Perdido

Nesses dias de corpo frio e alma quente
Dá uma saudade que se esfrega na vontade
Da beleza que se esconde atrás da tua beleza
Do cheiro além do perfume detrás da tua orelha

Como uma flor brotando de outra flor
Quero sua leveza sem onda ou moda
Quero-te mineral e fresca
do jeito que tú brota

Daniel Paes


Indo para NIKITE

Quero a foto na barca
a gente afundando palavras,brincando de peixe e timão
Estou à treze milhas de trigo
O vento meu pé apertando
Quero pousar no mar
Entrar no cardume esquisito
arracando as escamas
nadando vogais,
Hoje sou peixe mestiço,
guelras destino aprendendo a falanadar
Maristela Trindade


Nem são números

Os vejo partir como a manhã credora
Os meus
E só pelo telefone
Não os reconheceria fisicamente
Tão longe essa dor...
Um quarteirão pelos ares
E outro amanhã
Talvez lembrar e ler o jornal
Não tenho fios em mim
Extensões
Mecanismos pra dizer
pi pi pi pi
Estou
por todas madrugadas
em busca da manhã.
Renato Limão

...e assim fiquei
Escuro como a noite fria dos pensamentos
Um dia morno
Tão claro de cegar os olhos
As muletas que guiam até que caia a chuva
E não haja mais pretexto para ir
Chove a água fria que me trinca os dentes
Arde a pele; e o não querer se faz tão envolvente
Fica em casa e dorme
Deixa a agitação passar e abre os olhos com calma
Porque é aos poucos que se vai levando...
Fabiano Parracho

Fenômeno

Idéias não suportam o pulsar sanguíneo
E como vapores d’água que o corpo expulsa
Exilam-se no véu oculto de um sentido
Que explode em sensação, como a alma busca

Insiste em estar viva a veia latejante
O dedo já se move por vontade própria
A língua é enrolada dentro da garganta
No peito a redundância de amor e ódio

São átomos e células, tecidos e órgãos
Os músculos que estendem também se contraem
O cérebro da casa fica lá no sótão
E os sonhos são amantes que não se encontraram

Transborda o sentimento e a palavra cala
O olho lacrimeja sem ter um motivo
O pescoço se traduz como um arrepio
E o tato todo gira como uma mandala

O dente apenas morde e a ferida sangra
Aberto o apetite, sabor e aroma
vermelho traz a fome, fome traz a dança
a sede nos caninos é só um sintoma

O corpo submisso exige mais um pouco
E as unhas são a águia sobre o meu pescoço
A alma está segura pelas minhas coxas
Some o pensamento sem nenhum esforço

Agora é só o peso, e grato à gravidade
Procuro a tua boca, olhos já cerrados
Sou o universo inteiro dentro de uma flecha
Outrora eras meu alvo...agora és meu arco.
André Bentes


AH! ... ESSES ANIMAIS

Se o homem fosse boi
E o boi homem fosse
Levaria boi o homem ao matadouro
Esquartejaria o homem.
Boi ?
Dividiria anatomicamente seus quartos
Penduraria suas partes em ganchos cruentos
Venderia a um sequioso comprador, boi
Suculentos e sanguinolentos bifes homem
Em quilogramas
Boi homem
Embrulharia a traseira ou a dianteira
E sairia mugindo sorrindo
Para seu pasto de boi
Dalberto Gomes

3 Comments:

At julho 04, 2006 9:53 PM, Anonymous Anônimo said...

interessante, pois você mistura as características do animal e do ser humano( humano mesmo?) e mostra como o homne vai ser brutalizando num processso de zoomorfização que indistingue ambos. adorei!!!!!!

 
At julho 04, 2006 11:16 PM, Anonymous Anônimo said...

Muitoooooooo legal!
Parabens! O homem tem q PELO MENOS passar 1 dia como boi ou qq outro animal para sentir na pele o sofrimento e brutalidade q eles aguentam. Absurdo, infelizmente.
O homem n eh humano.

 
At julho 17, 2006 4:42 PM, Blogger Sem Cascas.blogspot.com said...

Esquartejados estamos ao partir o boi e o home.
O que junta tudo numa nova configuração,
são letras como as tuas,
poeta da multidão!

BEIJOSS MEU REI
Tô inspiradíssima em amar hj1
E aqui, tá mais suculento que lá fora!

 

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