por Bárbara Boneca

Venho por meio desta comunicar o início de minha infelicidade. Que fique registrado que há pouco me considerava longe de miserável. Não muito perto do êxtase total, porém mais alegre do que me considero hoje. Até aqui meus sentimentos ordinariamente especiais ainda não haviam me escapado. Porém de súbito não sinto mais a capacidade de amar ou ser amada.Até a presente data as pequenas coisas faziam uma diferença para a minha pessoa. Hoje posso ver como é plena a falta da frivolidade em minha vida. O foco se torna ainda mais claro de meus deveres e obras a serem executadas. O amor abandona meu corpo, não, não é meu coração. Meus amores me tomavam, tremelicavam, tamborilavam. Eram amores tremores.Não acredito se tratar de uma fase, e sim do encontro com a vida, vista por todos como fonte mor da infelicidade geral. O mundo real me apresenta a infelicidade: um prato azedo com uma conta que assino sem prazer nem culpa, apenas o dever. Percebo neste momento que tudo que vivi de feliz foi o suficiente. Devo estar grata pelos momentos em que não percebi quão breve seria. Muito pouco tempo depois encontrei o vazio que hoje me preenche.De crise em crise existencial tentava descobrir o que me fazia triste, sem saber que não era tristeza, era apenas insatisfação. As dúvidas me faziam mais confusa, porém nunca menos feliz. Tentativas vãs de destaque pessoal me mostraram que eu só queria ser igual a todos. Não pelo que visto, não pelo que minto, não pelo o eu sei, apenas pelo que sinto. E sendo infeliz posso afirmar: hoje me sinto normal.