Contaria


Meditação
por Felipe Esteves


Gira, gira. Tudo gira ao redor e eu, no parado. É preciso muita concentração: o movimento é insistente, busca-me o tempo todo; eu o rejeito, observo-o como alguém que vê de longe o amigo que não é mais, e com um simples aceno liberta-se de todo um ritual doloroso e falso de como vai e vamos nos encontrar algum dia.
Então, mantenho meu corpo como rocha e minha mente como águia. Do alto da montanha, observo. Mas sou ave de rapina, e vez em quando não me basta observar, então dou um rasante buscando algo e descubro que são muitas as camadas e vou cada vez mais fundo e me perco e quero voltar. Mas o caminho de volta é árduo e doloroso; venta muito na base da montanha.
Sinto então enjôo porque giro, giro com o vento mas não deve ser assim, percebe? Voar não é o bater de asas, ou a turbina de um avião; Voar é algo mágico, algo divino.
Estou sereno agora, por dentro. Lá fora, já disse, tudo gira. Mas sinto uma paz, interior, percebe? E meu coração está repleto de amor e coragem, porque sei que faço o que devo fazer, e de repente tudo faz sentido, e uma luz forte, que não cega, mas ilumina, define todas as sombras e me projeta na realidade.