Antes do Fim
- canção para um velho solitário

Espera sem esperanças,
Horas de tédio, longos silêncios
E vagas lembreanças

Imenso deserto:
Amores tão longe,
A morte tão perto.

Tanta distância,
Solidão e saudade.
Nem pressa, nem ânsia.

Um mundo, lá dentro,
Com ecos de ausências,
Sombras, desmomentos.

Tudo o mais é só
Um rastro de pó
À espera do vento.
Cairo de Assis Trindade



Pra não falar do Rio
Por vezes me atento
Me tento mudo
Em não dizer do Rio
Oh Rio! Onde as águas não se repetem
Me tento pálido, rígido, híbrido e só

De não olhar o Cristo
Me fiz triste
Sob o casulo
Casualmente nulo me desfaço
Por não rever o Rio
Hiberno ao frio de um Janeiro raso
Marcelo Falippe


Dores

Destes gritos, de dores, eu quase ensurdeço
e em meus infernos, clamando, desço,
como se o autoflagelo, a mim pudesse libertar!
As vozes ecoam mesmo quando não quero
minha alma repete, choro, desespero
quebro as correntes... agora posso voar!
Arlete Andrade


Espíritos da Praia
p/ Bia Tavares

Espíritos da praia
Ungi-me com a sagrada maresia
De vossos contornos
Maleáveis

Espíritos da praia
Invoco-lhes para que eu possa me banhar tranquilo
Na transatlântica escuridão dos oceanos
À luz de tuas sábias premonições
Abissais

Conjuro-lhes daqui
De dentro do meu pentagrama
Para que me amparem e me protejam
Da solidão carnívora que me apavora
Em cada curva desta encosta

Convoco-lhes todos, espíritos de luz
E peço-lhes apenas
Dunas, baías e falésias de alegrias

Espíritos da praia
Deixo aqui esta humilde oferenda
Para saciar vossa gula tropical
Espíritos das ondas
Forças do litoral
Abençoem este lual.
Dan Soares


E quando anoitece, há em todo lar ou bar, outros sóis
Que não brilham nas folhas e tiram do verde a saturação.
Que não nos colorem senão de um azul radioativo e postiço.
Nos arrefece, nana e jorra seu acúmulo morno e atraente.
É por isso que o escuro se instala no âmago de alguns
E seus sonhos são roubados, de noite ou de dia,
Pois os sóis estão ali, como moscas depravadas a zumbir
Imagens aos netos da surdez e sons aos filhos da cegueira.

Thiago Oliveira



a imagem

(fuga para a sexta estrela)

cometa do infortúnio
cometa um infortúnio
gameta do plenilúnio
de braço dado comigo
no fundo do meu castigo

espaço transideral
atrás de alguma estrela

se alguém puder cometê-la
que avance e abra o postigo
confrontamento abissal

viagem na escuridão
atrás de um ponto de luz
mas ao chegar não supus
que já não houvesse mais brilho
além do sutil estribilho

da imagem que me cometeu
a imagem que em mim se meteu
não era a da absolvição
mas a rotineira invenção
do eu,
talvez um hexacampeão

Aluízio Rezende

1 Comments:

At julho 17, 2006 4:38 PM, Blogger Sem Cascas.blogspot.com said...

Um Cairo que é esfínge!
Um Dan que é mercúrio chamando ZEUS!
é TUDO MUITO NOBRE NESSAS ODES DE DOR E DE AMOR!
Beijos amados!

 

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