NA ESTAÇÃO

Revelações do calendário
lembranças do tempo
as rugas descortinam
rabiscos da insônia
uma música desconcertante
um ponto ou uma fuga.

Almandrade



EU SOU FUGAZ


Eu sou fugaz
Como um bandido
Como um ladrão
Um ato de contravenção
Eu sou fugaz
Como um momento
Um movimento
Uma explosão
Eu sou fugaz
Como o gozo final
Como três dias de carnaval
Uma chuva de verão
Eu sou fugaz
Como o desejo
Pura paixão
Sou fugaz
Como a dor de quem berra
Como um suicida
Em pronta queda
Uma injeção
Sou fugaz
Como um cigarro
Uma brisa
Uma última cena
Sou fugaz
Como um verso
Uma rima
Fugaz
Como um poema

Bruno Borja




PAPÉIS ENVELHECIDOS

Cabeça marginal
Nos becos escuros
Sussurros sem nexo
Alucinações
Cabeça marginal
Papéis envelhecidos
Com poemas vencidos
De tanto se gastarem
Nas noites sem fim
E cacos de sentimento
Esquecidos no cinzeiro
Se desfazendo
Com o artesanato do tempo

Cabeça marginal
Livre para ser
Presa em si mesma
Em fumaças sem sabor
Em neblinas de amor
Amor gasto, amor sofrido
Sob um céu escurecido
Pois as estrelas dormiram
Já não se sentindo cúmplices
Do olhar tão embaçado
Dos arcanjos sem destino
Anjos rebeldes sem asas
Chorando na terra, sem som
Cabeça marginal entre as sombras
Perfume sem aroma
Música sem tom

Giulia Drummond Battesini



“El viaje no ha sido corto hasta aquí”


Un tren de 57 vagones
con 56 clausurados
al menos por la biología

Entraré, doméstico
(y confluiré
y lo adoptaré
y lo encarnaré)
en el vagón 58

No diré:
“El viaje hasta aquí
ha sido largo”

Rolando Revagliatti (Argentina)


Peixes

(pura invenção a vida não é tão perfeita quanto uma canção)
um quadro
retrata peixes nadando
o mar é real
o azul confunde sensações
como quem embaralha cartas
ou como quem criou uma ilusão muito particular
podemos sentir a brisa marítima
tocaremos os peixes desobedecendo aos cartazes.
(é expressamente proibido tocar nas obras de arte)
seguiremos pela manhã tocando nos peixes
sentindo a brisa que nos beija
delicadamente suavemente
(pura invençãoa vida não é tão imperfeita quanto um poema).

Flávio Machado


Em Belo Horizonte

Trago a cidade
E meu peito
Cansado
Cospe o câncer.

Absorvo toda química
Ladeiras
Me deito na praça.

Aos domingos
São tantos domingos
Caço uma feira
Haja cachaça!

Me encanto com a missa
Um padre com sono
Um bêbado em pé
Nenhuma menina.

Finjo não ver o dia passar
Encarno um mineiro
Encaro um tropeiro
Enrolo um na palha
E fico a pitar.

Renato Limão

7 Comments:

At outubro 16, 2006 6:02 PM, Anonymous Anônimo said...

muito boa a poesia de renato limão!

 
At outubro 16, 2006 6:02 PM, Anonymous Anônimo said...

muito boa a poesia de renato limão!

 
At outubro 18, 2006 4:26 AM, Blogger Flavio Machado said...

Companheiro Alex, obrigado pela postagem de meu poema. Valeu abraços.

Flavio Machado.

 
At outubro 31, 2006 7:48 PM, Anonymous Anônimo said...

Olá, amei esse blog!!

FAça uma visitinha no meu Blog!

Um abraço, aliás, te achei no orkut, acho q te adicionei...

Um abraço!

 
At novembro 10, 2006 8:34 AM, Anonymous Anônimo said...

Fuga + Fugaz + papéis amarelos...
Conjunto de instrumentos humanos que tocam em conjunto tantas diferenças não jaz,
é Jazz!


Maristela T.

 
At novembro 18, 2006 2:27 AM, Anonymous Anônimo said...

Achei vc, poeta amigo!

:)

 
At maio 02, 2009 11:56 PM, Blogger Unknown said...

O velho Limão! O poeta? Se casou.

 

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