Amanhece

Paro na tua linha de farpas e aspas
Pouco geométricas
Com grave ânsia esburacada
Solta no seu moreno espumante.

Remexo a ponta da unha
Ensangüentada
Na ferida roxa do teu colo
Adormecido.

Cores solares
De diamantes em anéis
Decorrem entrevados
Em cabelos de artifício.

Cristais em momento de transparência
Soltam do gozo
Úmido-envergonhado
Com cheiro de ante-ontem.

Forma, sangue cor, momento
Forma, sangue, cor, textura
Forma, sangue, cor, cheiro
Forma, sangue, cor, cor, cor, cor.
E mais cinco milhões de alucinógenos
No vermelho desse meu entre-pele.

Anoitece.

Mariana do Rego


Soneto da animação

Mulher, eu sou
homem demais;
homem, eu sou,
mulher jamais.

Mulher, eu sou
homem gentil;
homem, eu sou,
mulher não viu.

Homem que sou,
mulher, quer ver,
para deixar, para querer.

Mulher, eu sou
homem total,
do homem só, eis o final.

Roberto Armorizzi



Sem redenção

Eu já fui a cartomante,
curandeira, macumbeira
Já fiz tudo que é promessa
pra santo e padroeira
Busquei norte no oriente
Decorei o kama sutra
Já dancei dança do ventre
Já andei até de burca
Já cantei tudo que é mantra
Meditei, tentei o tantra
Indaguei i-ching:
não respondeu
Apertei do-in
e mais doeu
Dei a volta ao mundo
Tentei de tudo
e nada
Ao sul do ocidente
resto
ainda mais descrente
Porque você, meu único redentor,
é de concreto,
e mente com seus braços abertos

Beatriz Tavares



Sobre a esquisitice

É covardia
da flor vadia
ter cores utópicas.
Tem tempo em mim
Beijos todos soltos
Sem coleiras
Cólera em mordidas
Grafotecnias vãs.
É covardia
Desta flor vadia
Vagar insólita
Pelos meus sentimentos.
Pelos teus pêlos
Meus beijos
Largados
Nas cores do teu colo
louco.

Renato Limão



Saber de sempre

Pesquisei o amor
E fiquei pontinho
Com a falta de atitude
Que ainda em nome
Do sentimento pelo qual falo,
Complexa
O que fazer com a dor do sozinho?
Se a sentem por uma tela
De exemplos anotados,
Seus tabus vão nas faixas
Pobres homens
Deixo de lado os lápis –
Que não sou eu mesmo
Durante procura porquanto vacilo
Agora só para
Virar esta página
E provar neste estudo, o afeto,
Desculpem-me,
Que quem nasceu pra sofrer,
Muito obrigado,
Nota dez de adivinhas,
E repetidor de seus fracassos
Tão triste que não cabe divulgar.

Rod Britto



4 Comments:

At março 21, 2006 1:51 PM, Blogger Beatriz Provasi said...

Parabéns, Alex, ficou linda!!!
Mas vc comeu meus três últimos versos:
"Porque você, meu único redentor,
é de concreto,
e mente com seus braços abertos"
Ah, e Tavares é com "s", e não com "z".
Se der pra corrigir...
E pode deixar, que eu tb vou dar um gás na divulgação!
Beijos!

 
At março 22, 2006 6:40 PM, Blogger Fernanda Antoun said...

Diego, assino em baixo :toda a poesia da mariana é num crescendo espantoso!
Aliás, quanto a tudo isso, adorei o comentário da lili no último bloco de poesias, q se ela tivesse q dizer qual a melhor poesia da revista, não teria como!!É isso!!
Q a Palavril reuna o q há de melhor nos subterrâneos da literatura que se faz no agora do Rio de Janeiro!

Bia, querida, mil desculpas!! Já foi tudo corrigido.

Galera, divulguem essa idéia!!

alex topini

 
At março 24, 2006 10:29 AM, Blogger Beatriz Provasi said...

Imagina, Alex, não precisa se desculpar, acontece nas melhores revistas!
Vai ter CEP 20.000 nesta terça, dia 28. Pinta lá!
Beijos!

 
At abril 01, 2006 3:55 AM, Anonymous Anônimo said...

Belíssimos sonetos! Turma boa essa!

abraços e parabéns

 

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