Raiz
minimamente ciente das estruturas do mundo,
ainda assim Personagem
não preenche de todo os vazios
da mente.
Acostumado às minúcias
sua sede não é mitigada pelo encontro
com as margens da fonte dos fatos.
Ali, o que desabrocha cria beleza:
é o mais puro destino dos fatos em flor.
As muitas trincheiras das coisas confusas
apenas protegem (ou sufocam)
o óbvio, ou o belo, ou o bom.
No alvo da mira, o amor.
Quem tem a postura correta
e o instrumento adequado
(ou, no inverso de tudo,
a paixão pelo alvo e a certeza na mira)
registra (ou já tem registrado)
sempre a presença
de algo mais belo
do que é líquido ver...
Completo,
não há quem seja.
Profunda ilusão...
Há quem tente ser o todo,
ser tudo para todos,
impor a pretendida perfeição
aos desavisados,
aos tímidos,
aos pequenos,
aos fracos
aos que não querem ser perfeitos...
Quem sabe de si põe na mesa
os melhores humores
e bebe à saúde.
Nas bochechas o sorriso
nos dentes o gosto
nos braços o embalo,
a fome de vida no ventre.
Se preciso, Personagem
conta com as pernas
(e a liberdade)
do povo.
Inteiro esteja o espírito!

Povo
Personagem está atrás da pátria...
Cresce sob estrelas aniquiladas
cercado de riquezas que não alcança
vendo ao longe verdes matas que se vão...
A pátria é decorativa,
até um tanto dramática.
Perdido no cenário
nem sabe ainda seu papel.
Balança firme a bandeira do futuro,
parece um gesto de adeus...
A pátria é um aglomerado de emoções:
um frio na barriga
um gol na decisão
uma notícia
que passa na televisão...
Aprende uma lição moral
(e cínica):
a pátria
está atrás
de Personagem...
Personagem é projeto de livro, com 80 fotos jornalísticas recontextualizadas e ressignificadas pelos textos, contando a trajetória de um “personagem”, que, de todos, pode ser qualquer um.
Veja algo mais de Personagem em: http://www.telemar.com.br/museu/expofoto/persona/personabox.html
* Aguinaldo Araújo Ramos foi repórter-fotográfico por quase 30 anos. Palpiteiro, sociólogo e mestrando em História Comparada, IFCS, tem feito alguns investimentos literários (finalista no Prêmio SESC de Literatura 2005) e está orgulhoso de publicar em Palavril.
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