Veja bem,
nem todo fogo
é de artifício
nem todo osso
é de ofício
nem toda carne
é de pescoço
nem todo fruto
chupado é caroço
nem toda matéria
é disciplina
nem toda poesia
é rima
e eu...
não rimo com nada disso!
sou fogo!
de carne e osso
sou fruto
de matéria e poesia

Bia Tavares

Romanticismo

Rege a bússola
Aguça esse ciclo estático
Do qual sou;
O qual Deus criou
Invenção revestida de zelo
Um reles apelo
Interrogado em itálico
Fizera o ser?
Fizera o pão?
Fizera o homem lhe dando a perfeição?
Deus...
Rega-me de razão
Me faça o mais genial
e eu reinarei essa esfera
Onde impera o intelecto
Sustento de um fardão estético
Aquém da esclerose
Deus...Me cegue à posse
Me faça amável, pagão deplorável
Por tão poucos imaginável
Me faça amor mestre
E assim não me conteste
Como contestas esta criação...
Que brotara do coração teu
Senhor ... me faça ... eu.

Marcelo Felippe


POEMA AUGUSTO
Para Augusto dos Anjos

Angústia
Palavra ígnea
Anêmica e contagiosa
Senhora das horas
Tardias
Faminta de vida alheia
- Luto -
Mas não me livro
De tua sonda
Em minha
Veia

Iara Rocha


O HOMEM PARTIDO

O homem partido
Segue fingindo unidade
Segue sentindo saudade

Meio homem / meio embaraço
Meio vida / meio contágio

Meio cidade / meio riacho
Meio rotina / meio anti-ácido

O homem partido
Segue em febril caminhada
Segue entre a cruz e a espada

Meio profeta / meio piada
Meio viola / meio guitarra

Meio vadio / meio de casa
Meio sentido / meio pirraça

O homem partido
Segue contando as migalhas
Segue esbanjando risada

Meio música / meio compasso
Meio canto / meio desabafo

Meio canção / meio cantada
Vezes tudo / vezes nada

Fabiano Parracho


Correspondência

Ensaio
enceno
enfraqueço e caio,
a carta não
sai
sucinta.
Sinto extrema angústia
frente à pálida verdade crua
Não há palavra à frente.
Bastaria
pôr no correio
Um beijo.

Renato Limão



No dia em que Quixote acordou
O mar não brilhava como se por sobre ele boiassem pepitas e diamantes
Era agua salgada com biodiversidade e possibilidade de navegações distantes
As borboletas não dançavam entre os mil tons de verde vida tropical
Eram lepidóporas sobrevivendo em um matagal
No dia em que Quixote acordou
Já não havia pomba branca, amor de cão, olhos de lince e abstração
As piadas já não faziam sentido aos despertos ouvidos
Os cientistas riram sentindo-se os tais
Os poemas perderam para os memorandos e editais
As crianças precisaram de educação e porrada nas escolas municipais
Os generais dirigiram filmes
Os presidentes mostraram os dentes
Os teatros viraram igrejas evangélicas de alto valor astral
As mulheres na cozinha cantarolavam as leis do código penal
Os moinhos continuaram a trabalhar com o vento
Mastigando sementes e o tempo
Com o vento
As sementes trituradas e o pó
Como ventou...
No dia em que o pássaro negro pousou
E foi de pão e água a barriga
De não e nada a vida
De silêncio e ócio a mente
Faz isso não nego...
Faz isso não.

Daniel Paes

2 Comments:

At maio 29, 2006 9:57 PM, Anonymous Anônimo said...

Ah que orgulho do meu amor, lindo esse poema dele...ele escreve bem, deixa ele ir soltando as poesias, dou o maior apoio.
cada vez mais legal essa revista.
beijos pra vcs Lequinho e Fê.
Fernanda
do Parracho, hehehehehehehe

 
At junho 28, 2006 7:57 PM, Blogger banzaibanzobanzai said...

Gostei muito do poema da Bia. Parabéns.

 

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