Final
por Guilherme Tolomei


O encontro deu-se no metrô.

- Está tudo acabado.
- Como assim tudo acabado?
- Você entendeu.
- Calma, aí, eu...
- Não podemos mas continuar assim.
- Assim como?
- Será que é tão difícil perceber o fim de um relacionamento? Será que não sente o tédio, a incomunicabilidade, a ausência?
Há uma pausa.
- Não pode ser.
- Acredita, dessa forma será melhor.
- Você está brincando.
- Sem vexame, por favor. Vamos tornar as coisas mais fáceis.
- Não sei do que você está falando, não sei quem você é, nem ao menos sei como se chama.
- Já se esqueceu como me chamo. As coisas estavam piores do que eu imaginava.
- Volto a repetir, senhor, não te conheço. Nunca te vi na minha vida.
- Não pensei que você tivesse tanta mágoa de mim.
- O senhor deve ter algum problema.
- Além disso me ofende.
- Calma, não é a minha intenção.
- Nunca é a sua intenção. Você quer que eu ache que não tenho passado e, na verdade, sequer existo.
- Não! Não!
- A partir daí, vou criar inúmeros traumas. Minhas lembranças desfilariam inverossímeis pelo palco da memória. Seria seu grande triunfo.
- Mas pode ser que seja eu a culpada. Posso ter descoberto meu desatino. Minha mãe vai perguntar como foi o encontro com meu namorado. Mas que namorado? Eu tenho namorado? Vou descobrir que minha mãe morreu há dez anos. Ou será que não morreu?
- Calma, também não precisa chorar. Eu estou aqui. Lembra-se daquele dia em que...
Os dois começaram a conversar. Ela falou do robalo com alcaparras que sabia fazer. Ele contou como se conheceram em uma exposição de pintura.
Divertiram-se. Foi então que ele olhou fixamente para os olhos dela como se ali existissem todas as verdades não ditas, beijando-a.
E nada mais aconteceu. Ele virou de costas e foi embora. Desde o início, estava decidido a terminar tudo.

1 Comments:

At maio 31, 2006 6:45 PM, Anonymous Anônimo said...

Olha Guilherme,
Só falta tornar essa revista impressa. De resto está ótima!!!

 

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