O ESCRITOR

Por Adenor Nunes

- Eu sou escritor.
- Como?
- Escritor
- Eu nunca ouvi falar dessa profissão.
- Não?
- Não! Tem aqui no Brasil?
- Pelo menos, por enquanto.
- Legal. O que os escritores fazem?
- Escrevem.
- Ah, mas eu também faço isso e não sou escritora.
- É uma pena! Como essa sua perspicácia você seria uma grande escritora.
- Você acha?
- Claro, venderia até mais livros do que eu.
- Eu jamais conseguiria viver disso.
- Quase nenhum escritor consegue.
- Agora eu fiquei confusa.
- Eles possuem outras profissões. São professores, jornalistas.
- Açougueiros?
- Possivelmente.
- Ah, tá. E sobre o que escrevem?
- Qualquer coisa.
- Como assim qualquer coisa?
- Não há limites para a imaginação.
- Não estou entendendo mesmo
- Por exemplo, um escritor poderia contar a história de um rapaz que se transforma em uma barata. Já ouviu falar em Kafka?
- Quem?
- Ah, esquece. Já é covardia.
- Então, um escritor poderia escrever sobre tudo?
- Exatamente- Inclusive essa conversa?
- Bem, acho difícil. Ninguém teria imaginação pra fazer uma personagem tão complexa quanto você.
- Mas se você estivesse escrevendo essa história?
- Estaríamos os dois completamente pelados em uma cama.
- Mas estamos pelados em uma cama!
- Meu Deus, não pode ser!
- Por que?
- Porque escrevo histórias de humor
- E?
- E os humoristas são terríveis
- Você está me assustando.
- Então é melhor você continuar embaixo do lençol, pra que eu também não fique assustado. Acabo de olhar no chão uma cueca escrita “Steffany”.

1 Comments:

At agosto 09, 2006 12:54 PM, Anonymous Anônimo said...

Estava aqui no PC e de repente procurando uma parada literária parei aqui. Maneiro. Gente de qualidade escreve aí.
Gostei especialmente deste que fala da natureza humana e dos relacionamentos, a duvida que sempre pinta, o medo da entrega, no amor. Por isto, é verdade, reclamamos tanto, mas de repente se pinta alguém que vai fazer toda a diferença na tua vida, por medo, porra, tu deixa escapar, e aí pode estar indo da tua vida o teu mais sincero e duradouro amor. Muito certo e bom paca.Esse "Dilema" ficou mesmo show. Traduziu uma importante questão que temos, e o resultado de tanto se bater cabeça por aí querendo ser amado. Parabéns à Luísa. Valeu.

 

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