PALAVRIL EM VERSOS DE MoLA

Agora em novembro acontece no Circo Voador, em todas as quintas-feiras do mês, a 2ª Mostra Livre de Arte - MoLA.
Trata-se de um evento que, embora recente, já pode ser considerado um dos principais acontecimentos artísticos e culturais do ano aqui no Rio.
A MoLA foi criada/pensada pela segunda geração de produtores do Circo para juntar, numa mesma noite, diferentes formas de expressão artística.
A Revista Palavril, afinada com esses princípios, e certa de que fazer poesia é também, numa certa instância, trabalhar por ela, gerando sempre e cada vez mais novas possibilidades de interação, difusão e expansão da arte, entrou com um projeto para coordenar, em um dos dias da MoLA, as atividades artísticas no lounge externo do Circo Voador.
Faremos no dia 30 de novembro, no último dia do evento, um grande sarau artístico na caixa-preta, intitulado Palavril em Versos de MoLA.

Será uma noite com videopoesia, recital, performances, música, artes plásticas, exposições, instalações, lançamento de livros, mostra fotográfica, e mais algumas surpresas que estão sendo preparadas.
Ao lado, a galera que entre umas e outras trabalha para realização da nossa festa no dia 30.


Abaixo toda programação da Palavril em Versos de MoLA.
Não perca!!
Até lá!!

- Seleção Palavril de Videopoesias

- 1ª Mostra Fotográfica Palavril com: Aguinaldo Ramos, Alex Topini, Carlo De Luca, Fernanda Antoun, João Francisco Mariano, Julio Ferretti, Marcela Antunes, Paula Faraco, Samitri Bará, Tainá Del Negri e Tanda Melo

- Mostra Poética de Rua – Coleção Brasil Barreto

-
Lançamentos de Livros:

“Em cada esquina” de Bruno Borja
“Que se” de Rod Britto
“Lugar-Comum (Um pouco abaixo do nada)” de Julia Pastore
“O beija-flor e a rosa azul” de Bruno Feijó
“Navalhas voadoras para cortar a tarde” de Márcio Carvalho


- Intervenção Sonora: Banda Mysticow

- Contos Mínimos por Guilherme Tolomei e Victória Saramago

- Instalação:

Encaixar por Tainá Barros
Desenrolando os Fatos (os mais enrolados carretéis) por AnaKlaus
“A flô” por Júlio Ferretti
João – Um Planejamento de Vida por AnaKlaus
Mulher em Vermelho por Bárbara de Lira
Projeto Ar Duo: Vida ao Leo por Fernanda Antoun e Alex Topini
Em Contos por Nara Trindade
Canção para o Desvanecer por Thaís Simões



- Performances:

Residência em Versos de Mola – Grupo 13 numa Noite
SabaSauers em Movimento InVerso
Exercícios do Olhar por Tanussi Cardoso
Naquela Mesa em O Poeta e o Violão
A República dos Poetas por Ricardo Ruiz
Desconcertos por Bayard Tonelli
Água na Boca com a Dupla do Prazer Cairo e Denizis Trindade
Funk Progressivo com Felipe Cataldo e Cia dos 22
Filé de Rato Frito à Mola da Casa com os Ratos DiVersos
The Mummy com Tavinho Paes
Poesia Mix por Marcelo Girard
Irrealidades – Grupo Os Obtusos
Conversa com Verso por Dalberto Gomes
Batendo Baixinho com Bárbara Boneca
Pão, tesão sem analgésico por Joana Barros

Informações:

30/11 - à partir das 18h
Circo Voador
Entrada Gratuita até as 20:30h - mediante cadastro na bilheteria ou no site:
www.circovoador.com.br
Depois disso, R$ 10,00 estudante, R$ 20,00 inteira

REVISTA PALAVRIL - 8ª Edição


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* Para acompanhar o lançamento dos próximos números da Palavril, envie um email para: palavril@gmail.com

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REVISTA PALAVRIL

Com o intuito de promover um espaço voltado para poesias, contos, crônicas e fotografias, reservando também interesse em eventuais trabalhos nas áreas de artes plásticas, quadrinho, charge e música, foi criada em março de 2006 a Revista Palavril.
A idéia principal é que, através de uma rede solidária e orgânica, articulada por seus colaboradores e participantes, se crie e recrie permanentemente um meio de visibilidade para novos artistas - empreendendo como novo o exercício de novas linguagens, alternativas e estratégias para a viabilidade e promoção do que atual e contemporâneo.
Neste sentido, a Revista Palavril tem operado na aglutinação de artistas independentes, mapeando a cena cultural que ocorre nos subterrâneos da nossa cidade, colaborando para uma maior aproximação de artistas e linguagens, movimentos e núcleos que, ainda muitas vezes, atuam de forma isolada.
Trata-se de promover, de forma ampla e plural, sobretudo a criação, mas também o pensamento, a reflexão sobre literatura e o cenário artístico atual, mediando o espaço para uma geração que quer fazer e reconhecer seus pares e seu público, com várias vozes e sotaques ecoando nesse propósito.
Ainda que ciente de que literatura não se faz com números, e que em instância alguma a idéia de quantidade deve ser tomada como sinônimo de qualidade, é de se mencionar o fato de que, em oito meses de atividade, a Revista Palavril publicou mais de 130 poesias de mais de cinqüenta poetas. Foram 12 ensaios fotográficos de dez fotógrafos distintos. Foram publicados ainda mais de 50 trabalhos dentre contos, crônicas e prosas, de mais de vinte autores. Além de artigos, ensaios, matérias sobre novas mídias e tecnologias, meio-ambiente, cinema e música.
Assim, a Revista Palavril se molda como um campo para a prática da criação, experimentação e amostragem de parte da produção atual de novos artistas, incentivando e respeitando a diversidade de dicções e motivações em torno do ato criador.De forma panorâmica, e muitas vezes conjugando dissonâncias estéticas, contrastes de linguagem e divergentes princípios ideológicos, a Revista Palavril, a cada nova edição, quer mesmo é por em evidência e circulação idéias, autores e artistas no geral, crédula de residir neste gesto a força de seu papel, a sua real contribuição rente a tudo e tantas iniciativas manifestas no cenário artístico e cultural atual.





PARADOXO

O infinito
reclina e adormece
na solidão dos enigmas.
As manias gregas
O mármore das imagens.
Mitos e estátuas
que desafiam o vazio
e o abstrato.
Verdades, dúvidas de ninguém.

Almandrade



BAD TRIP

Neuroses múltiplas
Profunda introspecção
Vergonha retroativa
E a cabeça trava!
A cabeça gira!
A cabeça pára!

Ah! Que nada...

Egocentrismo convicto
Cínico interesse
Angústia cativa
E a cabeça fala!
A cabeça grita!
A cabeça cala!

Ah! Que nada...

Tensa ansiedade
Vontades reprimidas
Loucura incontida
E a cabeça vaza!
A cabeça pira!
A cabeça...

E a cabeça...
VALA!

Bruno Borja
LABIRINTO

Preso a meu corpo preso a meu peso
Preso a meu porto – meu endereço

Preso a meu nome preso ao presente
A meu telefone – meu desespero

Preso a meu ego preso a meu preço
Ao que carrego e ao que careço

Preso aos pesares preso aos prazeres
Preso ao prosaico a pressões preconceitos

Preso a prazos horários agenda
Conta bancária – quanta corrente

Preso a números e documentos
Preso ao desprezo que sinto por eles

Detento de tantos, exilado em mim mesmo
Sou refém e carcereiro

Tenho as chaves e as algemas
E entre grades que eu invento

Me liberto
No poema

Cairo Trindade




Reaalidaades dee laa meente: Corazón azul

Mi luz no es animal del Cielo
La brisa virgen es la espada que me olvida y llora
Amor instantes que en el mar me entierro
Porque luchar no debo
Porque morir es poco
Rezar para merecer el precio
Amar para vivirlo todo
Imaginar que siempre habrá un comienzo
Así por decisión dormir con todas mis cosas relativas
Mi esposa mi perro mi cetro y mi montaña…

Salomón Valderrama Cruz (Perú)


Onipresença

No vale da sombra da morte
Espero a ajuda de Deus
Batuco e convoco os seus
Na espera de alguma ajuda
Que não seja fuga
Pois essa já sei que não dá certo
Não sei se Deus está por perto
Mas dizem que está em todo lugar
Da gota dágua
As células do ar
Busco Deus no teu olhar
E me ponho a imaginar
O dia em que pegarei tua mão
E contigo irei
Até onde a vida nos deixar

Diego Tribuzy




BLASFÊMIA

Conjeturo o infinito,
Vejo o abandono terrível em que vivo.
Para mim, nada importa das vidas dadas;
nada importa isso, absoluto.
Já deveria ter morrido, está bem certo isso em mim,
o que advém nada mais é.
Sussurro palavras mal colocadas
e não se perceba o que digo;
Ou soarem como exagero.
Só me falta Deus apontar-me o dedo e gritar: “covarde!
Vá , cordeiro de rebanho”;
Grito: Ensinai-me, pois, caminho.
Ele me mostra o Seu livro.
Vocifero minha boca - chama,
Ele Se defende com os braços gigantes.
Manda-me enfim à dor eterna;
eu regozijo.

Elaine Pauvolid



Peculiaridades
por Rachel Souza


-Vou ao salão!Anunciou ao vazio a liberada e jovem senhora.
Eram 10:00 da manhã, ainda não tinha feito seu desjejum, não estava com fome, embora não tivesse ingerido nada sólido desde o dia anterior, só líquidos e, dos mais caros.
Estava plenamente saciada. -Sou mais eu! Repetia internamente com a força de um mantra.Saiu do banheiro, o seu banheiro, mas precisamente da frente do espelho, o seu espelho, com ar de "já ganhei”, deu o último jato de perfume em seu corpo devidamente malhado e lipoaspirado com a certeza de que alguém o sentiria, alguém que ela ainda não conhecia, mas isso não importava.
-Só ontem foram três... Contabiliza por um instante.
Esmagadora!Era o adjetivo que algum lhe atribuira.E realmente era, passava por cima de tudo com a certeza de que sairia inteira.Checou as luzes desligadas, verificou a secretária eletrônica, Seis recados novos...
-Olho quando voltar...Desdenhou.

Fechou a porta e seguiu até o salão.
-Oi, querida!Quero uma nova cor!Diz, imperativa à cabeleireira.
-Claro perua, você manda! Vai querer o quê?Amarelo caju?Castanho imperial?Mel da Coréia?Já vou dizendo que são tintas exclusivas, separei pra você!
-Não sei ainda, o que sugere pra mim?Só queria mudar o tom, já estou há 2 meses com o preto-da-china-semi-fúcsia!! Não agüento mais,
Meu Deus!
-Ih, sente aí que vou dar um jeito na sua vida agoraaa!Vibra a cabeleireira, que ainda não almoçou, mas age como se o tivesse.
-Acho bom mesmo, afinal de contas sou uma mulher mutante meu amorrrrr!

Iniciam então a operação e um interminável e animado colóquio, falam de tudo e de nada, do novo namorado da nova estrela da nova geração, do preço das coisas, da violência, dos homens...
Fica evidente, nas entrelinhas, toda carência portada por tão emancipada dama. É quase matemático, quanto mais fala mais acredita. É exatamente disso que ela precisa, falar, falar, falar, até acreditar no que diz.Acreditar que não precisa de ninguém, que sabe o que quer, que tem o controle da situação nas lindas mãos, feitas duas vezes por semana.Tintas, escovas, secadores, conselhos e palavras de auto-afirmação espalhadas entre um cafezinho e outro.Tudo, tudo, tudo!! Passou a tarde naquilo, ficou linda! Pagou, beijou e abraçou meia-dúzia e prometeu voltar pra retocar a raiz na semana seguinte.Saiu ainda mais confiante do que quando entrou, no caminho de casa viu um vestido na vitrine, comprou! Arrumou-se deslumbrante pra alguém, ligou a TV, passava um filme inédito, assistiu até dormir, sozinha, no sofá...




EDITORA MULTIFOCO
por Paula C. Grassini


Democratizar o acesso à produção editorial, este é o mote da Editora Multifoco, que abriu as portas em junho deste ano e está em busca de autores. Mais do que isso, a Multifoco é especializada na publicação de autores inéditos e, diferente da maior parte das pequenas editoras, arca com todos os custos de editoração, revisão, impressão, lançamento, divulgação e distribuição dos seus lançamentos.

_ A idéia fundamental é democratizar o acesso à produção editorial de qualidade. Desvincular o autor da obrigatoriedade de conseguir ou ter capital para investir em sua obra. Para isso, utilizamos novas tecnologias e, principalmente, encaramos a forma de produzir e gerir o negócio editorial de uma forma bem diferente, afirma o diretor da editora, Leonardo Simmer, que adianta: “temos cinco livros no prelo e faremos ao menos um lançamento por mês até o fim de 2007”.

Lançamentos que também oferecem um novo conceito. No lugar das tradicionais tardes de autógrafo, verdadeiras festas que variam de acordo com o autor lançado. Apesar de diferentes entre si, os lançamentos são fiéis à filosofia da editora de fazer com que a obra lançada dialogue com outras formas de arte como o teatro, a música, o cinema e a fotografia.


O último dos eventos multiartísticos da editora reuniu cerca de 150 pessoas em plena segunda-feira, na Lapa, para o lançamento do livro Em cada esquina, de Bruno Borja. A noite contou também com exposição de fotos "Vida ao Leo", de Fernanda Antoun e Alex Topini com a exibição de dois curtas: "Bom Senso" de Felipe Cataldo e "No Vale da Sombra e da Morte Espero a Ajuda de Deus" de Diego Tribuzy; e show do grupo "Naquela Mesa" que contou com a participação especial de Clarice Magalhães. O ponto alto da noite, porém, foi o pequeno recital apresentado pelo autor. Durante o show, Borja fez intervenções apresentando alguns de seus poemas e também trazendo à cena nomes como Vinicius de Moraes e Manuel Bandeira.

- O mais legal desse tipo de evento é que uma coisa abre espaço pra outra. Por exemplo: o lançamento de um livro proporciona à exposição fotográfica um público que ela não teria de outra forma. Por outro lado, ela também atrai um público diferente para o lançamento. Isto sem falar no intercâmbio que acontece entre os autores de diferentes mídias que se encontram e trocam experiências, explica Simmer.



Quem se interessar em saber mais sobre a forma de trabalho e também sobre os lançamentos da editora, pode visitar o site http://www.editoramultifoco.com.br/ . Além de releases e artigos, o visitante poderá assistir a vídeos dos autores já lançados falando de seus livros, da relação que mantém com a literatura, entre outras curiosidades.

- Embora no momento não tenhamos estrutura para atender toda a demanda existente, a intenção é publicar todos os autores comprometidos seriamente com sua obra e que se encaixem na linha editorial proposta, que abrange contos, poesias, livros didáticos, fotografia e grandes reportagens.

Os autores interessados em publicar sua obra poderão entrar em contato através do site ou do e-mail contato@editoramultifoco.com.br.

Editora Multifoco
Avenida Edson Passos 934, Alto da Boa Vista
Rio de Janeiro/RJ - CEP. 20531-070
Telefone - 21 3234-0888


Crítico: o super homem da arte
Por Marcos Fiuza


Percebo que, nos dias de hoje, muitas pessoas estão se auto-intitulando críticos de arte. Acho interessante pensarmos o que viria a ser este ente supremo detentor de profundos conhecimentos, capaz de opinar e julgar qualquer tipo de manifestação artística.
Acredito ser a arte, um dos campos do saber mais complexos que existem, pois encontramos refletidos neste segmento uma infinita gama de saberes que extrapolam suas fronteiras, ou melhor, não extrapolam, pois não há fronteiras. Conceitos filosóficos, sociológicos, psicológicos, entre outros se unem para tentar trazer, à luz da interpretação, análises palpáveis e, muitas vezes, inatingíveis para nós. Dessa forma, como imaginar um ser humano capaz de, aos moldes do “homem renascentista”, dar conta de toda e qualquer representação artística? Penso que, por mais que possa parecer incompleto, acredito ser a “divisão de tarefas” o caminho mais propício a se traçar, de modo que consigamos chegar o mais próximo possível de um trabalho que realmente faça uma análise sólida de uma obra. É, sem dúvida, importante atentar para o fato de que por mais que tenhamos bons trabalhos em torno de uma composição artística, nunca conseguiremos esgota-la, pois ao trabalharmos com o objeto literário, trabalhamos com o “abstrato” e com a subjetividade em último grau.
Complementando estas considerações e tentando não ser mal interpretado, gostaria de deixar claro que, não acredito em um, como disse anteriormente, “super” crítico e realmente penso que os diversos “compartimentos” artísticos devem, sim, ter uma atenção particularizada por parte da crítica. Porém, é mais que fundamental ressaltar que, por mais que um crítico seja especialista em um determinado segmento, como por exemplo a literatura, não deve jamais, e eu disse JAMAIS, ater-se a estudar apenas ele como ser supremo e indelével. O crítico deve buscar conhecer e estudar a maior gama possível de vertentes artísticas, de modo que possa obter uma maior bagagem cultural. Isto é fundamental para uma boa análise do elemento artístico, já que, como foi dito, a obra de arte é ilimitada e composta por campos do saber diversos. Assim, fico aqui com estas palavras, e convido todos a pensar e levantar questões sobre a arte de maneira geral. Sei que esta coluna (LITERATUDO) dedica-se a trazer questões que giram em torno da literura, mas abrir este parêntese sobre a arte de maneira geral, acredito ser de grande relevância.

* Marcos Fiuza - Poeta, professor e pós-graduando em Literatura portuguesa e literaturas africanas de língua portuguesa - UFRJ mvfiuza@yahoo.com.br




ESTRELA EM JOGO DE PALAVRAS

pela morte de meu nome
dou-lhe a fadiga das letras

pelo porte da distância que se faz
do dedo à estrela
faço-lhe o brilho
que talvez reste da memória

pelo espelho oculto em manto negro
diante do relâmpago
lembro da pele da água
que não se alista
no temor

se me fugiu pela memória
o nome da estrela
pode ser por perda de letras
no corpo da água
ou por temor de relâmpagos
que me apagaram do espelho

Carlos de Hollanda



Estribeira

Nunca estou
Desamparado
Sofro o vento
Sopro de sei lá o quê
Às vezes dói um beijo.

Se pá estamos
Nus
Despedindo
Desprendendo
caindo
Nem é sexo.

Renato Limão



Anjos, acordem!
Parem de voar alegremente
só porque não sentem,
e à ela dêem as mãos.
Ela está Maio desesperada
Maio apaixonada
como se fosse carnaval.
Deixou o coração no caminho,
batendo sozinho na terra poeira!
Anjos, me ouçam discretos,
seu sexo sutura mentira
paixão.
A alma deixou no banheiro
sem pasta de dente, ou toalha de mão.
Leva na bolsa a loucura
se contorce, flutua
rasgou coração!
Anjos, acordem
que ela está linda, largada, felina
sangrando ilusão!
Ela!
Ela tem uma asa quebrada

Maristela Trindade



Sopor
Participan
en grumos
hormigas
ínfimas
en mi sangre:

sueño
o
muero
Rolando Revagliatti (Argentina)



NOVELA DAS OITOS

Vinte horas
Um clarão de néon no céu
Das salas do Brasil
Rostos lívidos ,ávidos atenciosos
Níveos olhos se arregalam ao suspense
Bocas inúmeras sugam beijos sedutores
Em noite dos trópicos
Pessoas se transportam na hora do jantar
Assumem personalidades impostas
N o período de uma hora
O pasto é posto defronte a mesa
Introduzem em mundos distintos
Paixões ,intrigas, desejos, amores, cobiças,
Fantasia ,consumo e violência.
Até que o plim-plim da Globo
Interrompa o colóquio cotidiano
Levando cenas da vida
Para a real dos próximos capítulos.

Dalberto Gomes




REDE RECORD

80% PROVÉM DA GLOBO
10% É PRO DÍZIMO
E O RESTO É FIGURANTE

Felipe Cataldo
(dedicado a Daniel Down-Jones)




Ex-namorada
por Cassiano do Amaral

-Que camisa amarela é essa, Carlos Roberto?
-Bom... eu... é...
-Não gagueja! Você sempre gagueja quando tenta mentir! Foi você que comprou essa camisa? Quantas vezes eu vou precisar repetir que você fica péssimo de amarelo?!
-Mas eu não comprei. Eu ganhei.
-Como assim “ganhou”? Eu nunca te vi com essa camisa. Aliás, até onde eu sei você não costuma ganhar presentes de ninguém...
-É que faz tempo que eu não uso... mas se você quiser eu posso tirar...
-Não adianta tentar me enrolar, Carlos Roberto, quem te deu essa camisa? Você tem uma amante? É isso? Você tem uma amante?
-Eu...
-Desembucha antes que eu pegue as minhas coisas e suma por aquela porta!
-Eu ganhei da minha ex-namorada, pronto, tá satisfeita?
-Não acredito que você ainda fica usando presentinho que recebeu daquela vigarista!
-Mas o que é que tem, meu amor? É só uma camisa... Se você quiser eu tiro, ou melhor, jogo fora. Pronto, vou jogar fora e não se fala mais nisso.
-Não adianta, se você ainda usa os presentes que ela te dava é porque você ainda ama essa mulher...
-Não seja injusta...
-Tá vendo, se você me amasse de verdade você negaria até a morte que ainda gosta dela!
-Tudo bem, eu nego até a morte, eu não gosto mais dela! Eu amo você!
-Mentira! Você só está dizendo isso porque eu pedi! Na verdade, você não consegue esquecer essa maldita ex-namorada!
-Pára com isso, meu amor, deixa de ser ciumenta... eu nem tenho certeza se foi realmente ela quem me deu essa camisa...
-Você deve ter tido tantas mulheres que nem se lembra, né, seu safado? Aposto que deve guardar todas as cartinhas, bilhetilhos, presentinhos... provavelmente misturados com os presentes que eu te dou... não sei como pude me enganar por tanto tempo!
-Eu nunca te enganei, nunca!
-Tá vendo como eu tenho razão! Você nunca me enganou, mas também nunca me disse que era um cafajeste! Já nem duvido até que seja um pervertido sexual! Aposto que quando vai pra cama comigo ainda pensa nela...
-Você só pode estar enlouquecendo... eu só penso em você, meu amor, só em você...
-Como pode mentir com a cara mais deslavada... Pára com isso... olha, que tal a gente assistir uma peça hoje a noite? Depois eu prometo que te levo naquele restaurante que você adora!
-Peça? Você sabe que eu detesto teatro! Aposto que a outra devia te acompanhar em todos esses programinhas chatos que você inventa...
-Tudo bem, eu deixo você escolher o programa! Mas desde que você faça as pazes comigo, combinado?
-Você tá achando que eu me vendo assim barato? Eu sou uma mulher de valores!
-Eu nunca duvidei disso, meu amor... mas, qual o seu valor, quer dizer, o que eu posso fazer para que você faça as pazes comigo?
-Deixa eu pensar... eu quero que você me conte todos os presentes que você já recebeu de ex-namoradas.
-Essa não vale, tem que ser outra coisa!
-Por que tem que ser outra coisa? Eu quero que você me conte tudo que já recebeu de ex-namoradas! Quero também que me diga o nome de cada uma delas e a data em que cada uma te deu o presente.
-Tem certeza que você quer ouvir isso?
-Tenho!
-Depois não diz que eu não avisei, posso começar?
-Pode não, deve. Chega de fazer papel de palhaça! Quero que você comece da última ex-namorada até a primeira.
-Tudo bem então. Lembra daquela gravata de seda italiana e daquelas abotoaduras?
-Como você pôde se confundir? Fui eu quem te deu a gravata de seda e as abotoaduras quando completamos dois anos de namoro!
-Então, você não pediu que eu começasse pela última ex-namorada? Resolvi começar pela atual...



A Poética Nordestina de Ascenso Ferreira - Parte final
Por Gilfrancisco

Ascenso Carneiro Gonçalves Ferreira é uma erupção direta do Nordeste, no Modernismo brasileiro. Seus poemas são verdadeiras rapsódias nordestinas, onde se espalha fielmente a alma ora brincalhona, ora pungentemente, no dizer do amigo, Manuel Bandeira. São poemas, são fala e canto, cuja unidade das composições proclamam a autenticidade de que também é feita a Poesia.
O poeta pernambucano se chamava, na verdade, Aníbal Torres. órfão do pai aos 6 anos, morto num trágico acidente, vitimado por uma queda do cavalo quando participava das festividades da cavalhada, teve em sua mãe, uma professora primária abolicionista, sua primeira mestra. Aos 13 já trabalhava no comércio na loja do padrinho, onde teve contato com viajantes e suas estórias, muito de sua infância estão em memoráveis poetas como em “Minha Escola”. Levado por um tio senador, vai para o Recife, onde se torna escriturário do Tesouro do Estado, em 1919.
O sentimento poético desabrocha nessa época, quando inicia a compor sonetos, baladas e madrigais, na pior tradição parnasiana, que reuniu em um pequeno livro “Eu Voltarei ao Sol da Primavera”, republicado em 1985 pelo governo do Estado de Pernambuco. Mas influenciado pelo espírito materialista do fim do século XIX, foram marcantes na sua formação. Daí ter idealizado escrever um poema cujo tema era uma nova revolta de anjos, para destronamento de Jeová.
Referindo-se a sua crença religiosa, quando argüido no “Testamento de uma Geração” de Edgard Cavalheiro, 1944, diz o seguinte: “Para ser sincero, devo confessar que ora acredito ora desacredito, o que não me priva de possui um grande sentimento de admiração por toda fé sincera e desinteressada. Acredito num mundo melhor, que virá fatalmente após este sacrifício tremendo em que se debate a civilização em luta contra a tirania, pois a árvore da liberdade sempre floresceu regada por sangue e lágrima. A verdade tem sido uma norma inquebrantável que aos meus destinos tracei”.
Em 1917, com apenas 22 anos de idade, numa atitude radical, o poeta inexplicavelmente resolve mudar o nome de registro para Ascenso Carneiro Gonçalves Ferreira. Ascenso era o nome do avô materno e Ferreira reverencia o sobrenome da mãe. Em 1928 Ascenso trava um conhecimento pessoal com o autor da Paulicéia Desvairada e no ano seguinte se aproxima de vários intelectuais paulistas, como Cassiano Ricardo, Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia, Anita Malfatti e Afonso Arinos.
Em 1945, Ascenso abandona a mulher, Stella, com quem se casaria em 1921, para viver em companhia de uma adolescente, Maria de Lourdes Medeiros, abrindo um novo divisor de águas em sua vida. Em 1951, o poeta fez sua quarta viagem ao Sudeste para o lançamento de seus poemas. Quatro anos depois quando participa ativamente da campanha de Juscelino Kubitschek para a presidência da República, a dupla identidade de Ascenso Ferreira já está inteiramente à mostra. Apesar da experiência modernista e de toda a consagração que mereceu, ele ainda é visto, essencialmente, como um poeta folclórico, pecha preconceituosa de que jamais se livrará.
Sua estréia no Rio de Janeiro, merece de Medeiros e Albuquerque, do Jornal do Comércio, uma crítica feroz em que destruía o “Catimbó”. Em contra partida, o livro mereceu de João Ribeiro, Manuel Bandeira, Nestor Vitor, Peregrino Junior, José Vieira, Álvaro Moreira, Carlos Dias Fernandes e Tristão de Athaide, louvores sem restrições. Dez anos depois, Ascenso Ferreira volta ao Rio e São Paulo levando seu novo livro Cana Caiana, onde o ambiente foi o mesmo acolhedor de outrora.
Catimbó, significa feitiço, coisa-feita, muamba, canjerê e também o conjunto de regras e cerimônias a que se obedece durante a feitura do encanto. Foi com este título, “Catimbó” que Ascenso Ferreira, torna-se um dos poetas mais expressivos no movimento modernista no nordeste. Mário de Andrade, escrevendo ao Diário Nacional, de 1927, a respeito do lançamento do livro Catimbó reconhecia que “só mesmo Ascenso Ferreira com este Catimbó trouxe pro modernismo uma originalidade real, um ritmo verdadeiramente novo”. “Catimbó é um poema do norte que aderiu à estética paulista e aderiu com vigor próprio e originalidade, buscando as fontes tradicionais do nosso povo”. Assim começa o pequeno artigo de João Ribeiro, publicado no Jornal do Brasil, em 11 de janeiro de 1928.
Catimbó e Cana Caiana, são duas obras importantes de primorosa poesia, e que ganhariam muito em ser gravadas pelo próprio autor, por quanto muitos de seus ritmos escapam aos ouvidos sulinos. É bem verdade que desde 1922, escrevia poemas de acentuada vinculação com o folclore. Ascenso canta com saudade o mundo que morre nos engenhos, substituído pela algidez da usina moderna. A lembrança da meninice junta-se ao sensualismo do branco senhor em relação às mulatas e ao senso de humor que surpreende no povo. Em tudo isso, perpassa o orgulho de nascer e viver na região nordestina, que haveria de prevalecer sobre as influências dos modernistas e remeter o poeta ao regionalismo do grupo pernambucano.
Com técnica erudita se alia a perfeita compreensão dos ritmos populares, ao humor do homem vivido e maduro se junta a ingenuidade e o sentimentalismo do caboclo, tudo numa conjunção espontânea de homogeneidade bem característica desse Brasil que se funde numa harmonia de regionalismo a completarem e enriquecerem alguns denominadores comuns extremamente sólidos. Rica por sua musicalidade, fortalecida pela liberdade de versificação, sem recuar a rima; rítmica como a linguagem do povo, sua obra...... Ou como diria Manuel Bandeira: “quem não ouviu Ascenso dizer, cantar, declamar, rezar, cuspir, dançar, arrotar os seus poemas não pode fazer idéia das virtualidades verbais neles contidas”.


Maracatu

Zabumbas de bombos,
Estouros de bombas,
Batuques de ingonos,
Cantigas de banzo,
Rangir de ganzás...
Loanda, Loanda, aonde estás?
Loanda, Loanda, onde estás?
As luas crescentes
De espelhos luzentes,
Colares e pentes,
Queixares e dentes
De maracajás...
Loanda, Loanda, aonde estás?
Loanda, Loanda, aonde estás?
A balsa do rio
Cai no corrupio
Faz passo macio,
Mas toma desvio
Que nunca sonhou...
Loanda, Loanda, aonde estou?
Loanda, Loanda, aonde estou?

(Poema musicado por Alceu Valença LP, Cavalo de Pau, 1982)
Leia a primeira parte do ensaio na edição anterior .
* Gilfrancisco é jornalista, pesquisador e professor universitário




Pão de Açúcar Tempo Todo
por Aguinaldo Ramos



Ícone

Totem
pré-erigido aos homens,
as raças vieram
te venerar.

Marco da fundação,
te faltava esta cidade
que te abraça liquidamente.
Pernas urbanas a teus pés,
ela é que é parte da tua
paisagem...




Forte

Talvez te imponhas como macho
e não te cantem!
Afagam curvas femininas
de Ipanema ou da Lagoa
e não vêem tal volume...

E te usam como ícone,
referência da cidade,
envergonhados,
quando és
sinal
da firmeza deste povo.








Cúmplice

Toda manhã
se antepõe ao sol,
falho escudo enciumado,
sem evitar que se desnude
a despudorada cidade.
Logo capitula
a esses outros amores...

Que ela seja
e é
sempre solar e oceânica...
E divida contigo estas paixões.


Fusão

Falo da cidade
que falo.
Falo das curvas
da baía
e das praias.
De uma cidade
que, mulher
assim deitada,
pernas abertas
na enseada,
foi chegando
lentamente...

O fato é que
alguma forma
de amor,
talvez viril
mas feminino,
se instala
e se completa
entre tais entidades.
Símbolo
da concreta criação
das coisas vivas.




Por Marcelo Ricardo
SEÇÃO BLASFÊMIA


1- A Leda?
CADELA!
2- A Ida?
VADIA!
3- A Dalila dá!
4- Anal, Elana?




"ÓTIMO VÔMITO":
palavras amáveis.

BURRO EM APURO
Socorram-me:
a grama é amarga
em Marrocos!



Aqui, na timidez:
Por Mariana do Rego


Estive fora durante esse Reveillon. Me permiti uma ida às montanhas. Preferi ausentar-me dos inúmeros telefonemas e cartões de escrita automaticamente-instantânea. Eu, que durante seguidas viradas de sorte, fui uma dessas a parar nas bancas de cartões e comprar 10 de cada tipo.
Precisei comunicar-me, minuto ou outro. Mas, na ausência de mim mesma postada ao lado do telefone, não descartei a hipótese de deixar-me um recado na secretária eletrônica.
Mas não havia som nem tv, não havia jornal, não havia meu cão! Havia voz sozinha no eco, não as músicas da festa da sorte!
Era preciso além do que me sentia nas mãos e nos pés e nos ouvidos. Era preciso acariciar-me por baixo de amoltoados roupas (sempre debaixo da minha timidez). Começo. (Timidez).Termino. (Timidez). Mas senti-me num êxtase de infinda estupidez (sempre debaixo da minha timidez). Afundei-me no travesseiro vestido amarelado. Senti falta do horóscopo.
Agora estou em cores vacilantes, como alguém que salta de um globo ocular. Agora estou em um número-combinado ou na falta de combinações. Agora paro como uma roleta transbordando em milhares de segundos rodados. E eu? Eu. Eu, bem, eu infinitamente dentro disso tudo tive que parar de roer as unhas. Tive que tirar as manchas das roupas após o gozo e o amarelo do travesseiro.
Não me agradam as montanhas.
No próximo Reveillon eu volto a mandar cartões.




Voltando do Voltei pro Voltado (Re em tudo, oito e meio)
Por Rod Britto



...Batendo bolinha pra lá e pra cá. Depois de voltá, nem vô vumitá. Meu baile é n’Humaitá. Tem também braile no tá, tá, tá – vai que não posso esquecer do tchan, tchan, tchan – (cônsciencia) – pros ceguinhos também, ô capeta, que num pensa (dispensa, logo, enceradeira) nem em ninguém, porra! Todo mundo tem que voltá também. Volto. Teve nem fila, cessão, zoneamento. A nossa demo avança. Ô capeta, bate certo! Volta. Em casa, enceradeira com a berlota de meia. Dou-lhe uma, dou-lhe duas. Num cego não, valeu, bateu, voltou. Já é. Agora ali era ficar na expectativa, bolinha de meia quicando parede, para ver ficar na expectativa do fim de tarde, terminar musiquinha, comessar croniquinha, sô carioquinha, batendo bolinha pra lá e pra cá...

Pra lembrar: o filme Oito e Meio do marxssi$$ímo Feellini é porradão, tratado de existencialismo, semiótica, arrasa-quarteirões nas linguage.

Pra lembrar e Meio: As últimas quentinhas da Porta do CCBB (que inssisto, ainda será lembrada como mais importante que os fimdesemanados seus suntuosos interiores), e sem precisar adentrá-la, procurem-nas, em qualquer dia de sorte: Lucas Trindade (El Apontador de los Caminos por Varetas), Marcelo Felippe Cataverso, Diogo Henriques, e não havendo outros, por enquanto, por vezes até o nosso editor oito e meio rei dos fundos puxa-sacos do patrão, o Alex Topini, mostrando da sua poesia. Mas ainda volto e meio Nele, podes crer.

Pra só mais o Oito: Retoma (então, volta) carreira pacífica e paralela à banda que ainda virá por aí e aqui fazer pensá e não só dançar, afiando nos ônibus da nossa citá, o violinisteus e compositeur Joni Joannes, mamãe, ó ele lá. Vale pegar ônibus só pra ouví-lo. Um vril pra ele. Quem se educar, deixa corá.

Agora, já era, só aguardando entediando o resultados, ai, ai, ai, beijoca do Joca, mais rápido, batendo bolinha pra lá e pra cá, depois de voltá, nem vô vumitá, meu baile, ah, Rod, vê se cê te vá...




* Rod Britto é jornalista e editor gratoporlembrar@gmail.com

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