ARMORIZANDO EM CORES – UMA TRAJETÓRIA ARTÍSTICA

É tão fascinante o “delírio” que as cores nos proporcionam. A emoção delas advinda é tão surpreendente.
Quando se fala em técnicas ou quando se revelam preocupações com textura, matizes, nuances, chapadas, perspectiva linear ou de luz e sombra, etc., coloca-se um pouco em esquecimento o “delírio” das cores e a emoção. Parece que o envolvimento racional e consciente com essas questões afasta a liberdade de expressão.
Minha vivência pictórica passa à revelia dessas perfeições, as quais reputo imperfeitas do ponto de vista da real entrega.
Cores descompassadas e muitas vezes sem a devida combinação, trazem à consciência, com surpreendente inteireza, fascinantes revelações vindas das profundezas do inconsciente.
Vivo intensamente as cores, “harmonizando-as” num curioso
estilo de modo desconfigurado por um profundo mergulho em “perfeitas texturas”, ao sabor de imperfeições formais. Essa libertação pictórica, solta de padrões pré-estabelecidos, que prima por não “aprisionar” a verdadeira e incondicional criação, mobiliza e eterniza o meu ser.
Devo ressaltar que, voltando o olhar para a atual contemporaneidade, onde a falta de tempo hábil, a diminuição de espaço vital, a evolução tecnológica e tantos outros fenômenos estão mudando completamente a nossa civilização, percebo que não vale tanto à pena a procura de detalhes e a busca pela perfeição técnica, pois tudo é rapidamente desfeito pelas mudanças que ocorrem a nível global, as quais conseqüentemente coloca o homem contemporâneo num processo de “mutáveis imperfeições”.
Por esse caminho avalio a importância da pintura contemporânea, que além da busca pela experimentação que lhe é peculiar, traz em seu modo de ser encantadoras imperfeições de forma.
O ser humano, com a infindável inquietação que o tem levado a procurar o belo e o tem induzido a rejeitar a fealdade, vê-se estimulado a querer sempre consertar o que, mesmo de forma ilusória, se lhe apresenta defeituoso.
Acredito, pois, numa espontânea autenticidade que me faz ficar próximo cada vez mais das formas imperfeitas, como que objetivando um contato extremamente fiel com a natureza, com o que existe de concreto e também abstrato, sem querer tornar perfeito o imperfeito ou vice-versa. Pelo contrário, desejo experimentar através da obra de arte a autêntica imperfeição das formas reveladas no que se vê e também no que não se vê, procurando encontrar a beleza também dentro da fealdade.
Portanto, apoiado nesses e em outros argumentos, creio ser esse o ideal de meu propósito artístico. Assim pensando, chamo minha obra como um todo de Imperfeccionismo Contemporâneo.

Roberto Armorizzi.