A Dança de Mané


Suécia, 1958, durante a copa de mundo de futebol, um brasileiro de pernas tortas mostra ao mundo os paços de uma dança chamada futebol. É a arte de Mane Garrincha.
Ele que foi um membro ilustre de uma vasta companhia que brilha até hoje no preto e branco das recordações da época.
Nelas, Mané parece um mágico que esconde a bola dos adversários e hipenotiza a quebrável razão do velho mundo com o vai e vem de duas pernas tortas. Parecia que os marcadores obedeciam o bailar de Garrincha. Mas eles não tinham o molejo suficiente. Era por isso que pisavam na bola, ou melhor, no pé do dançarino que lhes ensinava os passos do futebol arte.
Mesmo assim lá ia Mané feito um passarinho apaixonado levar as cores de sua escola rumo a glória. Sem temor, atravessava com dribles a roda punk inglesa e até mesmo o corredor polonês se fosse necessário.
Enquanto jogou, Mané foi o anjo sarará das pernas tortas que saculejou o mundo ao batucado ritmo Afro-brasileiro.
Mas aqueles que não queriam aprender com Mané sabotavam-no. Eram faltas duras que esmigalhavam seus alegres joelhos. Até que, já a partir de 1963, começavam as dolorosas seções para retirar a água dos joelhos de Mané que sempre inchavam.
Daí em diante, raramente o craque jogava duas partidas seguidas. E isso atrapalhava seu condicionamento físico e entristecia aquela estrela que, antes de tudo, brilhava pela alegria de sua dança cheia de dribles.
Foi, sem dúvida, essa tristeza que em 1983 levou Mané Garrincha. O que resta agora é a lembrança mágica das pernas tortas que, graças a Deus, ninguém conseguiu endireitar.
Salve a dança de Mane Garrincha!


Rafael Alvarenga