JE VOUS SALUE MARIE

Anônimos possessos
Se seduzem
Ferrenha luta
A conquista ...
Macho versus fêmea
O anjo se retira
Uma estocada
Jaz sangue sobre organdi
Das dores deu lugar
A prazeres
Das trevas à luz
Fiat luz
Se constituindo
Simplesmente
Maria.

Dalberto Gomes



Eu

A força de minhas palavras tem toda fraqueza do mundo.
A beleza de meus versos, toda a feiura do mundo.
A alegria de minha música, toda a tristeza do mundo.
A pureza de meu ser tem toda sujeira do mundo.
Sou forte, porque sou fraco.
Sou bonito, pois sou feio.
Alegre, pois sou triste.
Sou puro, porque sou sujo.
Vivo na cidade e no mato.
Pedras e árvores são o meu meio.
Em meu lugar, ocupo espaço
Com cuidado e sem receio.
Simples e mágico.
Comum e solitário.
Cômico, trágico.
Sou tudo, porque sou nada.
De carne e de osso, à estrada.
Sou fato.
Exclusivo.
Único ato.
Imperfeito.
Impuro.
Sou assim.
Sou Renato.

Renato Touzpin



Brincadeira de lembrança

Um, dois, três: lá vou eu!
Extensão do habitat, partícula da picula...
Pula, pula sem cabeça a mula
Três, dois, um: mas não é pra qualquer um!

Pêra, uva, maça, salada mista
Gororoba da galera, beijo meu não insista.
Pista livre, libertos os que na infância existiram
Seres serenos e leves das dores que não os consumiram!!

Vou contar até 10!
Muitos vem, muitos vão
E quantos hoje são reféns?

Um, dois, três salve todos!
Apologia à fugacidade da cancerígena existência,
Apelo à veracidade pelo resto de essência...

Danyele Barros


Grupo e o Cara

Um tiro na cara;
Um grupo , um cara
Afinal... sempre lidou com a rua
De forma crua, autodidata!
Unir-se a um meio...lhe mata
Conter sua produção, sua evolução...
Por ver alem da racionalização?
Caia, ser genial!!!
De caráter animal
Que enxerga outra dimensão
Que enxerga o que não se vê
E se escreve...pra ninguém lê
O mundo se distancia .... lhe desperta agonia
E assim ele cria,
Se torna via tradutora do que se está calado
É menos lembrado... acuado
Que povinho desgraçado!
Engatinha!...gentinha!
Que se cega a um poeta
Questionador da seta imposta por alguém
Não se sabe quem!? Covarde...
Pois ao poeta não encara
E o grupo versus o cara

Marcelo Felippe

Woody Allen em Manhattan

o ônibus de turismo entrou na minha rua
lá dentro nos davam cerveja
tanto que eu morgava na janela
uma janela do corredor direito
vendo a vida passar, sempre assim
até que você se destacou
roubou a cena quando se levantou
do nada meu amor saltou
e eu, bebendo, fiquei
bares que rodeiam as universidades...

o ônibus seguiu viagem
e me bateu um forte arrependimento
tão forte que me fez saltar
na esperança de te encontrar
pra dizer que te amo

corri pela rua perpendicular à minha
me sentindo woody allen em manhattan
não te encontrei, me desesperei
até que te vi, ao longe, de pé, na calçada
virada para mim, contra o tráfego
gritei teu nome e você saiu correndo
e eu corri atrás de você, loucamente
pra dizer que te amo
todos dizem "eu te amo"...

enfim te alcancei e você me surpreendeu
pediu um beijo de cerveja
foi tudo tão bom, bom...
corrói por dentro pensar que acabou
tanta cerveja me faz lembrar
que sou apenas mais um típico farto
subproduto de bar
mas toda noite, antes de dormir
ainda penso em você
querendo sonhar contigo outra vez
penso que poderia ficar ao teu lado para sempre
talvez...

teus olhos são lindos
cheios de colégio interno

Felipe Cataldo