Sussurrado pelo vento que sopra na esquina
por Felipe Esteves

Saudade, saudade. Lembro quando eu era um menino e você era uma menina. Brincávamos no rio, você tinha medo dos sapos. Eu não. Sempre os achei engraçados e sábios. Vez em quando chovia e não podíamos sair para brincar. Nos olhávamos pela janela, a chuva não deixava ver nada. Mas eu sabia que você pensava em mim, e eu pensava em você. Esperávamos pelo dia seguinte, pelas manhãs bonitas de sol e as poças d’água que você pulava sobre, e eu pulava em cima. Então você corria toda molhada atrás de mim e eu fugia, corria cada vez mais rápido, e torcia desesperadamente para que você me pegasse.
Lembro de quando comecei a me tornar um homem. Homem feito de sonho. E você era uma quase-mulher linda, com suas pernas ainda finas demais, mas já no tamanho certo. Você sempre foi assim; madura e ingênua ao mesmo tempo. Sempre soube quando fazer e quando parar, exceto quando não sabia.
Lembro do dia em que lhe beijei pela primeira vez. Melhor, que você me beijou. Você viu minha boca machucada, meus olhos assustados e entregues, e entendeu tudo. Porque levei aquele tapa antes? Não me lembro mais, foi uma de nossas tantas bobeiras. Riso frouxo que vem fácil e qualquer brisa leva embora.
Hoje você não está comigo. Ontem também não esteve. Já faz algum tempo, nada foi como antes. Hoje em dia, eu sou só um menino e você é só uma menina. Sós.