OUTRO LIMITE

Há um rosto no mundo que olha para o meu
e não conheço.
Assim uma casa, uma canção, um verso
que nunca vou fazer.
E o rosto me chegasse, ou o verso, enfim
seria tarde:
por isso me despeço
e deixo algum sonho nas gavetas
da casa onde nunca irei ou fui.

Nem sempre a manhã sucede ao crepúsculo
e à treva.
Aldemar Norek



LAMPEJOS DE NOME

mesmo acampado na pele do sonho
cerco de medos e arrepios
a carne frágil da mente

apesar de lampejos ao longe
que os barcos acendem no mar
deixo - me acoitado
no telhado de plácidas telhas

apenas se vejo meu nome
trazido na boca em chamados
esqueço de mim
e arremesso
à urgência tempestiva
a resposta guardada na confluência das dúvidas
Carlos de Hollanda



ACABAR COMIGO

“-Mesmo os grandes homens só são verdadeiramente reconhecidos e homenageados depois de mortos. Por quê? Porque os que elogiam precisam se sentir de algum modo superior ao elogiado, precisam conceder. (...)”
Clarice Lispector, Perto do Coração Selvagem.

A mais estranha sensação
repete-se incansavelmente,
um ente encrostado em mim.
Penso em matar-me.
Como num samba
de Paulinho da Viola,
acabar comigo.

O ente cansado de estocar-me –
que me parece, os demônios também se cansam;
sem perceber encosta-se, ouve comigo
frases soando enigmas.

Vejo o rosto de coração,
olhos rasgados de um país distante,
a mulher preocupada com os filhos.

Em me matar incansável e subrepticiamente.
Escuto, decido, ao invés do tiro,
Pegar um livro.
Elaine Pauvolid

Mais estrofes dirigidas

Toca o sino
E começa a batalha
Todos correm para o centro
Para a vida funcionar
Falar sobre coisas, sobre pessoas
Menos sobre idéias
É proibido

Toca o sino
E começa a correria
Todos batalham um acento
Para mastigar o que um dia viveu
Ao terminar
A batalha se arrasta
A espera do fim

Toca o sino
E todos voltam ao ponto de partida
Não batalham sobre idéias
Nem correm pra alcançar
Pessoas dão o que falar
E finalmente
Descanso

(leia e releia até cansar)
Diego Tribuzy


INSTINTO

Assim
Como o gato
Fixo o olho
Atento
Não sei se presa
Acato fazer
Nenhum movimento
Na preça
Estimulo os sentidos
-Sobreviver-
Lição ímpar
No telhado dos escolhidos
Iara Rocha

Auto-retrato

Para Victor

Como ir a fundo,
Se eu não tenho fundo
Como, tendo o mundo nas mãos
Nada ter no mundo

Pra quê ler a estória
Se eu já sei o final
Como rir da piada
Se já me contaram uma versão quase igual

Como querer resolver o problema
Se eu o desmistifico antes do fim
Como vencer

Se eu me adianto
E chego sempre
Antes de mim?
Marcela Gianini

6 Comments:

At julho 04, 2006 7:03 PM, Anonymous Anônimo said...

amei!!!!!!!!!!!! você lança perguntas e logo as responde, causando um expectativa frustrante, foda!

 
At julho 06, 2006 9:36 PM, Anonymous Anônimo said...

olá, Alex!!!!
Que bom ver mais um poema meu na sua Palavril!!!! Valeu!
Beijos imensos

 
At julho 12, 2006 12:04 AM, Anonymous Anônimo said...

Oi Alex!
A revista está muito bacana, e valeu por ter posto meu poema;
Um grande abraço
Marcela Giannini

 
At julho 15, 2006 9:33 PM, Blogger Sem Cascas.blogspot.com said...

Marcela...
muito bom!

 
At julho 24, 2006 4:34 PM, Anonymous Anônimo said...

são poetas incríveis!

 
At agosto 02, 2006 1:41 AM, Blogger XAVIER DUARTE ARTIGAS said...

ME IDENTIFICO CONTIGO ALDEMAR: ¡CUÁNTOS SUEÑOS DEJO EN LA GAVETA!
UN BELLO CANTO LINDERO CON LA QUIMERA QUE A VECES SE APROPIA DE NUESTRO CORAZÓN.
PARA CARLOS: SENTIRSE SOBRE EL TEJADO "DE PLÁCIDAS TELHAS" ALEJA LOS MIEDOS, DETIENE LA DUDA, LA ENTRETIENE EN TU PUERTA.
PARA ELAINE: "A MULHER PREOCUPADA COM OS FILLOS" (¿ACASO NO SON TAMBIÉN HIJOS TUYOS ESAS BELLAS PALABRAS QUE YA NO HAN DE MUDARSE DE LA HOJA DE PAPEL EN LAL CUAL ESCRIBISTE ESTE BELLO POEMA?
DIEGO: HAS TOCADO LA HERIDA Y ÉSTA SANGRA. UNA MULTITUD QUERRÁ SACAR EL DÍA DE HOY DE CUALQUIER MANERA, PERO POR SUERTE HAY AÚN POETAS. SIN SER ÁNGELES ÉSTOS SE PARECEN A LOS ÁNGELES.
IARA: CEREBRO QUE RECONOZCAN QUE HAY UN TEJADO PARA LOS ESCOGIDOS.
MARCELA: ME GUSTA TU POESÍA, ME TRANSFORMA EN BUCEADOR, EN ADELANTADO; CONTIGO SOY ACRÓBATA QUE EN PLENA FUNCIÓN SOLAMENTE PRETENDE SEGUIR DESLIZÁNDOSE EN LA CUERDA FLOJA.
A TODOS: ME HAN ENSEÑADO POESÍA EN UN IDIOMA TAN EXPRESIVO, DULCE.
A TODOS: NO ME OLVIDEN, LOS AMO.

 

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