Editorial


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* Para acompanhar o lançamento dos próximos números da Palavril, envie um email para: palavril@yahoo.com.br



Moreno-pele levantado
Um peso de saco em tripas grita:
Um Câncer.
(fere num querer de quintas quietudes)
(avisa pudor de proibições precauções)
Corpo desfigurado despenhorado
E
(pausa)
Despedida
Incrível tatear-unhar denotado de despedida
Um ser cancerígeno aloja em texturas
E
(pausa)
Despedida
Estranho tatear-dedar conotado de despedida.
Amarelo-pele recostado
Acostuma essa amargura
Resiste uma saliva
E
(pausa)
Sem mais despedidas.

Mariana Souza do Rego



OS TEMPOS SEM NÓS

venho da voz
que camufla
o dito e o vazio de espaços

vago no filme velado
na câmara escura fingida em cortinas

voltei à sala
onde retratos se amotinam
das molduras
e amordaçando o passado
rebelam-se do presente

retornarei
como se a vida fosse refém
de papéis
impressionados de seres
paralisadas
na intenção de depois

Carlos de Hollanda





(leia no volume máximo)

percorro caminhos lógicos
com a precisão de um poeta
e abasteço
os arsenais da dúvida com delicados lances
descalabros
tomados por empréstimo ao Acaso

retiro as luvas de pelica
e toco o mundo
quente espesso
áspero insano
vertendo entranhas de uma tarde imprecisa:
compassos sem métrica
regem o meu torpor danificado
-UM VILIPÊNDIO A MAIS E FICA TUDO UM BRINCO

retiro também tudo o que disse
sobre qualquer paraíso
- territórios para sempre inacessíveis

Aldemar Norek


DESALENTO

Trago a luz
que escolhe confusa,
a dor-memória desconhecida.
Tento alcançá-la,
mas nunca está onde meus dedos chegam.
Sigo triste e dói-me o corpo todo.

Elaine Pauvolid



Aquela velha história de não saber quem sou


Pisando em ratos
Me desfaço da tortura
Ocasionada pelo medo
Do passado, da vida, dos fatos
Inapto
Vago em vão e volto pelo rastro
Um astro me guia
Na chuva do dia
No escuro da estrada da vida
Em cima
Da linha certa
Ultrapasso os limites
Na pista reta
Dificulto até o que não existe
Insisto
Do meu sossego
Tenho necessidade
Privatizaram minha privacidade

Diego Tribuzy


NÃO VOU AO MEU ENTERRO


Para evitar o cheiro das flores
O choro do meu inimigo
O encontro de meus dois amores
As roupas apertadas
Parede de madeira envernizada

O sono silencioso dos sonhos
A maquiagem fora de moda
Rabecão correndo sem cuidado
Pertences pelo coveiro roubados

Eu virar santo
Qualquer um da autópsia
Desnudar o manto
Um padre desconhecido
A missa comprada
Uma reza obrigada
E em vida me lembrar
Que não fui nada.

Marcelo Girard



Interseção
por Sheila Louzada

Conheceram-se em uma interseção de contos.
Ela era uma jovem senhora dos anos 40 batendo os tapetes do lado de fora de casa. Uma personagem secundária no meio da linha narrativa do mesmo escritor que a história dele.
Ele, um homem dos anos 90, deitado na cama, deprimido e reflexivo.
O escritor parara de pensar nele para continuar a história anterior, que era a dela, e acabou se confundindo. Uma cena sobrepôs-se à outra.
Ela o acertou com seu tapete sem querer.
Ele disse: "Ai."
Ela lhe pediu desculpas, explicou a situação, e ele se comoveu com o inusitado. Futuramente, contariam sua história de amor de como se apaixonaram sem nem existirem.
Mas, droga, eles faziam parte de histórias separadas que sequer chegaram a ser contadas.
Desapareceram sem nem saberem o nome um do outro.





O processo de criação
por Marcos Fiuza

Pensar em literatura como uma manifestação artística totalmente desvinculada do saber epistemológico e mais ainda, considerar todo processo de criação fruto de um rompante inspiratório baseado em “instantes mágicos” que levam o poeta a criar sua obra a partir de sentimentos momentâneos, nada pautados pela razão, é no mínimo um equívoco. O que muitos podem vir a chamar de “inspiração”, considero ser o despertar inicial de uma possível matéria-prima para um futuro desenvolvimento de uma obra. Com isto, creio ser mais conveniente denominar esta “inspiração”, como sendo uma inicial idéia, e nunca o fim. O fazer poético é, sem dúvida, um processo árduo e trabalhoso. Não gostaria, aqui, de criar polêmicas ou até mesmo despertar indignação daqueles que acham possível criar versos “fast food” baseados naquela tal “inspiração”. O mais importante é trazer para o foco da discussão essa questão, que possivelmente interessa a todos aqueles que participam de movimentos artísticos e/ou são autores.
Pensando um pouco sobre o assunto, podemos fazer algumas comparações simples que nos levam a melhor organizar as idéias. Imagine um músico que, em um primeiro momento, tem uma idéia norteadora e intenciona usa-la em uma série de composições que pretende compor. Se pensarmos em um processo criativo que descarta a necessidade de uma base epistemológica forte, ou até mesmo, na ausência deste conhecimento, um forte empenho intelectual que o capacite a desenvolver satisfatoriamente seus objetivos, é de se duvidar da real qualidade do “produto” artístico desenvolvido por esse músico. Será que Bethoven comporia suas sinfonias pautadas apenas em “inspiração”? Ou talvez Picasso atravessaria todas as suas fases sem conhecer a fundo a pintura? Acredito que não. Indo um pouco mais além, poderíamos nos indagar se Platão realmente expulsaria os artistas da República, se considerasse as obras por eles desenvolvidas algo oriundo apenas de mera “inspiração”.
Acredito ser o poeta, antes de mais nada, um pensador, que capta o mundo a sua volta e transforma-o em versos. O olhar, lançado pelo poeta, sobre as coisas é único, singular, é a sua particular experiência sensível, que transcende e emociona sem se preocupar. A dolorosa batalha travada entre o poeta e o papel, é digna das mais heróicas novelas de cavalaria. Este combate, em que a razão e a sensibilidade se digladiam, reflete o duro e infindo combate travado entre o poeta e seu mais fiel inimigo, sua consciência. Assim termino com exemplares versos de um poeta exemplar:

Gastei uma hora pensando em um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.

Carlos Drummond de Andrade

* Marcos Fiuza
Poeta, professor e pós-graduando em Literatura portuguesa e literaturas africanas de língua portuguesa - UFRJ
mvfiuza@yahoo.com.br


GAROTO DE SORTE
por Bruno Borja


Subir o morro era uma moleza. Difícil era descer. Por isso eu armei um esquema com a rapaziada, pra sempre que a gente saísse do morro com bagulho.
Quando era uma missão rápida – subir até a boca e descer – íamos sempre em dupla. Um ia com o dinheiro já contado no bolso (normalmente eu), comprava a maconha e ficava com ela na hora de descer. O outro esperava um pouco antes da boca e descia na frente. Se, chegando na rua, estivesse tudo tranqüilo, ele esperava na calçada. Mas se tivesse sujeira, continuava andando sem parar.
Assim, se o da frente fosse parado não ia ter caô, porque não tinha nenhum flagrante. E o de trás tinha tempo de dispensar o bagulho.
Geralmente era bem calmo, mais ainda em dia de baile. Muito movimento. Tanto de gente, subindo e descendo. Quanto na boca, vendendo pra caralho. Então, sempre que íamos ao baile do Salgueiro, comprávamos uma maconha na subida, fumávamos de montão e descíamos com alguma coisa.
Mas nesse dia foi diferente. Estávamos em cinco e na hora de descer foram três na frente. Atrás fomos eu e Rebouças. Tudo ia bem. Até que os da frente chegaram no pé do morro e, depois de alguma hesitação, atravessaram a rua sem olhar para trás.
Pelo meio da ladeira, eu e Rebouças tomamos um susto. Dispensei meu bagulho e falei pra ele, coé cumpade joga fora essa porra!
Ele travou.
Continuamos descendo normalmente, pra não dar bandeira. Ele com a maconha na mão e eu puto, pensando, caralho que garoto! Por que não dispensou o bagulho!
Quando chegamos na esquina, vimos que vinham um gol e uma blazer da polícia. Apagados e pela contramão da rua enfrente à ladeira. Atravessamos a transversal e passamos do lado deles, preocupados.
Foi aí que um polícia botou a cabeça pra fora do carro e falou zoando, tá tudo na mente, né playboy.
Mal sabia ele. Passamos batidos. E depois ficamos todos discutindo quem tinha agido certo. Eu, que dispensei o meu. Ou ele, que ainda tinha o dele.


Personagens - parte 1
por Aguinaldo Ramos


Viagem

São estreitos os espaços,
criar é que é amplo!
Abrindo caminhos aos sonhos
Personagem reboca frágeis brinquedos
exemplos de improváveis futuros.
Brinca de ser.
Brincar é fermento.
Faz do barquinho navio
da nesga suja de mar oceano
da mão no barbante
a perfeição do poder.
Enquanto não zarpa
a frustada nau do futuro
a transatlântica imaginação
assume o comando,
âncoras fora!
Fora de si
Personagem circunavega
as próprias misérias.






Reflexão

É um tempo de deuses confusos...
Grande é a mistura de forças
das trevas, do alto ou do além
espalhadas pela paisagem
enchendo a cidade de eflúvios.
Cercado de apelos
Personagem mantém diversos rituais.
Sempre se empanturra
aos deuses da gula,
às vezes se encharca
aos deuses do vinho
(quiçá, da cerveja...),
quando pode se esporra
aos deuses do amor,
ora ora
aos deuses da hora...
De todos é mais devotado
aos deuses da forma:
facilitam acesso aos demais...
Pratica as reverências possíveis,
algumas ousadas, outras ridículas,
todas absolutamente necessárias
enquanto as agüenta...
Foco
Desencavando a história
Personagem abre uma janela no tempo
o passado aparece aos pedaços.
Do painel encardido da memória
ressurge em imaculada figura
a figura inventada.
Esse passado é mesmo pintado à mão
mera e pura criação...
Com os pés no chão
Personagem sente à frente de todos
que de então
restaram maneiras e modas.
Tem a nostalgia nas vestes
e a saudade nas mãos,
um ar antigo de pierrô
apaixonado por nada...
E no presente procura
quem quisera ter sido,
extático na expectativa de ainda ser
o admirado ser que não foi,
mas (se) vê...
E olha
que há quem o siga...
Negócio
A vida é negócio.
Tudo pode trocar de mão, de lugar ou de dono.
No peso relativo das coisas,
as sombras se mexem
quando mudam volumes maiores.
Tudo varia em valor:
a regra é o câmbio.
O peso de hoje é o bem de outrora.
A máquina fértil de então
limita o produto de agora.
Livre ou não, a vida é uma feira.
Há quem seja dono das peças.
Sobre as máquinas e os corpos
a ambiciosa mente humana
calcula seus ganhos.
Preso à simplicidade dos seus valores
Personagem sustenta sua base.
A vida que expõe à venda
é a vida que leva.
Se depende da vida que leva,
se faz os seus lances por sobre esta vida,
assim sobrevive, sem lucro.
Sobreviver já é lucro...

Amor
As coisas mais simples são conjuntos
de coisas mais simples.
Nada escapa à simplicidade do complexo.
Tudo é geral.
Quando isolado em sua natureza
Personagem estremece
e o todo do seu ser se parte.
Sente que,
só,
é só uma parte...
Brotam lhe possíveis os liames,
permeiam-se as chances,
vazios se preenchem:
prenhe de fé,
então,
ama.
Entre a poesia fractal do arvoredo
e a prosa geométrica das pedras,
Personagem reencontra e enlaça
a semelhança humana.
Dura o infinito
esse raro momento
em que o amor o faz
completo.



Veja bem,
nem todo fogo
é de artifício
nem todo osso
é de ofício
nem toda carne
é de pescoço
nem todo fruto
chupado é caroço
nem toda matéria
é disciplina
nem toda poesia
é rima
e eu...
não rimo com nada disso!
sou fogo!
de carne e osso
sou fruto
de matéria e poesia

Bia Tavares

Romanticismo

Rege a bússola
Aguça esse ciclo estático
Do qual sou;
O qual Deus criou
Invenção revestida de zelo
Um reles apelo
Interrogado em itálico
Fizera o ser?
Fizera o pão?
Fizera o homem lhe dando a perfeição?
Deus...
Rega-me de razão
Me faça o mais genial
e eu reinarei essa esfera
Onde impera o intelecto
Sustento de um fardão estético
Aquém da esclerose
Deus...Me cegue à posse
Me faça amável, pagão deplorável
Por tão poucos imaginável
Me faça amor mestre
E assim não me conteste
Como contestas esta criação...
Que brotara do coração teu
Senhor ... me faça ... eu.

Marcelo Felippe


POEMA AUGUSTO
Para Augusto dos Anjos

Angústia
Palavra ígnea
Anêmica e contagiosa
Senhora das horas
Tardias
Faminta de vida alheia
- Luto -
Mas não me livro
De tua sonda
Em minha
Veia

Iara Rocha


O HOMEM PARTIDO

O homem partido
Segue fingindo unidade
Segue sentindo saudade

Meio homem / meio embaraço
Meio vida / meio contágio

Meio cidade / meio riacho
Meio rotina / meio anti-ácido

O homem partido
Segue em febril caminhada
Segue entre a cruz e a espada

Meio profeta / meio piada
Meio viola / meio guitarra

Meio vadio / meio de casa
Meio sentido / meio pirraça

O homem partido
Segue contando as migalhas
Segue esbanjando risada

Meio música / meio compasso
Meio canto / meio desabafo

Meio canção / meio cantada
Vezes tudo / vezes nada

Fabiano Parracho


Correspondência

Ensaio
enceno
enfraqueço e caio,
a carta não
sai
sucinta.
Sinto extrema angústia
frente à pálida verdade crua
Não há palavra à frente.
Bastaria
pôr no correio
Um beijo.

Renato Limão



No dia em que Quixote acordou
O mar não brilhava como se por sobre ele boiassem pepitas e diamantes
Era agua salgada com biodiversidade e possibilidade de navegações distantes
As borboletas não dançavam entre os mil tons de verde vida tropical
Eram lepidóporas sobrevivendo em um matagal
No dia em que Quixote acordou
Já não havia pomba branca, amor de cão, olhos de lince e abstração
As piadas já não faziam sentido aos despertos ouvidos
Os cientistas riram sentindo-se os tais
Os poemas perderam para os memorandos e editais
As crianças precisaram de educação e porrada nas escolas municipais
Os generais dirigiram filmes
Os presidentes mostraram os dentes
Os teatros viraram igrejas evangélicas de alto valor astral
As mulheres na cozinha cantarolavam as leis do código penal
Os moinhos continuaram a trabalhar com o vento
Mastigando sementes e o tempo
Com o vento
As sementes trituradas e o pó
Como ventou...
No dia em que o pássaro negro pousou
E foi de pão e água a barriga
De não e nada a vida
De silêncio e ócio a mente
Faz isso não nego...
Faz isso não.

Daniel Paes


Litografia
por Ana Claudia Menezes

Técnica de gravação por processo químico em pedra calcária. Para o desenho ou impressão, são utilizados materiais gordurosos, e para gravação utilizam-se ácidos.

A Litografia enfatiza os traços, e eu posso explorar bastante as técnicas de desenho na pedra, utilizar outros materiais gordurosos na composição que vai acontecendo aos poucos uma vez que, alguns processos são demorados e dessa forma o desenho vai se transformando a cada etapa do processo de gravação, culminando na impressão como resultado final.

O processo de gravação exige dedicação para que ocorra corretamente, pois ao contrário das outras técnicas de gravação, na litografia a matriz é perdida, portanto haverá sempre um numero limitado de provas de uma mesma matriz.



Estes trabalhos foram realizados durante o ano de 2005 no atelier de Litografia da Escola de Belas Artes.





























Final
por Guilherme Tolomei


O encontro deu-se no metrô.

- Está tudo acabado.
- Como assim tudo acabado?
- Você entendeu.
- Calma, aí, eu...
- Não podemos mas continuar assim.
- Assim como?
- Será que é tão difícil perceber o fim de um relacionamento? Será que não sente o tédio, a incomunicabilidade, a ausência?
Há uma pausa.
- Não pode ser.
- Acredita, dessa forma será melhor.
- Você está brincando.
- Sem vexame, por favor. Vamos tornar as coisas mais fáceis.
- Não sei do que você está falando, não sei quem você é, nem ao menos sei como se chama.
- Já se esqueceu como me chamo. As coisas estavam piores do que eu imaginava.
- Volto a repetir, senhor, não te conheço. Nunca te vi na minha vida.
- Não pensei que você tivesse tanta mágoa de mim.
- O senhor deve ter algum problema.
- Além disso me ofende.
- Calma, não é a minha intenção.
- Nunca é a sua intenção. Você quer que eu ache que não tenho passado e, na verdade, sequer existo.
- Não! Não!
- A partir daí, vou criar inúmeros traumas. Minhas lembranças desfilariam inverossímeis pelo palco da memória. Seria seu grande triunfo.
- Mas pode ser que seja eu a culpada. Posso ter descoberto meu desatino. Minha mãe vai perguntar como foi o encontro com meu namorado. Mas que namorado? Eu tenho namorado? Vou descobrir que minha mãe morreu há dez anos. Ou será que não morreu?
- Calma, também não precisa chorar. Eu estou aqui. Lembra-se daquele dia em que...
Os dois começaram a conversar. Ela falou do robalo com alcaparras que sabia fazer. Ele contou como se conheceram em uma exposição de pintura.
Divertiram-se. Foi então que ele olhou fixamente para os olhos dela como se ali existissem todas as verdades não ditas, beijando-a.
E nada mais aconteceu. Ele virou de costas e foi embora. Desde o início, estava decidido a terminar tudo.



O que é a midia não-corporativa?
por Vinicius Longo

Essa pergunta veio a tona na última reunião do Centro Nervoso que aconteceu no dia 06 de maio, as 16h na Associação de Moradores e Amigos de Laranjeiras.
Bom, é fácil explicar quem são: Rádios comunitárias, zines, jornais de bairro, blogs e veiculos eletrônicos (sites) ligados a literatura. Enfim, são veiculos que não correspondem a um único sistema de comunicação, conhecido como hegemônico. Isto é, não possuem um objetivo comum, que seria algo como manter o atual sistema de comunicação, socio-economico. Pois assim, eles se mantêm bem, e o comércio inserido nessas midias também continuam bem, e mais que isso: aquilo que essa midia quiser mostrar, ela mostra, o que ela não quiser mostrar, simplesmente não mostra...
Alguém aqui já ouviu falar do Forum Social Mundial?
Ou ainda, ela passa a mostrar uma realidade local, como uma realidade nacional. O que muitas vezes, não é verdade...
Esses veiculos possuem entidades conhecidas na teoria da comunicação como "Agenda Setting", que são assuntos que normalmente acontecem com regularidade e costumam chamar a audiência para um objeto comum, como a Copa do Mundo, que acontece de quatro em quatro anos, eleiçoes, olimpiadas, fatos tradicionais como Pascoa e Natal.
O mais engraçado é destacar que hoje essas duas últimas datas possuem um grande apelo comercial. Isto seria por acaso? Bom, deixo vocês com suas próprias observaçoes.
O grande barato é a midia não-corporativa. Que são realidades de pequenas e médias midias que se focam em seu público-alvo que são bairros, uma comunidade voltada a literatura, ou ainda a politica, em que cada um tem a sua visão de mundo, e por isso, elas não são consideradas hegemônicas. O ponto mais interessante seria pensar, "e se essas midias se juntassem, se conhecessem e trocassem figurinhas, O que daria?"
Eita, coisa boa!
Por isso, eu convoco todos os possiveis veiculos não-corporativos e não hegemônicos a se juntarem ao Centro Nervoso, uma reunião mensal de algumas publicações localizadas no estado do Rio de Janeiro, que reune hoje aproximadamente 20 veiculos. Acontece todo primeiro domingo às 16h na AMAL - Associação de Moradores e Amigos de Laranjeiras, para conversar sobre como se desenvolver humanisticamente e depois profissionalmente.
A próxima reunião é dia 04 de junho.
Espero você lá!

Acesse a comunidade no orkut e se relacione com os participantes: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=7996152&refresh=1Qualquer dúvida, sugestão ou critica, pode ser enviada para http://br.f349.mail.yahoo.com/ym/Compose?To=centronervoso@gmail.com

* Vinicius Longo é poeta e palhaço vinicius.longo@gmail.com





Caos orgânico

Dentro do corpo,
corre a seiva animal,
o sangue vital
que irriga as entranhas.
O caos se instala,
vencendo a doente luta,
infeliz não sente,
por isso, cala-se
de antigas façanhas,
em som sepulcral,
em silêncio total,
dentro do corpo.

Morto num corpo,
sendo assim, vegetal
em luto final,
relembrando as façanhas.
A sombra que cala,
Ao olhar seu poente,
vigor decadente,
por isso não fala
de dor nas entranhas,
finito mortal,
carrega ideal
vivo num sopro.

Roberto Armorizzi


CRIME DOMINICAIS

Tarde de domingo
A morte se avizinha
Gosto de sal do almoço .
Sol resvala no crepúsculo
Ansiedade ....
Arrotos tépidos
Estocada no peito
Cervejas vazias
Corpo na cama
Esqueleto na poltrona
Silêncio quebrado
Gargalhada do Silvio Santos
Valha-me Deus.
Ao longe o assovio da rádio Globo
Anuncia que é tarde de futebol.
Domingo
Saco... respingando angústia
E tédio

Dalberto Gomes


Todo Lugar Tem o Direito de Ser Lindo

Todo lugar tem direito de ser lindo
seja triste, seja findo,
todo lugar tem direito de ser lindo.

Todo livro tem direito de ser lido
seja uma estrófe, seja um capítulo

Toda flor tem por direito ser bela
seja no jardim ou num vaso na janela

Todo perdão dá direito a uma segunda chance
seja ela verdadeira ou só de relance

Toda vida tem o direito de ser vivida
seja passagem ou despedida
despida de corpo ou esculpida de alma
onde a vida é serena.

Valeu a pena?
O poeta em Pessoa diz:
"tudo vale a pena se a alma não é pequena"

O que importa é ser feliz
ainda que de raspão,
ainda que por um triz.

Por essa ou por outra razão,
por isso ou por aquilo,
sigo meu caminho tranqüilo

Meu compromisso é com a tal felicidade
velha conhecida da maturidade;
daquela que expressa vincos
mas não tem maldade;
que traz marcas no rosto
mas não por desgosto;
que traz rugas despreocupadas,
fruto de algumas risadas

certa dor decerto trago no peito
mas trato com respeito
profundo suspiro
vou ao fundo, me viro
e volto à superfície do ser

respiro ar puro
faço o meu futuro
no presente momento
ausente de medo,
repleto de amor

Clauky Saba


MANIFESTO


Eu vi a violência explícita
Meninos maravilhosos
Antecipando a morte

Não era uma partida de futebol de rua
Tentavam a sorte
(a violência como manifestação)

Fica aqui a pergunta:
Quem é o vencedor?!

Atenção!
Atenção!

Que a ARTE seja a guerra do homem
Para não ficar na moldura do sistema
Esse bang-bang sem solução

Homens doentes
Mentirosos
Ostentando o poder

Há tempos em de cadencia na tela
Paulo d´Athayde


Eu orvalho cedo o que restou do sereno.
Abelhas zumbem em folhas suas asas,
um raio atinge pela janela o concreto
de relações que não se gaivotam,
abre-se em árvores
trilha para o nada
montanhas de pico alto são difíceis de chegar

Gregory


Sua Pinta

Um detalhe, uma marca
Um símbolo de nascença
Uma lágrima na sua face
Uma pinta no seu corpo
Num ponto estratégico
Uma azeitona sem caroço
Um girassol sem semente
Uma flor sem perfume
Seu aroma, sua pele
Sua pinta! Seu corpo!

Um cristal no seu corpo
Um brilho do seu diamante
O barco na imensidão do oceano
Um corpo na multidão
A estrela na constelação
Uma ave sobrevoando a floresta
Meu espermatozóide no seu ovário
Seu aroma, sua pele
Sua pinta! No meu corpo!

Ricardo Muzafir




O choro
por Rafael Alvarenga

Dentro da envidraçada casa amarela algumas luzes cochilavam. Fora dela, o inverno era o feto frio da noite. E enquanto o vento assobiava entre as frestas e levava consigo a claridade, um certo som provocava a tranquilidade. Gotas eram trazidas pelo vento. E hesitavam acerca do pouso. Repicavam nas persianas. Todavia, ainda assim, Janelas e vidros fechados eram riscados pela água. Nessa vulnerabilidade, interior e exterior ligavam-se pelos olhos. A tv morta na estante, encolhida, cega, reprisava a programação noturna de sempre. Era tarde. Apenas um choro cansativo de recém-nascido esboçava vida. Na casa amarela, nada de retratos portados atrás de vidros. Comportado, o passado assentava-se no passado. Ema embalava o feto já rebento envolvido em uma manta rosa. Sentia frio. Precisava de uma xícara de chá. Porém, preocupava-se com as queixas chorosas da criança. Se ao menos tivesse leite, pensava. Mas de seus seios duros nada de colossal haveria de ser sugado. No máximo algum marmanjo desejaria-os com avidez. Sem problema, o leite do supermercado já estava quente sobre o fogão. Posto então na mamadeira foi confusa a recusa da criança. Seu choro crescia. Enchia os ouvidos. Desbaratava as ações. Penetrava agudo e prolongado na percepção. E entre os intervalos reais, quando aquele feto já rebento tomava fôlego para retornar a tortura do grito, um eco indelével prolongava-se no interior de Ema. O desespero a encaminhava a Deus. Mesmo assim, os gritos voltavam e pareciam penetrar-lhe o ser com toda a tenacidade. Com toda aquela boca estridente e sem dentes. Ema sentia-se oca. Sim, a criança alcançava-lhe o oco do ser. Aqueles berros entravam e saiam da porta de entrada dos ouvidos ao capacho dos pés, sem respeitar a acidez do estômago vazio. Precisava de uma xícara quente de chá. E o tempo desperdiçado com a mamadeira... E a recusa seca daquela ejaculação precoce. Tudo isso era escabroso. A revolta parcial perante aquela indistinta inércia da comunicação, servia então, talvez, de impulso primeiro. Ação que incitava Ema a evacuar de si algo que lhe angustiava. A criança berrava cada vez mais alto e espaçado, formando um eco horripilante. A meiose daquela carne crua e precoce, continuava no choro. Ema precisava falar, cantar, berrar como aquele pequeno ser que parecia apenas saber berrar. Precisava beber uma xícara quente de chá. Precisava desinchar-se. Encontrava-se vazia de si, cheia de ecos refratários. Pensou em ligar a tv. Deixar o grito humano que tinha entre os braços no sofá. Ascender às luzes. Possibilitar aos olhos a visão do vazio do ambiente. Mas Ema ninava a criança com passos a esmo. Rodeava os cômodos em um caminho ambíguo. Enfim entrou no único quarto da casa. Por que aquela estúpida não se calava ou morria, pensou num desejo. Cansou-se daquele falso trabalho idílio. Olhou com ódio os olhos miúdos da criança e apertou-a contra seu peito. Fique quieta! Gritou sem carinho ou afeto, e inconscientemente obstinada a sufocar aquele choro irritante. Entretanto num rápido respirar profundo, deu força à razão. Soltara violentamente a criança na cama. Seu choro cresceu. Porém não enchia o quarto, enchia-lhe o ser oco e inchado pelos gritos que lhe estupravam o corpo virgem dos ouvidos aos pés. Na cama, livre em sua própria incomunicabilidade a criança debatia-se. Ema correu até a porta, trancou-a atrás de si e saiu do quarto. Quase aliviada ligou a tv. Aumentou o volume. A lembrança do choro persistia em riscar-lhe a memória. Tais ações bruscas aqueceram-na. Em detrimento do chá, água gelada era agora ansiada. O frio cessara. O inverno, de toda uma estação, fora parido em uma instantânea descarga de frio. Uma brasa. Era o que se tornara à casa amarela. Uma enorme brasa agora vermelha. Enquanto Ema pensava, sua mãe chegou. Amarela. Quando a via, sempre a imaginava como o legítimo depósito de espermas que era. Trazia na bolsa alguma recompensa pelo trabalho. Na recompensa algum tapa. Entre as pernas o “seu” vermelho. Era assim.
- Onde está sua irmã Ema? Pra que essa tv tão alta? – perguntava enquanto já abaixava o volume do aparelho. – Que choro é esse Ema? Onde está sua irmã? – Entrou no quarto e rápido saiu com sua filha mais nova nos braços. O questionário continuava aos berros: - Por quê você deixou a menina sozinha no quarto Ema? Será que nem pra cuidar da sua irmã você serve? Eu na rua trabalhando até agora e você esquece o seu trabalho, sua idiota.
Ema aumentou o volume da tv. Só aquele aparelho a amparava. Lembrou-se do chá e foi até a cozinha. Colocou água no bule e ascendeu o fogo. A criança, mesmo agora ninada pela mãe, não parava de chorar. Sua mãe precisaria de uma xícara de chá. Ema queria esquecer as duas e fazer o chá como se ainda o quisesse.




Em dois, três momentos
por Rod Britto

Fica muita pouca acostumada do que foi há um tempo, lembramos bem, e o que é hoje. Não que sejamos experimentados assim; e, eu acredito, estamos mesmo é escrevendo para e com uma quantidade maior de gente mais nova, mais ou menos iniciantes, Descalabro, Desbocado, como se em se verificado, diga daí Alex, um dos los três faroleros: então Rod, digamos juntos, certo, inadvertidamente, certo!, uma nova geração em artes e pensamento cultural, dispostos nesta página-baú, certo, de invenções, dores e mágicas. Mas você pare já de me enrolar e pinicar, certo um feto, pois o que era mesmo que ia abrir a falar, o medo ainda aqui, o de que lhe fizesse um editar? (En)rola não, cara; fica tranqüilo, não vou malhar.


O que for, tira a luz da minha cara, favor. Porque sabe essa coisa de acumular experiência demência mais carência faz tanto bem quanto mal. E experiência faz logo lembrar do evento poético CEP 20.000, que teve seu filme documentário lançado no Teatro Sérgio Porto dia desses, por seus mais de 15 anos. Será que envelhecemos quando começam a aparecer estes gabaritos culturais, digo, tipo antologias, retrospectivas, comemorações de anos? Minha nossa! Quanto tempo não faz isso; e que colarinho era esse, meu chapa! Na cabeça, é Resistência! Bem, querendo ou não velhice pros negócios que dão mó dinheiro, a parada artística do Peixe Frito começou a rolar e até que seja por ali ovacionado, primeiro por línguas de sogra depois por bombas de mijo, diga-se reação ou cozimento neofascista, não terá morte anunciada, não. E as coisas não são mesmo para durar um pouco mais do que livros quando as imaginamos já no confeccionar? Ou o sebo da memória. Ou a propina no bolso, que o barraco tomou bomba, comONGuear. Cresce e envelhece sim, vira a história do país; se muito, a do lugar.


Refletindo. Antigamente um selinho era uma conquista naquela paquera. Nem passou muito tempo, a literatura não foi renovada, o comportamento usou de tudo de novo, no ar do ar (mas essas coisas são feitas pra isso mesmo, como virose, fluidez), e, enfim, hoje, uma trepada é o que há de mais comum no ato de provocar – contar. Acostumada, acostumagem (pra inicio de conversa lá encima) = lembrança (palavra incidental de bar em bar).


É bem sério o que ouvi nos últimos tempos pessoas mais ou menos próximas deu dizerem de banda o preciso for matar, matar.


E notas sem tempo ou espaço: O Tarso vai casar, o Tunga expor, e você, Tesão, por um acaso, vai depor sem antes me mandar?


* Rod Britto é jornalista e editor gratoporlembrar@gmail.com



Intervenções no Cenário Urbano
por Paula Faraco

A partir de um curso experimental e, depois de uma rápida viagem a São Paulo, eu voltei ao Rio com algumas idéia. A princípio, eu não sabia qual tipo de intervenção faria, nem qual foto iria escolher.
Uma intervenção, no entanto, despertou a minha curiosidade. Resolvi manipular minhas fotos com água sanitária. Reuni um cotonete, álcool em gel e minha fiel escudeira (mamãe) e fui para o play do meu prédio. Lá, escolhi dentre 15 fotos, 5 para alterar com água sanitária.
De volta à sala de aula e com várias amostras do trabalho, me dei conta de que tinha me apaixonado por essas que estão hoje no ar na Revista Palavril.



















ÍNDIO
por Cassiano do Amaral

“Um índio descerá de uma estrela colorida e brilhante...”


- Não é possível, isso só pode ser mais uma das suas brincadeiras...
- Não é brincadeira, você não imagina o quanto é difícil para mim conversar sobre esse tipo de assunto com você...
-Quero saber os detalhes... Onde você conheceu esse índio?
- O que importa isso? Você só precisa saber que estou apaixonada e...
- Apaixonada? Você se apaixonou por um silvícola!?
- Me apaixonei sim, qual o problema?
- Você só pode estar enlouquecendo... só falta me dizer que conheceu o tal índio num shoping center enquanto ele comprava um cocar da Empório Armani pra colocar no sábado à noite...
- Você e seus deboches, continua o mesmo imaturo...
- Eu imaturo? Você não sabe do que sou capaz...
- Não vai adiantar você fazer mais nada, já estou decidida. Vou arrumar as minhas coisas...
- Pra que você quer as suas coisas? Pensei que você agora fosse andar só de tanguinha e pintar o resto do corpo de urucum...
- Deixa de ser cínico, nosso casamento sempre foi um fracasso!
- Você ainda não me disse onde conheceu esse maldito índio! Vou escrever uma carta hoje mesmo para o presidente da FUNAI denunciando esse ser primitivo destruidor de lares! Ele abusou sexualmente de você? Você está sendo coagida?
- Pára de palhaçada! Eu no seu lugar não me meteria com ele... pra seu governo ele tem o dobro do seu tamanho.
- Era só o que me faltava... daqui a pouco você vai tentar me convencer que o nativo que você arranjou tem um arsenal bélico dentro da oca: um tacape, uma zarabatana e um arco e flechas... não seja ridícula, nós estamos no Rio de Janeiro minha querida...
- E outra coisa: Ele tem mais dinheiro do que você...
- Como tem mais dinheiro? Ele é o cacique da tribo em que você vai morar? Você continua a mesma interesseira... Bem que eu sempre fui contra essas políticas rondonistas do governo de deixar terra pra índio... e o pior é que não pagam um centavo de imposto!
- Já chega! Não agüento mais ouvir você dizer esse bando de bobagens.
- Vocês já conversaram com o Pajé? Já pediram as bênçãos de Tupã para selar essa união adúltera? Tomara que ele mande um raio bem na sua cabeça!
- Acho que a sua cabeça está mais propensa ao recebimento de raios...
- Descarada...Você não vai me contar mesmo onde encontrou esse maldito aborígine?
- Você tem mesmo certeza que quer saber isso?
- Claro! Não quero ser poupado de nada, não quero que sinta pena de mim!
- Então tá bom, depois não diz que eu não avisei. Conheci o Índio na praia. A pele dele é vermelha sim, mas é por causa do sol que ele pega todo dia. E a única “tanguinha” que ele usa é uma sunga preta que deixa o corpo sarado dele todo a mostra... mas ele tem uma coisa de índio sim... tem uma tatuagem tribal no braço que deixa todas as mulheres aqui do bairro enlouquecidas!
- Sua sem vergonha... então quer dizer que o índio não é índio coisa nenhuma... Mas peraí! Eu conheço esse cara! Não é aquele coroa metido a garotão que se mudou para o nosso condomínio no mês passado?
- ... foi você quem pediu para eu contar...
- Eu mato você sua desgraçada, volta aqui!


Seqüestro
por Rodiney da Silva e S. Jr.

- Alô.
- Alô, Gertrudes?

Ela sabia que quando ele a chamava de Gertrudes era coisa séria. Da última vez o Xavier tinha sido alvo de um seqüestro relâmpago. Até que o Xavier se comportou bravamente. Sangue frio. Muita calma. Calma mesmo, pois Xavier tinha facilidade em perder o controle em situações corriqueiras. Jamais poderia prever que teria um comportamento daquele que teve quando fora refém de seqüestradores relâmpagos. Mas quem pode prever alguma coisa, com certeza, quando se trata do comportamento humano? Todo homem é imprevisível. Xavier é homem. Xavier é imprevisível. Gertrudes adorava afirmar seus pensamentos utilizando silogismos, mas ela não sabia que se tratava de silogismos; pois aprendera de maneira divertida numa revista de palavras cruzadas.

- Xavier? Não me diga que...
- Gertrudes, me escute. Muita atenção... Temos que manter a calma, ok? Muita calma, meu amor... Calma, ok?
- Que isso, homem? Pare com isso! Fale logo o que está acontecendo! Estou ficando nervosa, as crianças estão...
- As crianças... Ah, as crianças! Que saudade delas!
- Saudades? Que isso Xavier? Parece que você não vê elas um tempão! O que está acontecendo?
- Gertrudes, tô sendo de novo seqüestrado... Não posso demorar mais... Os caras já estão perdendo a paciência comigo e... você sabe... como são estas coisas, né?
- Eu não acredito, Xavier! Como pode…? Duas vezes no mesmo mês?
- E você acha que eles fazem estatística com estas coisas, mulher? Eu devo parecer uma presa fácil para eles, só pode ser… Acho que nasci para ser uma vítima eterna deste jogo…
- Você tem coragem de falar assim? Jogo? Tudo isto é um jogo? Isto é demais para mim, Xavier! - Calma, meu amor. Nestas horas temos que ter calma. Presta atenção mulher. Não ligue para a polícia, não fale com os parentes; apenas fique em casa quietinha e me espera, tá?
- Simples assim? Ficar quieta e esperar? E se você… não gosto nem de falar…

Nesta hora, Gertrudes dá início a uma seqüência de choro e começa a ter a verdadeira noção da situação. Não gostava nem de falar, mas não podia impedir os maus pensamentos. O pessimismo sempre foi um sentimento vivo em seu espírito. Gertrudes é pessimista. O pessimismo é um sentimento humano. Gertrudes é humana. Enigmas e silogismos visitavam sua mente. Possibilidades catastróficas faziam morada em seu coração e consumia toda a tua alma. Pensava nas crianças sem pai. Nela viúva. Mais uma viúva na família. E ela que tinha passado há pouco a idade de Balzac. Via-se fazendo companhia a sua mãe e freqüentando os diversos bingos espalhados pela Cidade Maravilhosa. Como podia ter estes pensamentos? Novamente o comportamento humano, que não segue regras, mostra como é fugidio da rotina.

- Gertrudes, vou ter que desligar... agora... É necessário, estamos…
- Xavier, o que está acontecendo? Eles te bateram?
- Não… é que… o sinal está ficando fraco... o celul…trudes?
- Xavier, não desligue, fique comigo!
- Ger…s, fi…e ca…ma. Te… é, eu voltar…
- O que? Eu tô te perdendo, não desligue! Não me deixe! Cadê você? Xavier! Xavier!
- Este celular se encontra desligado ou fora de cobertura da…

Agora ela sabia que deveria esperar. Esta espera era assustadora. Ele volta desta vez? Será que nunca mais verei Xavier? Todos os pensamentos possíveis que pudessem suscitar em um coração feminino, Gertrudes tinha todos. Pensamentos absurdos. Pensamentos racionais. Dos absurdos sentia vergonha de tê-los pensado e ficava remoendo os racionais. Sabia que os absurdos eram possíveis, mas pensá-los era vergonhoso. Como pensar que Xavier inventava estes seqüestros para se envolver em romances, em aventuras? Não, isto jamais! Até por que, se isto fosse verdade este romance já teria até uma certa duração considerável. Reconhecia que o romance entre os dois estava meio morno, mas isto não seria motivo para Xavier procurar aventuras na rua. Não, jamais. Não o seu Xavier, mas os outros maridos até que podiam. Dessa forma fortalecia aquilo que nela era mais frágil, ou seja, a confiança na fidelidade de seu marido. Mas afastava estes pensamentos e tentava se concentrar no problema. Rezava, esperava, chorava, rezava de novo. De tanto esperar adormecera ali mesmo, sobre a poltrona. Tivera sonhos e pesadelos. De madrugada chegara Xavier.

- Gertrudes? Você ficou aí? Meu amor, vamos para a cama… está tudo bem agora. Os apetites mais insanos foram saciados. Este mundo! Esta gente não tem jeito! Está tudo perdido, mas…
- Xavier, graças a Deus que você está bem… sim, vamos para a cama…

E entre pensamentos absurdos e pensamentos racionais, Gertrudes escolhera os racionais, os lógicos, os silogismos que aprendera em revistas de palavras cruzadas. Optara pelo melhor. Dane-se a possibilidade do absurdo, precisamos é do sentido! O sentido é a fidelidade. Xavier é o sentido. Xavier é fiel. Poderia até estar errado este silogismo, mas fazia Gertrudes mais confiante e alegre.



por Marcelo Ricardo


A SOMA FAMOSA:

café com leite.


Pense você mesmo/a em outras somas famosas,
por exemplo:
feijão com arroz;
meia com tênis;
goiabada com queijo;
religião com política.


A BOBA E O CÍNICO

a boba ama o cínico o cínico
ama a boba

ELO MOLE
casaram
separaram



Fé Na Virada

"O gol é logo"

INTIMATIVA

-Alã, fala!



por Naaman Filho





















MANEJO ECOLÓGICO DO SOLO
por Raphael Borsoi

O manejo do solo consiste em preparar o solo para o plantio, prevenir e controlar a erosão e fornecer nutrientes às culturas. O solo se forma devido a fatores físicos (meteorologia), fatores químicos e processos biológicos, que irão determinar a fertilidade deste solo. A fertilidade é um status de um solo definindo a sua capacidade de suprir os nutrientes essenciais ao desenvolvimento da planta.
Os componentes físicos da fertilidade do solo são indicados por sua estrutura, profundidade efetiva, impedimentos à penetração das raízes, porosidade (macroporos/microporos – água/oxigênio) e temperatura.
Os componentes químicos da fertilidade do solo dependem da disponibilidade de nutrientes, presença de elementos tóxicos e capacidade de reação.
Os componentes biológicos são compostos pelos microorganismos, a fauna do solo e sua vegetação. Caracteriza-se pela quantidade, diversidade, atividade e funções ecológicas.
Considera-se o solo como um espaço habitado por milhares de organismos, com infinidades interação entre si e entre componentes não vivos, afetando-se e sendo afetado diretamente pelas práticas culturais utilizadas. Procura-se potencializar as interações e os processos com objetivo de otimizar os fluxos de nutrientes, reduzir suas perdas e melhorar as condições ambientais, o enfoque deixa de ser apenas uma cultura e sim o agrossistema e sua sustentabilidade a curto, médio e longo prazo.
Algumas técnicas podem ser utilizadas para melhorar a fertilidade do solo, tais como: redução ou eliminação da movimentação do solo, manter a superfície do solo coberta pelo maior tempo possível, manejo da cobertura do solo (plantas espontâneas, culturas de cobertura, cobertura morta), rotação ou associação com espécies de raiz agressivas, práticas de redução do escorrimento (físicas ou biológicas), uso de leguminosas e conservação e estocagem de água através de cobertura morta.

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