APÓS A CIDADE

busco o esqueço
mas eu não conheço
a mala de dentro
a dor
na cidade apagada
o que vai
pelo esgoto
por baixo
dos passos
calçados
e rodas borracha
borrachas idéias

costuro as esquinas
na máquina de passos
dobro as visões
no bolso
em exclamações
fecho-me porta
e esqueço
agora
verbo amanhã

carlos de hollanda


Meu canto
Tijuca
catarse populacional
ilha de asfalto
cercada de morro por todos os lados
guerra civil
Barracos na mata atlântica longe do oceano
barracos barrocos
guerra civil
Nobreza suburbana
gentinha pré-túnel
guerra santa
Beira da estrada porética
berço cultural renegado
cafezal desmontado
pós-colonizado
Floresta de seres comuns
animais isolados
observando janelas
vendo a vida
vendendo a morte
Terreiros católicos
igrejas de ubanda
guerra santa
Vale infernal
bairro nada bairrista
fotocópia atrasada
nada
Diego Tribuzy


Os meninos que cresceram comigo

Os meninos que cresceram comigo:
Destinos tão diferentes.
Tantos credos!
Mulheres, beatas, vestidos longos, mangas compridas;
fechando o corpo, fechadas para a vida:
As mães dos meninos que cresceram comigo.
Esses meninos tinham sonhos.
As mães rezavam.
Eles matavam os sonhos.

Os meninos que cresceram comigo, alguns, hoje, estão nas páginas dos jornais:
Meninos que podem não mais crescer.
As meninas que cresceram comigo, não podem mais estudar:
Tão cedo fizeram outros meninos...brincaram de gente grande.
Fizeram meninos que talvez se armarão de educação;
Talvez crescerão;
talvez serão diferentes dos meninos que cresceram comigo.

Arlete de Andrade

Raça doente
Pré-dispositora ao ópio
Engana-te a cada passo...
... massa doente

descarrilhada e descrente
mal paga de si mesma
impermeável a aura...
...árida , inválida...
...invariável de rir

rasteja como eu
fragmento de ti

massa pensante
que nos condena
massificadamente...
... a existir

Marcelo Felippe

LUNAR

Da lua sai a dor dos muitos,
que pairam azulados de fome e frio,
carcomidos, os meninos.
Vendem seus corpos, à noite, as prostitutas,
roubam seus dinheiros, os bandidos.
Disfarçados de inocentes, os gatos
trepam pelos telhados,
encontram os restos
da louca, jogados fora.

Elaine Pauvolid



RUSH

O
Túnel
É
Uma
Viagem
Que
Não
Se
Pode
Parar
No
M
E
I
O

Iara Rocha


MORAL DA HISTÓRIA

estende o hálito da tarde sobre mim
dia suspenso
dia que perdi num lapso branco revestido por vermelhos avos
e emergido assim da treva em cores de marfim

há lápides no ar
extensos ritos sons dispersas iras
tal cravos de arlequim
e sorriso nenhum sossego
pânico nenhum
só me espargiu o travo desse dia resgatado ao desterro

não ir é o meu caminho
e a nula urgência e a falta de motivos
formam pacto comigo
estou só
e este dia é meu único abrigo.

Aldemar Norek

1 Comments:

At março 01, 2007 6:06 PM, Anonymous Anônimo said...

Excellent, love it! » » »

 

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