Um tal de r minúsculo
por Renato Touzpin


O r estava lá, minúsculo, perdido entre as reticências...
Até que uma adorável menina resolveu percebê-lo. Olhou-o perdido e, perdida de amores por ele, passou a escrevê-lo da maneira que bem quis e após horas de aulas de ortografia, sexologia e monografia, entre pontos e vírgulas, perdidos encontros se esbarravam numa enorme interrogação vazia à espera de sua chance de questionar. Perplexas, as ranzinzas tremas ficaram passadas ao verem os dois pontos dando espaço para o travessão dialogar sem parar como um tagarela e matraqueiro papagaio. E mesquinhavam algo do tipo: - “lá se vão aqueles negritos lá. Os dois ridículos e falsos pontinhos dando trela praquele cachaceiro e magrelo travessão filho da pauta que, falando besteiras pelos pêlos e cotovelos, segue bem a frente dos dois, ambos os três cambaleando página abaixo...” Ahh, tremas sem conceito, querem saber?? Vocês já eram. Ficaram pra trás. Chega de furados papos. Vamos tirar logo os pingos dos ís. Parágrafos pedem que mudemos de assunto, mas o contexto que realmente me importa é procurar descobrir que raios de garota é essa que apareceu do nada no meu texto e que cisma em me rabiscar, me borrar de tinta, de nanquim, para, depois, me apagar com “liquid-paper”. O que fazer se sou assim, feito de pedra, de barro mole, de quinhão...
Agitadas, as esclamações imploram que eu vá depressa, além das barras sobrescritas nas nuvens entre parênteses, fazer o que for melhor pra minha saúde mental, espiritual e emocional, ou seja, me aconselharam a encontrá-la e, após recitar um versinho apaixonado de amor, agarrá-la e beijá-la muito. Meu coração, agudo com tantos hífens de safena, volta a bater sereno e se acomoda entre minhas próprias aspas, falando dela pra mim. Sempre dela. Que estranho... Quem será essa garota que tanto é citada em meu coração?? Aliás, quem ela acha que é?? O que será que está havendo com o coração dela?? É mole?? Que garota mais inconveniente e intrometida. Quem ela acha que é para, sem guarida, invadir assim meu seio e bem no meio de meu coração, cravar uma flecha e abrir uma brecha por onde, esguichando, vaza sempre e sem parar e a cada pulso, o seu nome soletrado e silabado, escorrendo e percorrendo, vermelho e preto, por minhas artérias, dando-me vida?? Quem ela acha que é??