, Verônica Sabino, Emilio Santiago e Jards Macalé são alguns dos nomes de nossa MPB que gravaram suas composições. Abel Silva é autor de mais de 300 composições e já ganhou dois prêmios Sharp.
Abel Silva foi apresentado ao grande público brasileiro através do livro de contos Açougue das Almas, publicado pela Ática em 1976, com belíssimas ilustrações de Elifa Andreato, e apresentação de Antônio Houaiss, que encerra o texto afirmando que “Abel Silva nos dá um livro que por si só não fará o verão que seu esforço criador promete: Oxalá venha a merecer dos leitores o favor com que mais se acende o engenho, para prosseguir na rota que projetou para si”.
“Abel ao pé da letra” – coletânea lançada em 1989 (LP, 12 faixas – CBS); reúne algumas parcerias do compositor cabofriense: Festa do Interior (Moraes Moreira), Merengue (Robertinho do Recife), Quando chega o verão (Dominguinhos), Bicho estranho, O primeiro jornal, Jura secreta e Rosa de Viver (Suely Costa), Asa Partida (Raimundo Fagner), Transparência (Menescal), Simples Carinho (João Donato), dentre outros. Em 2000, Abel Silva em parceria com Nonato Luís, lançou, de forma independente, o cd (15 faixas) Baú de Brinquedos, que reúne canções da dupla, como Baú de brinquedos, Tanta coisas de vida, Às vezes, a flor e o passageiro, Febre, Mauro blues, Só esta mais uma vez, Na beira do rio, na terra do mar, dentre outras. Em 2001, publicou pela Record o livro Só uma palavra me devora (poesia reunida e inéditos) com 180 poemas, letras de músicas e textos publicados em jornais e revistas entre 1973 e 2000. Dois anos depois (2003), comemorando seus 30 anos de carreira, o poeta edita pela prestigiosa coleção Poesia Falada, dirigida por Paulinho Lima, um cd com seus poemas, recitados por Hugo Carvana, Antônio Pedro, Chico Caruso, Jaguar, Pedro Bial, Leilane Neubarth, Maria Gladys, Lena Trindade e Amaro Emiliano.
Berro em surdina:Poesia (2005), uma bela coleção de 65 poemas inéditos, que comemora seus 30 anos de poesia; entre os temas recorrentes do novo livro, está as agruras do amor, a efemeridade da juventude, o futuro a assustar, que viveu intensamente e a incômoda certeza da morte. A passagem do tempo. O poeta diz sempre muito com o mínimo de palavras e o máximo de genialidade. Abel é um letrista brilhante, com uma poesia versátil, universal, atemporal, tem uma marca própria, um lirismo contemporâneo e sensual, um neomodernista surpreendente de cuca voadora, como o definiu Glauber Rocha. Foi ele quem incentivou Abel a mostrar seus poemas aos editores. Os poemas de Berro em Surdina (resumo de três décadas) também vêm carregados de uma profunda tensão com a política nacional, normal e aceitável para quem viveu a juventude sob a opressão da ditadura militar:

Eles se pensavam águias
Agora se sabem urubus
....................................
planaram mortais
para pousar, depois,
sobre a carniça dos velhos ideais.

Num poema chamado Antropofagia, em tom raivoso, com palavras de ordem, procura despertar o brasileiro que dormiu no ponto:

Chega de antropofagia
chega de deglutir o colonizador.
Mudemos o cardápio,
chega de comer o tal Sardinha
pois o bispo quem ganhou.
Venceu o Calvário,
a cruz vingou!



Artesão competente e criativo do verso, possuidor de uma alta voltagem inventiva, Abel Silva é letrista consagrado, autor de inúmeros sucessos da MPB. Com certeza sua obra conquistará posição de destaque na histografia literária brasileira, apesar de seus livros continuarem quase todos esgotados, difícies de encontrar até mesmo nos sebos. O poeta publicou ainda Mundo Delirante (1992).

Festa do Interior

Fagulhas, pontas de agulhas
Brilham estrelas de São João
Babados, xotes e xaxados
Segura as pontas, meu coração
Bombas na guerra magia
Ninguém matava
Ninguém morria
Nas trincheiras da alegria
O que explodia era o amor
Ardia aquela fogueira
Que me esquentava a vida inteira
Eterna noite
Sempre a primeira festa do interior


(Letra: Abel Silva, Música: Moraes Moreira)

* Gilfrancisco é Jornalista, pesquisador e professor universitário



por Marcelo Ricardo


BREVE MARAVILHA?

a varig
girava



A BÁRBARA, BRABA

-Oh! chia baixo!



PERGUNTA NA BOCA DO RINGUE

-Há gelo, colega?


O BÊBADO PERDIDO

OH! SÓ BEBO SÓ!




OPTICO-LITERAL - GRIFOS NA CÂMARA ESCURA
Por Alex Topini





nada mais me importa
nada mais me acerta
os passos
a estrada
meu caminho atravessa
e nada mais
não me trancam ruas
não me cruzam esquinas
nenhum rumo me desvia
nada me atropela, me veicula
não me avançam os sinais

nada mais me aporta
nada mais incerto
não me dão sentidos placas
não me desapontam setas
nenhuma cara-a-cara
a minha
em meio a tudo
à sós
e nada

a dar com os ombros
vida essa
a me lançar a esmo
como se possível servir feliz
o que inefável




parto-me
como renascer
frutos de si mesmo
minhas raízes
cravar no tempo
entre sombras e flores
ser
árvore de nenhum lugar

dar-me
desnudo de casulos
rebento de mim mesmo
minhas escamas
húmus no espaço
entre cores e dissabores
luz
ventre exposto solar



inunda vago o fundo
superfície extrema do poço
- há risco!
intra nexos côncavos
o osso da carne do osso
mínimo
complexo trapo
denomina-se
a carne do osso da carne
comum
máxima trepida
minuetos consagrados
dias entre sonhos e réplicas
abismos concretos do meu trato
são o vácuo
em que minhas plumas despencam




como quem quadros queima
poesias rasgo-me
em unhas, dentes e labaredas
a despeito da minha cria
sou como uma deusa
a dar sopros descartáveis sobre o barro
se o que gero não me sacia
em imagem e semelhança
mais largo
mais mais, mais tudo
mais vasto

sou como uma deusa é
sublime e mesquinha
no seu desamparo
no silêncio ermo
no instante único e raro
de criar e findar
tudo que existe
não mais



onde nunca se esteve
vão

por sobre as coisas todas
avesso que há
nu
fenda insólita
la-do
chão
e só

nenhum lugar
em mim todo

som


Grifos na Câmara Escura alude ao fato de que todas as fotos foram criadas utilizando a técnica de fotografia artesanal "pinhole", reveladas em laboratório caseiro pelo autor.




APÓS A CIDADE

busco o esqueço
mas eu não conheço
a mala de dentro
a dor
na cidade apagada
o que vai
pelo esgoto
por baixo
dos passos
calçados
e rodas borracha
borrachas idéias

costuro as esquinas
na máquina de passos
dobro as visões
no bolso
em exclamações
fecho-me porta
e esqueço
agora
verbo amanhã

carlos de hollanda


Meu canto
Tijuca
catarse populacional
ilha de asfalto
cercada de morro por todos os lados
guerra civil
Barracos na mata atlântica longe do oceano
barracos barrocos
guerra civil
Nobreza suburbana
gentinha pré-túnel
guerra santa
Beira da estrada porética
berço cultural renegado
cafezal desmontado
pós-colonizado
Floresta de seres comuns
animais isolados
observando janelas
vendo a vida
vendendo a morte
Terreiros católicos
igrejas de ubanda
guerra santa
Vale infernal
bairro nada bairrista
fotocópia atrasada
nada
Diego Tribuzy


Os meninos que cresceram comigo

Os meninos que cresceram comigo:
Destinos tão diferentes.
Tantos credos!
Mulheres, beatas, vestidos longos, mangas compridas;
fechando o corpo, fechadas para a vida:
As mães dos meninos que cresceram comigo.
Esses meninos tinham sonhos.
As mães rezavam.
Eles matavam os sonhos.

Os meninos que cresceram comigo, alguns, hoje, estão nas páginas dos jornais:
Meninos que podem não mais crescer.
As meninas que cresceram comigo, não podem mais estudar:
Tão cedo fizeram outros meninos...brincaram de gente grande.
Fizeram meninos que talvez se armarão de educação;
Talvez crescerão;
talvez serão diferentes dos meninos que cresceram comigo.

Arlete de Andrade

Raça doente
Pré-dispositora ao ópio
Engana-te a cada passo...
... massa doente

descarrilhada e descrente
mal paga de si mesma
impermeável a aura...
...árida , inválida...
...invariável de rir

rasteja como eu
fragmento de ti

massa pensante
que nos condena
massificadamente...
... a existir

Marcelo Felippe

LUNAR

Da lua sai a dor dos muitos,
que pairam azulados de fome e frio,
carcomidos, os meninos.
Vendem seus corpos, à noite, as prostitutas,
roubam seus dinheiros, os bandidos.
Disfarçados de inocentes, os gatos
trepam pelos telhados,
encontram os restos
da louca, jogados fora.

Elaine Pauvolid



RUSH

O
Túnel
É
Uma
Viagem
Que
Não
Se
Pode
Parar
No
M
E
I
O

Iara Rocha


MORAL DA HISTÓRIA

estende o hálito da tarde sobre mim
dia suspenso
dia que perdi num lapso branco revestido por vermelhos avos
e emergido assim da treva em cores de marfim

há lápides no ar
extensos ritos sons dispersas iras
tal cravos de arlequim
e sorriso nenhum sossego
pânico nenhum
só me espargiu o travo desse dia resgatado ao desterro

não ir é o meu caminho
e a nula urgência e a falta de motivos
formam pacto comigo
estou só
e este dia é meu único abrigo.

Aldemar Norek




Autonomia e engajamento literário: ramos de uma mesma árvore
por Marcos Fiuza

Gostaria de iniciar estas considerações com um questionamento que envolve diretamente a arte, mais especificamente a literatura: será que é possível a produção artística desvinculada de um projeto ideológico ou o engajamento é o ponto fundamental de sustentação de toda criação?
Inicialmente, é interessante dividir o fazer literário em dois pólos um tanto quanto distintos em seu processo de criação, porém igualmente ricos do ponto de vista da valoração artística. A prosa e a poesia diferem-se, fundamentalmente, desde o seu nascimento até o fim a que cada obra se destina. Podemos entender melhor esses aspectos tomando a teoria de Sartre como ponto de apoio para nossas conclusões. Assim, vemos a poesia como algo, de certa forma, mais distante de um objetivo pragmático, em que o poeta é, de modo geral, um artista intensamente ligado à palavra. Pensando em palavras, primeiramente as entendemos como sendo signos representativos de algo existente no mundo real. Dessa forma, vemos as palavras como uma ferramenta, um utensílio para a realização de determinadas interações comunicativas. É nesse ponto que percebemos como o poeta utiliza a palavra de maneira diferenciada, em que ela não vai, na poesia, representar “coisas” e sim ser as próprias “coisas”. Para o poeta, a palavra não reflete sentimentos, ela É o sentimento. O poeta não intenciona uma comunicação objetiva com seu leitor, pois sua obra reflete o olhar que ele, artista, tem sobre o mundo que o cerca. O artista, por exemplo, quando refere-se a uma cor, não utiliza uma palavra para representa-la e sim acredita ser a cor uma “coisa” em si. Ao olhar para o “vermelho”, o artista enxerga um conjunto de significados que transcendem a simples descrição de uma cor ou uma imagem. Então, entender a poesia como uma manifestação artística isenta de objetivos comunicativos se justifica a partir dessas considerações.
Já a prosa diferencia-se destes aspectos, tendo em vista que o escritor, opostamente ao poeta, lida com significados. O autor narrativo busca representar, mesmo que de forma abstrata, o mundo real. Assim, analogicamente, podemos entender o prosador como um “falante”, em que a sua fala é necessariamente comprometida com uma transmissão de idéias. Há sempre a busca por uma interação comunicativa, onde as palavras são utilizadas de forma a buscar sempre um entendimento por parte dos interlocutores. As palavras não são mais “coisas” auto-suficientes, mas ferramentas a disposição da comunicação. Dessa maneira, pensar em uma narrativa vazia de significados, distante de um projeto ideológico, mostra-se inconcebível perante a característica intrínseca e primordial da prosa.
Em contrapartida, podemos nos questionar sobre a existência de manifestações poéticas vinculadas a projetos ideológicos específicos. Mas, o interessante é compreender que estas obras possuem características mais próximas da prosa do que propriamente da poesia, pois são confeccionadas com uma intencionalidade comunicativa traçada já anteriormente, no qual as palavras mais relacionam-se com significados (signos), do que transmitem um particular olhar do poeta.
Após isto, entendemos que a obra literária, possui características específicas, em que colocar gêneros distintos dentro de um mesmo projeto literário, sem considerar seus aspectos particulares mostra-se ineficaz se partimos de uma visão analítica. E analisando estes mesmos aspectos, concluímos que o vasto campo da literatura proporciona tanto uma abordagem engajada, como também autônoma.

* Marcos Fiuza - Poeta, professor e pós-graduando em Literatura portuguesa e literaturas africanas de língua portuguesa - UFRJ
mvfiuza@yahoo.com.br



A HERANÇA DO PROVENÇAL - 2º parte
por Euclides Amaral


Dedicado a Paulo Henriques Brito, poeta, tradutor e professor da PUC-Rio que inspirou esse texto e a forma como foi feita a classificação das tendências explicitadas.


A nossa tradição de poetas atuantes na música brasileira vem do século XVII com Gregório de Matos Guerra, que já cantava seus versos se acompanhando de uma viola feita de cabaça fabricada por ele, segundo Araripe Júnior, citado por José Ramos Tinhorão no prefácio do livro MPB (Muita Poesia Brasileira) de Leila Míccolis. No século seguinte apareceram muitos outros poetas fazendo o mesmo uso do verso em música., entre eles o modinheiro e poeta carioca Domingos Caldas Barbosa (1738/1800). Até que no século XIX, no auge do Romantismo, surgem as primeiras duplas de compositores como conhecemos hoje: um músico e um poeta como letrista. Parcerias como Xisto Bahia e Melo Moraes Filho (ascendente de Vinicius de Moraes). O músico português Rafael Coelho e o poeta criador do Romantismo Gonçalves de Magalhães. Vários outros poetas deste mesmo século enveredaram pela música popular: Catulo da Paixão Cearense, Laurindo Rabelo, Vilela Tavares e Joaquim Manuel de Macedo. No século XX, esse frisson pela letra da canção veio a desaguar em Mário de Andrade (que na sua polivalência também era músico), Manuel Bandeira (parceiro de Jaime Ovalle e Villa-Lobos), Dora Vasconcelo, Dante Milano, Oreste Barbosa, Otavio de Souza e Ferreira Gullar (quase todos parceiros de Villa-Lobos) e no que mais se enfeitiçou pela carreira de letrista: Vinícius de Moraes. Já há algum tempo, a partir das décadas iniciais do século XX, a questão da influência da mídia fonográfica no trabalho dos poetas-letristas ficou mais acirrada e mais clara. Com a notoriedade e reconhecimento através da canção popular, o poeta-letrista ou como preferem chamar “compositor-letrista”, tornou-se mais conhecido do grande público. Fruto do trabalho feito nas letras de música, o poeta teve também o interesse do público direcionado para seus livros. Muitos desses livros, além de poemas, trazem também letras de canções com os diversos parceiros. Não querendo dizer que o suporte “livro” para a poesia tornou-se obsoleto ou mesmo ineficiente. Porém, fica bastante claro que a poesia com o suporte musical e fazendo uso das diversas formas de divulgação deste produto ganhou muito mais adeptos. Haja vista a quantidade de poetas-letristas que somente conseguiram projeção através da letra de música e/ou em muitos casos, uma projeção muito maior à nível popular como foi o caso de Vinícius de Moraes, que havia publicado em 1933 (aos 19 anos) seu primeiro livro de poesias: O caminho para a distância. Caso inverso aconteceu com o poeta-letrista Paulo César Pinheiro, que após anos e anos de trabalho de letra de música, publicou seu primeiro livro aos 27 anos “Canto brasileiro” em 1976. A título de curiosidade citarei apenas alguns autores e alguns de seus livros: “Canto brasileiro”, “Viola morena” e “Atabaques, violas e bambus” de Paulo César Pinheiro; “Tropicalismo para principiantes” e “Os últimos dias de Paupéria – Do lado de dentro” (póstumo) de Torquato Neto; “O tempo da busca” e “ Memórias do boi Serapião” de Carlos Pena Filho; “Inquisitorial” de José Carlos Capinam; “Punhos da serpente”, “Palávora” e “O beijo da fera” de Salgado Maranhão; “O surfista no dilúvio” de Sergio Natureza; “Asas” e “Mundo delirante” de Abel Silva; “Canção de Búzios” de Ronaldo Bastos; “Poemas & canções” de Ana Terra; “A palavra cerzida”, “Mar de mineiro”, “Segunda classe” e “Beijo na boca” de Cacaso; “Urucum X fumaça”, “Pipa”, “Trincheira de espelhos” e “Poeta vagabundo” de Xico Chaves; “Cemitério geral”, “Casa de pássaros”, “Caminho do meio” e “3X4” de Ivan Wrigg; “O gavião e a serpente” de Murilo Antunes; “Na busca do Sete-estrelo”, “Verão vagabundo”, “Piquenique em Xanandu” e “Por mares nunca dantes” de Geraldo Carneiro; “Motor” de João Carlos Pádua; “A marca do Zorro” de Tite de Lemos; “O canto do homem cotidiano” e “Tapete do tempo” de Ildázio Tavares; “Me segura que eu vou dar um troço” de Wally Salomão; “Um cara bacana na 19ª” de Aldir Blanc; e ainda diversos poetas como Hermínio Bello de Carvalho, Chacal, Bernardo Vilhena, esses três com vários livros publicados.

Alguns poetas enveredam por outros gêneros literários ou mesmo vieram de determinados gêneros e navegaram na canção popular: Sérgio Cabral (biografia); Nei Lopes (pesquisa: O samba na realidade); Paulo Coelho (misticismo); Abel Silva (romance “Afogados”, contos “Açougue das almas); Oduvaldo Viana Filho (teatro); Guarniere (teatro); Ruy Guerra (cinema); Luiz Galvão (memórias) e Márcio Borges (memórias).
Há outros que pouco se sabe de seus livros, contudo, seus nomes estão sempre atrelados a grande músicos-compositores. Suas letras com tal envergadura literária suprem o nosso afã de conhece-los em livros, nomes como Fernando Brant, Vítor Martins, Paulo César Feital, Ronaldo Monteiro de Souza, Lula Freire, Antônio Cícero, Antônio Risério, Duda Machado, Fausto Nilo, Fernando de Oliveira, Paulo Emílio, Climério e Jorge Salomão, dentre muitos outros, muitos deles com livros publicados.

Há o caso de poetas consagrados que se deixaram levar nas asas leves da canção popular, seja colocando letra em música ou mesmo cedendo seus poemas para serem musicados: Carlos Drummond de Andrade, Affonso Romano de Sant’Anna, Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Ferreira Gullar.

AS GERAÇÕES DE LETRISTAS

A título de curiosidade citarei apenas alguns letristas que compõem as diversas gerações, sendo as mais recentes, as que atuam a partir da década de 1960. É claro que muitos letristas ficarão de fora, isto por vários fatores: esquecimento, a falta de conhecimento da obra de certos letristas etc. As datas do início do trabalho como letrista também não são exatas e sim aproximadas.

1ª Geração: (a partir de 1840)

Albuquerque Medeiros, Álvares de Azevedo, Araújo Porto-Alegre, Arthur de Azevedo, Bastos Tigre, Bernardo Guimarães, Casimiro de Abreu, Castro Alves, Catulo da Paixão Cearense, Francisco de Paula Brito, Gonçalves de Magalhães, Gonçalves Dias, Joaquim Manoel de Macedo, Laurindo Rabelo, Leopoldo Fróes, Machado de Assis, Melo Moraes Filho, Olavo Bilac, Pedro de Alcântara, Tomás Antonio Gonzaga e Vilela Tavares.

2ª Geração: (a partir de 1910/1930)

Álvaro Moreira, Antônio Maria, Dante Milano, David Nasser, Dora Vasconcelos, Elano de Paula, Goulart de Andrade, Grande Otelo, Guilherme de Brito, Guimarães Passos, Hermes Fontes, Jair Amorim, João de Barro, Joracy Camargo, Manuel Bandeira, Mário de Andrade, Mário Lago, Mauro de Almeida, Olegário Mariano, Orestes Barbosa, Osvaldo Santiago, Otávio de Morais, Otavio de Souza, Renê Bittencourt e Vinicius de Moraes.

3ª Geração: (a partir de 1960)

Afonso Romano de Santana, Augusto de Campos, Cacaso, Carlos Drumonnd de Andrade, Carlos Pena Filho, Chico Anísio, Clóvis Mello, Fernando Brant, Ferreira Gullar, Glauber Rocha, Gianfrancesco Guarnieri, Haroldo de Campos, Hermínio Bello de Carvalho, José Carlos Capinam, Lula Freire, Márcio Borges, Mário Telles, Nelson Motta, Nuno Veloso, Oduvaldo Viana Filho, Patativa do Assaré, Paulinho Tapajós, Paulo César Pinheiro, Paulo Gracindo Júnior, Paulo Sérgio Valle, Ronaldo Bastos, Ronaldo Bôscoli, Ronaldo Monteiro de Souza, Ruy Guerra, Vandenberg Dantas de Souza, Torquato Neto e Waly Salomão.

4ª Geração: (a partir de 1970)

Abel Silva, Acyr Marques, Alcino Correa (Ratinho), Aldir Blanc, Ana Maria Baiana, Ana Terra, Antonio Bivar, Antônio Cícero, Antônio Risério, Arthur de Oliveira, Cláudio Ribeiro, Climério, Délcio Carvalho, Duda Machado, Ezequiel Neves, Fausto Nilo, Geraldo Amaral, Geraldo Carneiro, Ildásio Tavares, Ivan Wrigg, João Carlos Pádua, Jorge Portugal, Jorge Salomão, José Jorge, José Miguel Wisnik, Luiz Cláudio Tolomei, Luiz Galvão, Marco Aurélio, Marília Trindade Barboza, Murilo Antunes, Nei Lopes, Olívia Hime, Paulo César Feital, Paulo Coelho, Paulo Emílio, Regina Werneck, Rogério Duarte, Salgado Maranhão, Sérgio Cabral, Sérgio Fonseca, Sergio Natureza, Tite de Lemos, Vitor Martins, Xico Chaves e Ziraldo.

5ª Geração: (a partir de 1980)

Alice Ruiz, Álvaro Maciel, Anamaria, Antônio Martins, Arnaldo Antunes, Bernardo Vilhena, Bráulio Tavares, Bruno Levinson, Carlos Caetano, Carlos Costa, Carlos Rennó, Cazuza, Célio Khouri, Celso Borges, Chacal, Charles, Chico Amaral, Chico Assis, Chico Pereira, Claufe Rodrigues, Costa Netto, Cristina Latini, Cristina Saraiva, Dudu Falcão, Dulce Quental, Edu Planchez, Ele Semog, Elisa Lucinda, Euclides Amaral, Fausto Fawcett, Fernando de Oliveira, Fernando Pires Alves, Flávio Nascimento, Francisco Bosco, Fred Góes, Guile Wisnik, Guilherme Godoy, João de Jesus Paes Loureiro, Kate Lyra, Kico Amaral, Ledusha, Luiz Alfredo Milleco, Luiz Carlos Góes, Luiz Carlos Máximo, Luiz Coronel, Lula Dimoraes, Manoel de Barros, Manu Lafer, Marcelo Dolabela, Marcelo Paes, Marceu Vieira, Marcio Paschoal, Marcos Sacramento, Mariana Blanc, Mário Lago Filho, Mauro Aguiar, Mauro Mendes, Mauro Santa Cecília, Mônica Tomasi, Patrícia Travassos, Paula Toller, Paulo Leminski, Pedro Landim, R. R. Juca, Rita Altério, Ronaldo Santos, Silvia Sangirardi, Tanussi Cardoso, Tavinho Paes e Zé Edu Camargo.


Certa vez, João Cabral de Mello Neto disse que Vinícius de Moraes tinha negado a poesia quando começou a fazer letra para música. João Cabral estava quadradamente enganado. Vinícius de Moraes apenas mudou de forma a sua poesia e não há como negar a contribuição dele para o nosso cancioneiro popular, assim como a de todos esses poetas que enfeitam a nossa música popular com seus versos e sendo assim, aprimoram-se também em uma escola tão rica em forma e conteúdo.

Para finalizar cito Augusto de Campos e um estudante japonês via-poundiana: “Independente de quaisquer tendências ou ismos, a poesia é uma família dispersa de náufragos bracejando no tempo e no espaço e consiste em essências e medulas”.

* Euclides Amaral é poeta e letrista
euclidesamaral@oi.com.br


O Rio de amores
por Rod Britto

Beleza, beleza. Sabe-se que o Rio de Janeiro atrai gente de todos os estados do país em busca do acontecimento, digamos assim, teatral na carreira dos aspirantes a qualquer que seja o tipo de arte. Clímax. Lugar-comum. Vontade sensível. E quem tem observação e escuta mais curiosas para com a galera que circula por aí percebe isso no ato. Desato: grupos de atores, pintores, escritores, dizem-se artistas em geral, indiscriminadamente, tantas coisas, outra Original, são dores, sabores, e queremos viver disso, não me pisa no pé, filho da puta, não me diz que eu não tenho mão pra isso, tamanha a inveja, você morre de amores. Tomara que consigamos se a coisa for de verdade mesmo e não só um a mais dos muitos caprichos e ciladas divertidas, que por filosofia, imposições por nós mesmos, que por ora, muito bem auxiliados por esta nossa cidade dos infernos, adotada, por sinal, morte no sinal, hoje em dia, a top das capitanias culturais de uma suposta barcarola os emergentes do Brasil pra se fazer horrores e sucesso, vai rolar novela, é?, na parada, bem na fita, até porque, matou-se aula, 7 ao mirante, caminhou-se no Leblon. Oleodutos, oleodutos; tubulações, simulações (Chavez, Chavez! então venham todos os hermanos pra cá no Brasil, emergências à parte; os que quiserem, nada de artesanato e Lapa, catarata em Caracas!). Mas o povo unido jamais será vencido. Também porque o povo unido jamais será vencido. O povo. Árduos trabalhos. Ordens superiores. Pois não. É pra entregar o texto no máximo no fim de semana, é, Seu Alex? Eu sou brasileiro, e não desisto nunca, e sou carioca, então não é o meu caso o que por desatenção ainda soe abuso deste escrito, ou danação mesmo, sem qualquer ressentir; por isso mesmo, não venham de revanchismos, por favor, poupem-me da crônica, eu não sou meu, eu não sou de ninguém, quem consegue esconder voto não. Faz-se arte, da melhor qualidade, com sinceridade, porra! Mudamos o país, Paris é aqui, o hotel são as ruas, os novos beats quem quiser, desde que em pulinhos, movimentos. Acontecimento teatral, vontade, clímax é tudo isto. Que não seja à toa, e nem desacreditemos o próximo, atenção nisso também. Vacilações por minuto. Que agora pra também cutucar, capricho, como de praxe: não seria aquele o seu caso, meu cavaleiro destemido Alex? Donde surgistes? Daqui mesmo, ou por um acaso, ou por uma escolha, medalha, exílio, anemia, sabe-se lá ou cá, vir prestar por aqui tão bons serviços de cultura pr’esta gente na casca do ovo? Hein? Não precisa responder, faça melhor do que isso apenas, pressão, moral, não se envaideça, se enfureça, você segue conosco, ah!, o Rio de Janeiro? uma beleça, uma beleça...

* Rod Britto é jornalista e editor gratoporlembrar@gmail.com



O Rio de Janeiro está pegando fogo!!!

Olá membros nervosos e leitores assíduos de pequenas publicações do Rio de Janeiro.

É com extrema alegria que o coletivo Centro Nervoso vem afirmar que este mês de julho será o grande pontapé de uma longa caminhada que nunca terá fim. Foram encontrados ao longo de pouco menos de um ano, muitas publicações impressas que circulam pelo Rio de Janeiro, mostrando um lado cultural que vem sendo ignorado pela grande mídia. Muitas dessas publicações são gratuitas e outras pagas. Algumas delas são trimestrais, como o caso da revista de Contos Bagatelas, ou bimestrais como o boletim João do Rio, outras ainda mensais como a publicação virtual Palavril.

A questão é quantas dessas publicações sobreviveram pelo menos um ano? Se depender do Centro Nervoso, todas elas. Há uma grande ferida nas publicações não corporativas que é a distribuição. Normalmente caras e com contratos não muito justos, para que a distribuidora não fique no lucro e as publicações ganhem muito pouco, ou até mesmo paguem para distribuir. O Centro Nervoso lança esse mês de Julho, no evento Filé de Peixe, seu centro de distribuição que irá coletar publicações e distribuir em diferentes eventos por toda a cidade do Rio de Janeiro. Para isso é preciso receber as publicações. Há duas formas, a primeira mais tradicional, é o encontro mensal que acontece todo primeiro domingo do mês na Associação de Moradores e Amigos de Laranjeiras, às 16h e a segunda é chegar a um dos eventos e deixar com a gente o seu material. Será um prazer distribuí-lo. Depois disso, precisamos de convites para participar de eventos e festas que regularmente acontecem pelo Rio de Janeiro.

Ai você me pergunta? Mas serve qualquer coisa? Sim! Serve! Entretanto teremos um limite de publicações a receber por mês, que ainda será definido. E distribuiremos CDS de bandas independentes também. Existem algumas exigências, mas garanto que são bem poucas, estas exigências serão em torno de construir um acervo para expor aos eventuais visitantes. Aceitaremos folders de divulgação de eventos que serão oferecido em troca de serviços. A este serviço não será cobrado.

Bom, garanto a todos os interessados, que melhor serviço não terá. Sabemos onde estamos e o que estamos oferecendo por isso, não criem expectativas, pois sabemos também que esta tarefa não será fácil e nem rápida. Garanto a todos, que ao contrário da corrupção e da luxúria que o governo brasileiro sempre teve, este serviço será bem simples e transparente à eventuais desconfianças que alguém gerar, mas aquele que exigir prestação de contas e for comprovado que nada havia, terá um preço a pagar e não estou apenas falando de dinheiro, pois sabemos muito bem que é preciso exigir respeito!

O Centro Nervoso agradece a leitura de todos os leitores assíduos de pequenas e médias publicações não-corporativas. Para qualquer dúvidas, entre em contato conosco através do e-mail 24h (sic): centronervoso@gmail.com . Ou procure nossa comunidade no Orkut: “Centro Nervoso” ou ainda o perfil “Centro Nervoso”.

Até a próxima!

Acesse a comunidade no orkut e se relacione com os participantes: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=7996152&refresh=1Qualquer dúvida, sugestão ou critica, pode ser enviada para http://br.f349.mail.yahoo.com/ym/Compose?To=centronervoso@gmail.com

* Vinicius Longo é poeta e palhaço vinicius.longo@gmail.com

Personagem - parte 3
por Aguinaldo Ramos

Raiz

Sabedor de seus valores,
minimamente ciente das estruturas do mundo,
ainda assim Personagem
não preenche de todo os vazios
da mente.
Acostumado às minúcias
sua sede não é mitigada pelo encontro
com as margens da fonte dos fatos.
Ali, o que desabrocha cria beleza:
é o mais puro destino dos fatos em flor.
As muitas trincheiras das coisas confusas
apenas protegem (ou sufocam)
o óbvio, ou o belo, ou o bom.
No alvo da mira, o amor.
Quem tem a postura correta
e o instrumento adequado
(ou, no inverso de tudo,
a paixão pelo alvo e a certeza na mira)
registra (ou já tem registrado)
sempre a presença
de algo mais belo
do que é líquido ver...

Gana

Completo,
não há quem seja.
Profunda ilusão...
Há quem tente ser o todo,
ser tudo para todos,
impor a pretendida perfeição
aos desavisados,
aos tímidos,
aos pequenos,
aos fracos
aos que não querem ser perfeitos...
Quem sabe de si põe na mesa
os melhores humores
e bebe à saúde.
Nas bochechas o sorriso
nos dentes o gosto
nos braços o embalo,
a fome de vida no ventre.
Se preciso, Personagem
conta com as pernas
(e a liberdade)
do povo.
Inteiro esteja o espírito!






Povo

Personagem está atrás da pátria...
Cresce sob estrelas aniquiladas
cercado de riquezas que não alcança
vendo ao longe verdes matas que se vão...
A pátria é decorativa,
até um tanto dramática.
Perdido no cenário
nem sabe ainda seu papel.
Balança firme a bandeira do futuro,
parece um gesto de adeus...
A pátria é um aglomerado de emoções:
um frio na barriga
um gol na decisão
uma notícia
que passa na televisão...
Aprende uma lição moral
(e cínica):
a pátria
está atrás
de Personagem...

Personagem é projeto de livro, com 80 fotos jornalísticas recontextualizadas e ressignificadas pelos textos, contando a trajetória de um “personagem”, que, de todos, pode ser qualquer um.

Veja algo mais de Personagem em: http://www.telemar.com.br/museu/expofoto/persona/personabox.html

* Aguinaldo Araújo Ramos foi repórter-fotográfico por quase 30 anos. Palpiteiro, sociólogo e mestrando em História Comparada, IFCS, tem feito alguns investimentos literários (finalista no Prêmio SESC de Literatura 2005) e está orgulhoso de publicar em Palavril.



CACHAÇA CINEMA CLUBE


PEÇO PERDÃO POR ESTA COURAÇA
O CINEMA É MINHA CACHAÇA
TRISTE TELA-SUBJETIVIDADE
VAGO EM BUSCA DE CERTA VERDADE

CARA MÁSCARA ELÁSTICA ASSANHADA
VIVES ENFIANDO NAQUELA QUEBRADA
O BONECO DE CARNE QUE TE SUSTENTA
VIVE-MORRE OU MATA OU ALIMENTA

E SEGURO-ME PELOS EXTREMOS
NESSE ÔNIBUS CAMBALEANTE
ONDE FALAM TÉDIOS SERENOS

POEMA NÃO SALVA UNIÃO ESTÁVEL
NOTÍCIA DO JORNAL DA ETERNIDADE
DIRETAMENTE PARA A TIA SAUDÁVEL

Felipe Cataldo


por um fio

um simples fio puxado
numa leve distração
e tzzzzzzzzzzzzzzzzzz
um rasgo rápido
percorre
a meia-calça inteira

o fio puxado me corre por dentro.

Beatriz Tavares

Dilema

Que se faz em hora triste
Quando a adversidade
Sem qualquer piedade
Te aponta em riste?
O que se faz com um dilema?
Eu faço um poema!
Sobre o insano
Ser humano
Ininteligível
Inatingível
Indecifrável...
Vai se entender
O lastimável
Mecanismo do ser...
Seus defeitos
Seus dias de horror
E ainda quando o assunto
Envolve o tal do Amor!
Vai se entender...
Que tantos procuram
Esta grande virtude
E o querem intenso
Puro e verdadeiro
Mas no entanto
Súbito e denso
No momento derradeiro
Quando o encontram
O rejeitam
E nem sequer suspeitam
Que pode ser o último
E o maior de todos eles!
Vai se entender o ser...
Vive por viver
Mata e não quer morrer
Não amo e nem quero
Mais nada espero
Dei pérolas à porcos
Fez-se a fila de mortos
E nada mais há
Que se querer!
Fez assim o ser humano
Inoportuno e profano
Meu coração endurecer...

Luísa Artèsa



Insônia
Vou gozar com meus dedos e desmaiar se puder,
me fazendo sorrir sonhos de desejos furtivos.
Repetição que esgarça meu erotismo, cansa meu afeto até te esquecer.
Anônimos com lábios sedosos hão de aparecer.
Sigo me querendo.
Dançarei "bem me quer, mal me quer" num rock'nd roll qualquer.
Velas...
Dias quentes
Lampiões em cor iluminando
sentidos.

Maristela Trindade

concita

A saudade de você
É saudade de morrer
morrer (2x)
é saudade
é vontade de te ver

Há Tantas tive
quanta saudade para chorar
quantas vidas a viver
quantos amores a perder
até encontrar você
fitar você
beijar você

A saudade de você
É saudade de morrer
morrer (2x)
é saudade
é vontade de te ver

Entre conchas e mariscos
irei te encontrar
entre beijos e abraços
há vida entre nós
há luz nas estrelas
há saudades
na saudade do teu beijar

A saudade de você
É saudade de morrer
morrer (2x)
é saudade
é vontade de te ver

Ao ver você
vi candura em teus olhos
vi amor em teu corpo
vi paixão em teus gestos
vi coragem em teu falar
antes que eu pudesse gostar
óh Deus, a essa mulher deixe-me amar

A saudade de você
É saudade de morrer
morrer (2x)
é saudade
é vontade de te ver
Heráclito Júlio


Poeta. O poeta.

Poeta se arrasta,
o poeta desliza;
a flor da coragem, impermeabiliza.

Poeta se empolga,
o poeta realiza;
a emoção da beleza, materializa.

Poeta só endeusa,
o poeta deusifica;
a incerteza da vida, ameniza.

Poeta só consome,
o poeta edifica;
o secular do mundo, eterniza.

Poeta, um sonho incerto,
o poeta, um coração aberto.

Roberto Armorizzi




Escrevo coisas simples
Coisas do dia a dia
Coisas que passaram e passam
Comigo e com vocês .
Escrevo com o olhar clínico
De analista urbano ,suburbano
Sofrendo pressões e repressões
(como vocês)
que o meio oferece .

As vezes cruel ,ameno, amoroso
As vezes sensual ,romântico, revoltado
As vezes caótico, safado, guerreiro
As vezes crítico, erótico, moleque, moralista.

Passo a vocês este mundo
O meu mundo...
Mundo de devaneios
Em que vivo e
Gosto.
Dalberto Gomes



Sussurrado pelo vento que sopra na esquina
por Felipe Esteves

Saudade, saudade. Lembro quando eu era um menino e você era uma menina. Brincávamos no rio, você tinha medo dos sapos. Eu não. Sempre os achei engraçados e sábios. Vez em quando chovia e não podíamos sair para brincar. Nos olhávamos pela janela, a chuva não deixava ver nada. Mas eu sabia que você pensava em mim, e eu pensava em você. Esperávamos pelo dia seguinte, pelas manhãs bonitas de sol e as poças d’água que você pulava sobre, e eu pulava em cima. Então você corria toda molhada atrás de mim e eu fugia, corria cada vez mais rápido, e torcia desesperadamente para que você me pegasse.
Lembro de quando comecei a me tornar um homem. Homem feito de sonho. E você era uma quase-mulher linda, com suas pernas ainda finas demais, mas já no tamanho certo. Você sempre foi assim; madura e ingênua ao mesmo tempo. Sempre soube quando fazer e quando parar, exceto quando não sabia.
Lembro do dia em que lhe beijei pela primeira vez. Melhor, que você me beijou. Você viu minha boca machucada, meus olhos assustados e entregues, e entendeu tudo. Porque levei aquele tapa antes? Não me lembro mais, foi uma de nossas tantas bobeiras. Riso frouxo que vem fácil e qualquer brisa leva embora.
Hoje você não está comigo. Ontem também não esteve. Já faz algum tempo, nada foi como antes. Hoje em dia, eu sou só um menino e você é só uma menina. Sós.




O ESCRITOR

Por Adenor Nunes

- Eu sou escritor.
- Como?
- Escritor
- Eu nunca ouvi falar dessa profissão.
- Não?
- Não! Tem aqui no Brasil?
- Pelo menos, por enquanto.
- Legal. O que os escritores fazem?
- Escrevem.
- Ah, mas eu também faço isso e não sou escritora.
- É uma pena! Como essa sua perspicácia você seria uma grande escritora.
- Você acha?
- Claro, venderia até mais livros do que eu.
- Eu jamais conseguiria viver disso.
- Quase nenhum escritor consegue.
- Agora eu fiquei confusa.
- Eles possuem outras profissões. São professores, jornalistas.
- Açougueiros?
- Possivelmente.
- Ah, tá. E sobre o que escrevem?
- Qualquer coisa.
- Como assim qualquer coisa?
- Não há limites para a imaginação.
- Não estou entendendo mesmo
- Por exemplo, um escritor poderia contar a história de um rapaz que se transforma em uma barata. Já ouviu falar em Kafka?
- Quem?
- Ah, esquece. Já é covardia.
- Então, um escritor poderia escrever sobre tudo?
- Exatamente- Inclusive essa conversa?
- Bem, acho difícil. Ninguém teria imaginação pra fazer uma personagem tão complexa quanto você.
- Mas se você estivesse escrevendo essa história?
- Estaríamos os dois completamente pelados em uma cama.
- Mas estamos pelados em uma cama!
- Meu Deus, não pode ser!
- Por que?
- Porque escrevo histórias de humor
- E?
- E os humoristas são terríveis
- Você está me assustando.
- Então é melhor você continuar embaixo do lençol, pra que eu também não fique assustado. Acabo de olhar no chão uma cueca escrita “Steffany”.

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