Aqui, na timidez:
Por Mariana do Rego


Estive fora durante esse Reveillon. Me permiti uma ida às montanhas. Preferi ausentar-me dos inúmeros telefonemas e cartões de escrita automaticamente-instantânea. Eu, que durante seguidas viradas de sorte, fui uma dessas a parar nas bancas de cartões e comprar 10 de cada tipo.
Precisei comunicar-me, minuto ou outro. Mas, na ausência de mim mesma postada ao lado do telefone, não descartei a hipótese de deixar-me um recado na secretária eletrônica.
Mas não havia som nem tv, não havia jornal, não havia meu cão! Havia voz sozinha no eco, não as músicas da festa da sorte!
Era preciso além do que me sentia nas mãos e nos pés e nos ouvidos. Era preciso acariciar-me por baixo de amoltoados roupas (sempre debaixo da minha timidez). Começo. (Timidez).Termino. (Timidez). Mas senti-me num êxtase de infinda estupidez (sempre debaixo da minha timidez). Afundei-me no travesseiro vestido amarelado. Senti falta do horóscopo.
Agora estou em cores vacilantes, como alguém que salta de um globo ocular. Agora estou em um número-combinado ou na falta de combinações. Agora paro como uma roleta transbordando em milhares de segundos rodados. E eu? Eu. Eu, bem, eu infinitamente dentro disso tudo tive que parar de roer as unhas. Tive que tirar as manchas das roupas após o gozo e o amarelo do travesseiro.
Não me agradam as montanhas.
No próximo Reveillon eu volto a mandar cartões.

1 Comments:

At maio 10, 2007 2:12 PM, Anonymous Anônimo said...

Olá,Mariana.Admiro muito os seus trabalhos,esse conto foi feito pra vc!!!Gostaria de perguntar se posso coloca-lo em meu orkut,já que o considero um conto com singularidade com minha personalidade e sua tbm.Tatiana Gonçalves que vc conheceu no Exprima-me.Beijos.

 

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