Desequilibrei. Só isso. Quando tentei olhar lá embaixo. E o vento passou rápido demais por mim. E a velocidade me assustou. E nem entendi muito bem o que tinha acontecido. Simplesmente, desequilíbrio.


Talvez, se soubesse, não teria ido lá olhar. Não teria me afastado dos outros. Logo eu, que sempre fiz tudo como mandavam. Se soubesse, não teria subido. Não chegaria perto. Não me inclinaria tanto.

Mas era todo aquele campo, aquela imensidão, aquele todo-dia, e um desse todo-dia parecia igual demais. Nunca, nunca isso me incomodou. Nem naquela hora, mas... Tentei fugir um pouco; acho que tentei ir apenas por ir. Aquele lugar sempre me atraiu, vovó sempre dizia que não devíamos chegar perto, e eu nunca nem pensei em fazer isso. Mas algumas vezes, sem que eu me desse conta, virava e olhava, deixava os animais por alguns segundos de lado. Depois, esquecia e ia embora. E continuava. Sempre, sempre continuava.

E aquele campo, que sempre foi a minha casa... todo aquele verde, debaixo de tanto céu, debaixo de tanto, tanto céu...

Quando olhei...era um abismo, e meus olhos se abriram mais. E o ar parou debaixo do meu nariz, e eu não senti minhas mãos segurando no galho. Depois olhei, estava firme. Não sei, acho que tive medo, tentei voltar, mas continuei ali, continuei olhando. E alguma coisa no sentimento do todo-dia não estava mais lá, e a falta me deixou tonta. Os pés estavam firmes, tenho certeza, por isso não sei; por isso não entendo. Desequilibrei, e foi isso. Tudo lá embaixo parecia bem perto, embora muito longe.

Eu desequilibrei. Não me senti mais. Nem cheguei a sentir o baque.

por Sheila Louzada