Moreno-pele levantado
Um peso de saco em tripas grita:
Um Câncer.
(fere num querer de quintas quietudes)
(avisa pudor de proibições precauções)
Corpo desfigurado despenhorado
E
(pausa)
Despedida
Incrível tatear-unhar denotado de despedida
Um ser cancerígeno aloja em texturas
E
(pausa)
Despedida
Estranho tatear-dedar conotado de despedida.
Amarelo-pele recostado
Acostuma essa amargura
Resiste uma saliva
E
(pausa)
Sem mais despedidas.

Mariana Souza do Rego



OS TEMPOS SEM NÓS

venho da voz
que camufla
o dito e o vazio de espaços

vago no filme velado
na câmara escura fingida em cortinas

voltei à sala
onde retratos se amotinam
das molduras
e amordaçando o passado
rebelam-se do presente

retornarei
como se a vida fosse refém
de papéis
impressionados de seres
paralisadas
na intenção de depois

Carlos de Hollanda





(leia no volume máximo)

percorro caminhos lógicos
com a precisão de um poeta
e abasteço
os arsenais da dúvida com delicados lances
descalabros
tomados por empréstimo ao Acaso

retiro as luvas de pelica
e toco o mundo
quente espesso
áspero insano
vertendo entranhas de uma tarde imprecisa:
compassos sem métrica
regem o meu torpor danificado
-UM VILIPÊNDIO A MAIS E FICA TUDO UM BRINCO

retiro também tudo o que disse
sobre qualquer paraíso
- territórios para sempre inacessíveis

Aldemar Norek


DESALENTO

Trago a luz
que escolhe confusa,
a dor-memória desconhecida.
Tento alcançá-la,
mas nunca está onde meus dedos chegam.
Sigo triste e dói-me o corpo todo.

Elaine Pauvolid



Aquela velha história de não saber quem sou


Pisando em ratos
Me desfaço da tortura
Ocasionada pelo medo
Do passado, da vida, dos fatos
Inapto
Vago em vão e volto pelo rastro
Um astro me guia
Na chuva do dia
No escuro da estrada da vida
Em cima
Da linha certa
Ultrapasso os limites
Na pista reta
Dificulto até o que não existe
Insisto
Do meu sossego
Tenho necessidade
Privatizaram minha privacidade

Diego Tribuzy


NÃO VOU AO MEU ENTERRO


Para evitar o cheiro das flores
O choro do meu inimigo
O encontro de meus dois amores
As roupas apertadas
Parede de madeira envernizada

O sono silencioso dos sonhos
A maquiagem fora de moda
Rabecão correndo sem cuidado
Pertences pelo coveiro roubados

Eu virar santo
Qualquer um da autópsia
Desnudar o manto
Um padre desconhecido
A missa comprada
Uma reza obrigada
E em vida me lembrar
Que não fui nada.

Marcelo Girard

3 Comments:

At maio 30, 2006 3:05 PM, Blogger elzafraga said...

Parabéns, Marcelo. Muito lindo o poema.
Um tanto quanto fúnebre, hehehe, mas muito bom.
A gente resiste mesmo, né?
Continue, pois temos só duas saidas: Se acomodar ou poetar.
Parece que somos do segundo grupo.
Beijocas, querido.

 
At maio 30, 2006 10:41 PM, Blogger Na Mira da Rima said...

Bela seleção de poesias. Pauvolid e Girard arrasando (como sempre!)

PoeTopini amigo, vcs ganharam uma notinha no www.discotecabasica.com

O cara é amigo e curtiu os textos e me perguntou de vcs.

"A idéia da revista Palavril - que por enquanto, só existe no formato blog - é difundir literatura, poesia, artes plásticas, mídia alternativa e arte de modo geral. Vale a pena dar uma olhada - tem um texto bem interessante sobre Mídia não-corporativa, além de várias outras coisas.

posted by Ricardo Schott"

Poetabraços

Clauky

 
At junho 01, 2006 3:59 PM, Anonymous Anônimo said...

E aí, Lequinho!
Gostei do poema "Não vou ao meu enterro", de Marcelo Girard. O cara tem boas idéias...
Um abraço e até.

Beto

 

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