Pára-Quedas
por Bruna Maria

Quero saltar do alto da pedra e respirar fundo. Sentir duas câmaras em seus limites espaciais na altura do tórax - pulmões. Quero saber que ainda existe vida orgânica, que há vegetação, mata, bicho, flor. Quero acreditar no céu, pensar que o azul-sem-nuvens é belo e que reflete alguma coisa divina.
Saltaria sem pára-quedas hoje, por você. Deixaria meu corpo em queda livre, levitando em momentos finais. Viveria uma vida inteira rapidamente. E correria, escorregando entre os átomos suspensos, até chegar ao chão.
Plaft.
O corpo quebrando, partindo em mil pedaços, faria cócegas. Enquanto isso, eu levitaria pelas nuvens por três minutos, e te encontraria.
A telepatia me exporia de forma única, me poria pelo avesso, e você teria a certeza eterna de que eu vou te amar para sempre.
Plaft.
Mas eu tenho pára-quedas. O corpo, então, está sempre intacto. Em compensação, o não-corpóreo anda em pedaços.