Poesia cênica: reflexo dos novos tempos?

por Marcos Fiuza

Acredito que, nos dias de hoje, após o advento da modernidade, a sociedade sofreu e vem sofrendo transformações impressionantemente rápidas. O ritmo de vida da “urbe” está cada vez mais acelerado, sendo difícil o acompanhamento. Como pensar, dentro dessa perspectiva, uma poesia que se torne atrativa a um público de “não-iniciados”? Talvez a forma tradicional, do “papel e tinta” não esteja mais sendo suficiente para captar a atenção de leitores em um ambiente repleto de informações “vivas” (refiro-me aos diversos meios eletrônicos que se apresentam facilmente a população). Desse modo, seria a “monotonia” de um poema o seu pior inimigo? Sinceramente, acredito que não. A apreciação de um poema é, e acredito nunca deixar de ser, uma experiência única e particular. O contato entre o leitor e o poema acarreta uma subjetividade ilimitada e insubstituível. Porém, no intuito de captar olhares ao seu trabalho e, também, trazer dinamicidade a apresentações públicas, novas formas apresentam-se buscando espaço no cenário artístico.

Pensando nas diversas formas poéticas que se manifestam em nossos tempos, deparo-me com o que alguns vão chamar de “poesia cênica”. Esta performance artística que mistura formas, em princípio, tão distintas (teatro e poema), vêm, realmente trazendo novos olhares e novas maneiras de se pensar a poesia. Como enquadrar esta nova produção artística dentro de escaninhos já corroídos pela ferrugem? Seria a hora, talvez, de pensar os rumos tomados pelas manifestações artísticas contemporâneas. Será que num futuro próximo não haverá mais espaço para o “tradicional”?
Bom, a questão é esta e, realmente, não tenho respostas a dar. Acredito que, mais importante que respostas, são as incertezas, pois a partir delas que podemos pensar, concluir e desconstruir.
Mais que buscar julgamentos imaturos, tentando comparar gêneros que acredito serem distintos, enquadrando este ou aquele em “bom” ou “ruim”, tentei trazer algumas indagações, que longe de qualquer afirmação, trazem-me dúvidas e colocam-me dentro de uma perspectiva nova e instigante. Assim, espero, a partir destas modestas considerações, contribuir para a discussão e atentar para os novos rumos que a crítica artística, especificamente literária, deve tomar devido às imposições dos novos tempos.

* Marcos Fiuza - Poeta, professor e pós-graduando em Literatura portuguesa e literaturas africanas de língua portuguesa - UFRJ mvfiuza@yahoo.com.br

3 Comments:

At outubro 17, 2006 4:03 PM, Anonymous Anônimo said...

Inegável, na relação do artista com o público, a necessidade de visibilidade automática. Seriam reflexos sintomáticos de uma vida mediada por tecnologias que nos asseguram um "tempo real"? Talvez. Mas o "espirito do tempo" moderno apontado por você é sem dúvida um interessante ponto a ser tocado. Pensemos, por exemplo, na arte híblrida que é a Canção. Música minimalista e uma letra que não é poema. O que seria então? Canção. A meu ver, juvenil e inexperiente, o primário é inventar. Hibridizar. Cruzar. Daí nasce a vida. Sabemos que o poema "letras sobre papel", veio como uma forma de registrar para além do tempo recente da feitura, uma obra, antes cantada por trovadores. É chegada a hora de mais signos nesta mensagem? Talvez sim.

 
At novembro 12, 2006 7:13 PM, Anonymous Anônimo said...

Indagações muito importantes!
Há que se pensar em qual caminho seguir.
Acredito que o papel continuará, pois em todo movimento há também um contra-movimento e ao mesmo tempo que a poesia se dilui (ou se conplementa),torna "multi" e a tradicional leitura passa a ser considerada monótona, as pessoas sentem cada vez mais necessidade de parar para ler, escutar, saborear. Ou sentem ou sentirão. Eu acho, ou eu espero...
Sim, há que se caminhar pensando, sempre ...

 
At novembro 13, 2006 12:09 PM, Anonymous Anônimo said...

Importante pensar na poesia das imagens, dos sons, das falas... Poesia que transpassa a forma, como disse. Penso nessa proposta como um convite a romper paradigmas. Uma proposta também sem forma, sem sentido, pois pretende justamente abrir, deixando a cada um as infinitas possibilidades. Que pensemos a poesia assim, como algo necessariamente vivo.

 

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