Editorial - 4ª Edição


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* Para acompanhar o lançamento dos próximos números da Palavril, envie um email para: palavril@yahoo.com.br



OUTRO LIMITE

Há um rosto no mundo que olha para o meu
e não conheço.
Assim uma casa, uma canção, um verso
que nunca vou fazer.
E o rosto me chegasse, ou o verso, enfim
seria tarde:
por isso me despeço
e deixo algum sonho nas gavetas
da casa onde nunca irei ou fui.

Nem sempre a manhã sucede ao crepúsculo
e à treva.
Aldemar Norek



LAMPEJOS DE NOME

mesmo acampado na pele do sonho
cerco de medos e arrepios
a carne frágil da mente

apesar de lampejos ao longe
que os barcos acendem no mar
deixo - me acoitado
no telhado de plácidas telhas

apenas se vejo meu nome
trazido na boca em chamados
esqueço de mim
e arremesso
à urgência tempestiva
a resposta guardada na confluência das dúvidas
Carlos de Hollanda



ACABAR COMIGO

“-Mesmo os grandes homens só são verdadeiramente reconhecidos e homenageados depois de mortos. Por quê? Porque os que elogiam precisam se sentir de algum modo superior ao elogiado, precisam conceder. (...)”
Clarice Lispector, Perto do Coração Selvagem.

A mais estranha sensação
repete-se incansavelmente,
um ente encrostado em mim.
Penso em matar-me.
Como num samba
de Paulinho da Viola,
acabar comigo.

O ente cansado de estocar-me –
que me parece, os demônios também se cansam;
sem perceber encosta-se, ouve comigo
frases soando enigmas.

Vejo o rosto de coração,
olhos rasgados de um país distante,
a mulher preocupada com os filhos.

Em me matar incansável e subrepticiamente.
Escuto, decido, ao invés do tiro,
Pegar um livro.
Elaine Pauvolid

Mais estrofes dirigidas

Toca o sino
E começa a batalha
Todos correm para o centro
Para a vida funcionar
Falar sobre coisas, sobre pessoas
Menos sobre idéias
É proibido

Toca o sino
E começa a correria
Todos batalham um acento
Para mastigar o que um dia viveu
Ao terminar
A batalha se arrasta
A espera do fim

Toca o sino
E todos voltam ao ponto de partida
Não batalham sobre idéias
Nem correm pra alcançar
Pessoas dão o que falar
E finalmente
Descanso

(leia e releia até cansar)
Diego Tribuzy


INSTINTO

Assim
Como o gato
Fixo o olho
Atento
Não sei se presa
Acato fazer
Nenhum movimento
Na preça
Estimulo os sentidos
-Sobreviver-
Lição ímpar
No telhado dos escolhidos
Iara Rocha

Auto-retrato

Para Victor

Como ir a fundo,
Se eu não tenho fundo
Como, tendo o mundo nas mãos
Nada ter no mundo

Pra quê ler a estória
Se eu já sei o final
Como rir da piada
Se já me contaram uma versão quase igual

Como querer resolver o problema
Se eu o desmistifico antes do fim
Como vencer

Se eu me adianto
E chego sempre
Antes de mim?
Marcela Gianini


PERDENDO O TREM
por Maria Luiza Falcão

Pasmem: eu tenho amigos gays!
Pode parecer bobagem, uma afirmação infantil, mas é a pura verdade: eu me espantei com o fato.
É claro que eu desconfiava. No fundo, já sabia. Mas alguma coisa me impedia de acreditar.
Ontem, se me perguntassem, eu diria que não tinha certeza e que achava errado afirmar algo tão radical a respeito de pessoas amigas. Como se o fato fosse ofensivo, uma agressão impensável numa relação de amizade.
Mas hoje, a verdade bateu na minha porta e eu abri. E vi com clareza não só o que era como o que me fazia não enxergar. Era algo que eu detesto, chego mesmo a abominar, mas que parece, habita em cada um de nós, e se manifesta desta ou daquela maneira. Trata-se do preconceito.
Ontem, se me perguntassem, eu diria que não tinha preconceito com nada.
Hoje, sei que isso não é verdade. E me doeu muito descobrir, pois estava sendo interiormente preconceituosa com pessoas que eu estimo tanto.
Mas a porta que se abriu deixou entrar muito mais que isso. Um banho de luz de descobertas que quase me fez cegar. Sentei-me no chão da pequena varanda de meu apartamento e fiquei um tempo assim, olhando o nada, contemplando a mim mesma.
Descobri que há tempo venho perdendo a hora do trem da vida. Ele passa pra cada um de nós no lugar e tempo certo. Mas a gente vez por outra perde. Às vezes dá pra sair correndo atrás, pegar numa próxima parada, mas nunca é a mesma coisa.
Descobri que tenho sido contemplativa demais com a minha vida. Fico na estação apreciando o movimento, vendo o trem chegar e partir, e por algum motivo que desconheço, perco quase todos. Depois, muito depois, saio em disparada, trilho afora. Nem sempre alcanço, e mesmo assim, é sempre tarde.
Descobri que hoje estou viajando num trem atrasado, num passado que ficou lá longe...
A minha geração, pós pílula anticoncepcional, viveu esta maravilha intensamente. Eu não. O mundo alucinógeno já estava aqui quando eu cheguei e certamente esbarrou em mim muitas vezes. Mas eu não percebi. As pessoas passaram a optar sobre seu próprio sexo, independente do que dizia em suas certidões de nascimento. E isso me parecia um mundo distante.
Aquelas pílulas libertadoras hoje me são desaconselhadas devido à idade. Mas se ele não usa camisinha, como eu faço? Não faço? Se a geração dele acha mais perigoso “contrair” uma bala perdida do que aids, o que eu digo? Se já vivi mais, melhor um prazer agora que um talvez depois.
Um baseado se faz enrolando uma certa erva em um papel próprio para cigarro artesanal. O papel é vendido em qualquer lugar. Ervas também, para os chás dos mais variados usos e gostos. Mas esta, não, sei lá porquê. Carqueja é horrível e há quem use. Gosto não se discute. O tal, depois de pronto, se acende, puxa, prensa e solta. Dizem que vai tudo pra cabeça. Que é lá que o barato acontece. Ou não. Acho que este trem eu perdi pra sempre.
Dois homens se hospedam num hotel e pedem um quarto com cama de casal. Preciso dizer mais?
Eu não entendo mais nada. Ou entendo, e não sei o que fazer com isso. Na verdade, estou mais uma vez parada na estação vendo o trem passar. O do meu presente está passando enquanto eu estou tentando alcançar aquele que passou há anos atrás. Anos atrás...
Também não adianta querer entrar no trem de hoje, pois me falta bagagem.
Espero que meus amigos me perdoem esta falta. Sei que, no fundo, jamais os discriminei. Apenas eu não sabia lidar com o fato. Na realidade, acho que tal qual na canção, eu “os protegia por amor, num codinome: amigos...”. e como diz o ditado: meus amigos não têm defeitos, e meus inimigos, não têm virtudes.
Espero também que eles continuem gostando de mim. Mesmo eu sendo assim, careta, estranha, do tipo mulher que gosta de homem, sabe?
Afinal, ninguém é perfeito.


NICOTINA
por Guilherme Tolomei


“Então, você é o navalha?”
O sujeito é gordo e está de terno.
“Sim”, respondo.
“Você não tem cara de matador de aluguel”
“È que eu esqueci a plaquinha com a indicação dos meus serviços. Geralmente, ando com ela pendurada no pescoço, pras pessoas saberem o que eu faço”
Ele não ri, parece nervoso. Talvez não estivesse satisfeito em lidar pessoalmente comigo. É incomodo ver a escória, sem o controle remoto da televisão por perto.
“Desculpe, não foi isso que eu quis dizer”
Acendo um cigarro.
Ele estaciona o carro ao lado do bar da Lurdes, na Lapa. Sempre gostei de fechar negócio em espeluncas sujas.
“Você sempre vem com seus ...”
“Clientes”
“Você sempre vem com seus clientes a esse lugar?”
“Algum problema?”
“Só acho perigoso”
“Não há perigo algum. Aqui os ouvidos são como os ralos dos banheiros”
“De qualquer modo, você sabe que eu tenho uma reputação considerável”
O nome dele é Márcio Albuquerque, um rico economista que recebeu muito dinheiro brincando com números na bolsa de valores. Estudou em uma das melhores faculdades da Inglaterra e, logo em seguida, casou-se. Ele é um pai dedicado, um profissional competente e um cidadão exemplar, inclusive, participa da campanha contra a violência nas ruas. Enfim, o pior tipo de pessoa.
“Fica tranqüilo, doutor. Ninguém vai notar nossa presença. Por aqui passam advogados, traficantes, putas, empresários, atrizes. Dentro do esgoto, a cor do rato pouco importa pros outros ratos”
Acendo um cigarro
“Preferia falar com você pelo telefone”
“Ta cheio de escuta por aí.”
O homem não pára de transpirar.
“Muito bem. Você sabe porque eu quero matar uma pessoa?”
“Não sei”
Pouco me importa o motivo que leva uma pessoa a matar outra. Entretanto, na maioria das vezes, ela gosta de ficar esmiuçando detalhes sobre as razões da escolha. Se cobrasse por hora de consulta, estaria rico.
“Minha mulher se chama Clara Albuquerque. Nos conhecemos quando ela trabalhava em uma loja de perfumes em Copacabana. A primeira coisa que me chamou atenção nela foi algo que eu jamais havia observado em outras mulheres: a tristeza.”
Tento fingir interesse.
“Não era uma tristeza de liquidação que todos compram em datas infelizes. Era alguma coisa diferente que se misturava aos olhos e sorrisos dela. Aquilo me arrebatou de uma maneira profunda. Estava completamente fascinado.”
Ele pede uma bebida. Eu acendo um cigarro.
“Não demorou muito para que nos casássemos. Nossa festa de casamento foi no Copacabana Palace. Você já esteve alguma vez lá?”.
Eu sou feio e sujo. Você acha que eu estive alguma vez lá, doutor?
“Já”, minto
“Enfim, não quero me alongar com minúcias. Em pouco tempo me tornei o monstro que agora sou. Humilhei minha esposa de todos os modos. Não que quisesse intencionalmente, mas...”.
Faz uma pausa.
“Tive casos muitas mulheres que conviviam conosco, mesmo sabendo que mais tarde ela descobriria. Relacionei-me com várias de suas amigas em nosso apartamento. Sempre fui um marido ausente, nas datas que as pessoas dizem serem especiais. Menti, simulei e omiti. Ela se vingava ficando cada vez mais triste, agüentando tudo calada”
“Sei”
“Todos dias ao me levantar, sou torturado com aquele rosto soturno, aquela tez lúgubre. Aquilo que antes era uma dádiva, tornou-se uma maldição”
“Então, você quer que eu a mate?”
O sujeito não me dá atenção, parece falar consigo próprio.
“E, apesar de tudo, sei que ela me ama. Isso faz com que as coisas tornem-se mais terríveis. Tenho que acabar como o sofrimento daquele anjo. Certa vez, um autor chamado Eurípides disse que os homens consideram o amor uma doença. Você acha isso estranho?”
“Pouco importa”
“Sabe, esse é o tipo de mulher que nasceu pobre, dentro de uma casa humilde. É incapaz de fazer mal a quem quer que seja”
“Pra mim pobre e rico são todos a mesma coisa. Ninguém vale nada!”
“Mas chega dessa história. Quero saber como é a sua maneira de fazer o serviço?”
“Dou um tiro por trás, de tal forma que a vítima não saiba que vai morrer. Não quero carregar olhos de misericórdia dentro da minha cabeça. Uso uma nove com silenciador.”
“Não há possibilidade de descobrirem, não é?”
Ele me faz muitas perguntas. Só falta me querer saber porque me tornei matador de aluguel.
“A possibilidade é muito pequena. Geralmente, faço tudo parecer um roubo. Isso despista a polícia.”
“Ótimo. Precisamos agora combinar o pagamento”
Escrevo o valor em papelzinho e entrego a ele.
“Deposito quando você já tiver feito o trabalho”
“Não, doutor. Só trabalho recebendo adiantado”
“Quantias pequenas eu guardo em um cofre, dentro do apartamento onde realizo encontros amorosos. Podemos pegar agora”
Com o dinheiro que eu pedi, dá pra passar o resto do ano sem fazer mais nada. O que ele deve achar que é uma quantia grande?
“Está certo”
“Só mais uma coisa. Tenho curiosidade em saber porque você se tornou matador de aluguel”
“Porque eu nunca aprendi a tocar saxofone”
Atravessamos toda a zona sul até chegarmos em um prédio antigo no Leblon. Já havia passado das duas horas da manhã, e naquela madrugada fria de junho as ruas estavam desertas.
Subimos até o oitavo andar.
“Por favor, eu só peço pra você não fume aqui. Sabe como é, algumas mulheres não gostam desse cheiro impregnado pelos cantos”
“Tudo bem”
O apartamento não é grande. Na sala só há um sofá e uma mesa com duas cadeiras. As cortinas grossas estão fechadas.
“Eu vou ao quarto pegar o dinheiro”
Tento assumir uma fisionomia neutra, mas não consigo. Embora tudo transcorra como o planejado, estou nervoso. Aliás, eu sempre fico nervoso quando tenho que matar qualquer um, mesmo com minha experiência.
O sujeito retorna com um envelope transparente. Não posso me precipitar, tenho que esperar o momento certo. Talvez seja essa a única oportunidade de estar junto com ele, sem mais ninguém.
“Você quer que eu conte?”
“Sim”, respondo
Ele joga todo o dinheiro no sofá, depois, com a cabeça abaixada, começa a falar números em voz alta. Está distraído. Aproveito o momento e retiro a arma do casaco. Atiro na nuca, é o suficiente. O corpo cai no chão e, ao lado, começa a se formar uma poça de sangue. O trabalho está feito.
Ele jamais desconfiaria que a Dra. Clara Albuquerque me contratou, há duas semanas, pra matar o próprio marido.
Antes de sair, acendo um cigarro. Acho que agora ninguém vai mais se importar.


Pára-Quedas
por Bruna Maria

Quero saltar do alto da pedra e respirar fundo. Sentir duas câmaras em seus limites espaciais na altura do tórax - pulmões. Quero saber que ainda existe vida orgânica, que há vegetação, mata, bicho, flor. Quero acreditar no céu, pensar que o azul-sem-nuvens é belo e que reflete alguma coisa divina.
Saltaria sem pára-quedas hoje, por você. Deixaria meu corpo em queda livre, levitando em momentos finais. Viveria uma vida inteira rapidamente. E correria, escorregando entre os átomos suspensos, até chegar ao chão.
Plaft.
O corpo quebrando, partindo em mil pedaços, faria cócegas. Enquanto isso, eu levitaria pelas nuvens por três minutos, e te encontraria.
A telepatia me exporia de forma única, me poria pelo avesso, e você teria a certeza eterna de que eu vou te amar para sempre.
Plaft.
Mas eu tenho pára-quedas. O corpo, então, está sempre intacto. Em compensação, o não-corpóreo anda em pedaços.


Brasília
por Tainá Del Negri

Brasília é uma ilha.
Um lugar que fabrica uma textura de cores imponentes, secas, quentes.
E por todos as asas, respiramos a obra de homens
e vemos os acasos mal pensados que fizeram de lá a nossa capital.


Uma pena,
tanta beleza afundada em merda


































Dúbio funk off do mundo
Por Diego Tribuzy

Tum tá tá tum tum tá
Tum tá tá tum tum tá

“Biológico pensante
Organismo atuante...”


Estava eu vendendo livretos num sábado nublado no centro da cidade, quando fui encontrar um amigo no sesc tijuca. Chegando lá sou convocado:
- Vâmo lá na parada do Cataldo?
- Parada do Cataldo? Respondo eu sem saber que estava prestes a participar de uma experiência no mínimo diferente.
- É, doidão, o funk progressivo.

Esse era o dia da estréia da Instalação Poética com Funk Progressivo, que faz parte das apresentações anuais do Centro de Estudo e Experimentações Artísticas da Ana Kfuri. Chegamos lá um pouco atrasados e já fomos chamados a falar no microfone. Fui e recitei Aquela velha estória sobre não saber quem sou (leia na edição passada), achando que era normal todos falarem poesias na pausa do espetáculo (espetáculo?), mas percebi ao longo do tempo que ninguém se mexia na platéia (platéia?).
Eu que esperava encontrar um Cataldo no palco, encontrei três, além do verdadeiro, os também originais Aborígene letrado (melhor pseudônimo da atualidade) e Danny Boy, tocando o rebú naquela minúscula arena do sesc tijuca, conhecida como teatro dois, mas que se fez perfeita para a instalação.
Obviamente que se tratando de texto e direção de Felipe Cataldo há bastante exagero, mas sinceramente, me surpreendi com a bagunça. Cataldo e seus comparsas souberam mesclar os momentos musicais e tem bastante presença de palco. O que me deixou perplexo foi a tensão que o espetáculo, que supostamente conta com a participação do público, causa no mesmo. A conclusão que cheguei é que o público se sente preso de tão livre que é a proposta. Eu mesmo que cheguei recitando mal conseguia me mexer depois.
Na semana seguinte fui e filmei para o rapaz e me deparei com uma novidade interessantíssima, Melissa Coelho pintando um quadro simultaneamente ao acontecido, obtendo um resultado muito bom.
Infelizmente quando essa matéria sair na palavril (se sair) o funk progressivo não estará mais em cartaz, mas...



Ô ô ô ô ô
Abram passagem
que o Cataldo estreô
e agora ninguém segura.
Demorô formar o bonde da literatura (cênica).


* Diego Tribuzy é músico, ator e poeta.


Antes do Fim
- canção para um velho solitário

Espera sem esperanças,
Horas de tédio, longos silêncios
E vagas lembreanças

Imenso deserto:
Amores tão longe,
A morte tão perto.

Tanta distância,
Solidão e saudade.
Nem pressa, nem ânsia.

Um mundo, lá dentro,
Com ecos de ausências,
Sombras, desmomentos.

Tudo o mais é só
Um rastro de pó
À espera do vento.
Cairo de Assis Trindade



Pra não falar do Rio
Por vezes me atento
Me tento mudo
Em não dizer do Rio
Oh Rio! Onde as águas não se repetem
Me tento pálido, rígido, híbrido e só

De não olhar o Cristo
Me fiz triste
Sob o casulo
Casualmente nulo me desfaço
Por não rever o Rio
Hiberno ao frio de um Janeiro raso
Marcelo Falippe


Dores

Destes gritos, de dores, eu quase ensurdeço
e em meus infernos, clamando, desço,
como se o autoflagelo, a mim pudesse libertar!
As vozes ecoam mesmo quando não quero
minha alma repete, choro, desespero
quebro as correntes... agora posso voar!
Arlete Andrade


Espíritos da Praia
p/ Bia Tavares

Espíritos da praia
Ungi-me com a sagrada maresia
De vossos contornos
Maleáveis

Espíritos da praia
Invoco-lhes para que eu possa me banhar tranquilo
Na transatlântica escuridão dos oceanos
À luz de tuas sábias premonições
Abissais

Conjuro-lhes daqui
De dentro do meu pentagrama
Para que me amparem e me protejam
Da solidão carnívora que me apavora
Em cada curva desta encosta

Convoco-lhes todos, espíritos de luz
E peço-lhes apenas
Dunas, baías e falésias de alegrias

Espíritos da praia
Deixo aqui esta humilde oferenda
Para saciar vossa gula tropical
Espíritos das ondas
Forças do litoral
Abençoem este lual.
Dan Soares


E quando anoitece, há em todo lar ou bar, outros sóis
Que não brilham nas folhas e tiram do verde a saturação.
Que não nos colorem senão de um azul radioativo e postiço.
Nos arrefece, nana e jorra seu acúmulo morno e atraente.
É por isso que o escuro se instala no âmago de alguns
E seus sonhos são roubados, de noite ou de dia,
Pois os sóis estão ali, como moscas depravadas a zumbir
Imagens aos netos da surdez e sons aos filhos da cegueira.

Thiago Oliveira



a imagem

(fuga para a sexta estrela)

cometa do infortúnio
cometa um infortúnio
gameta do plenilúnio
de braço dado comigo
no fundo do meu castigo

espaço transideral
atrás de alguma estrela

se alguém puder cometê-la
que avance e abra o postigo
confrontamento abissal

viagem na escuridão
atrás de um ponto de luz
mas ao chegar não supus
que já não houvesse mais brilho
além do sutil estribilho

da imagem que me cometeu
a imagem que em mim se meteu
não era a da absolvição
mas a rotineira invenção
do eu,
talvez um hexacampeão

Aluízio Rezende




O povo. A carne.
Por Marcos Fiuza

Gostaria de, mais uma vez, trazer a África para o foco de discussão e, neste texto, pretendo identificar junto às obras literárias apresentadas, pontos que caracterizem o movimento da Negritude, assim como, a partir de pequenas considerações, entender o processo que desencadeou este movimento. Trabalharei com uma obra do período e uma obra contemporânea, com intuito de explicitar as características e a temática de ambos, comparando-as e destacando suas semelhanças.
O negro que se viu, durante séculos, explorado, humilhado, e desumanizado por parte da sociedade ocidental branca, tida como superior, inicia um processo de ruptura com tais paradigmas, em que buscam a valorização do negro, a conscientização de seu papel fundamental como ser humano dentro da sociedade, tendo a sua terra, sua cultura, e seu intelecto como focos centrais de suas obras reivindicatórias.
Esse processo de ruptura, que posteriormente transformou-se em um movimento, chamou-se Negritude , e teve como base irradiadora as Américas (décadas de 1920-1940 aproximadamente), tendo os EUA como origem provável, passando pelo Haiti, seguindo seu caminho até a Europa, manifestando-se na Inglaterra para firmar-se, enfim, na França, em Paris, no Quartier Latin. A partir daí alastra-se, cobrindo toda a África negra e os negros em diáspora, isto é, as Américas.
Na literatura, esses elementos de valorização da cultura negra são transpostos de diversas formas, tanto negando a literatura do colonizador, como introduzindo, nas obras, signos lingüísticos próprios, e elementos que identifiquem a terra. Restringindo-se à poesia, para melhor entender esse contexto, é interessante analisar alguns pontos de um poema deste período, da moçambicana Noémia de Souza.

Deixa passar o meu povo

Noite morna de Moçambique
e sons longínquos de marimba chegam até mim
-certos e constantes-
vindos nem eu sei donde.
Em minha casa de madeira e zinco,
abro o rádio e deixo-me embalar...
Mas as vozes da América remexem-me a alma e os nervos.
E Robeson e Marian cantam para mim
Spirituals negros de Harlem.
<>
- oh deixa passar o meu povo,
deixa passar o meu povo -,
dizem.
E eu abro os olhos e já não posso dormir.
Dentro de mim soam-me Anderson e Paul
e não são doces vozes de embalo.
<>

Nervosamente,
sento-me à mesa e escrevo...
(dentro de mim,
deixa passar o meu povo,
<>)
E já não sou mais que instrumento
do meu sangue em turbilhão
com sua voz profunda – minha irmã.

Escrevo...
Na minha mesa, vultos familiares e rosto cansado
e revoltas, dores, humilhações,
tatuando de negro o virgem papel branco.
E Paulo, que não conheço
mas é do mesmo sangue da mesma seiva amada de Moçambique,
e misérias, janelas gradeadas, adeuses de magaíças,
algodais, e meu inesquecível companheiro branco,
e Zé – meu irmão – e Saul,
e tu, Amigo de doce olhar azul,
pegando na minha mão e me obrigando a escrever
com o fel que me vem da revolta.
Todos se vêm debruçar sobre o meu ombro,
Enquanto escrevo, noite adiante,
com Marian e Robeson vigiando pelo olho luminoso do rádio
-<>.
oh let my people go.

E enquanto me vierem de Harlem
vozes de lamentação
e os meus vultos familiares me visitarem
em longas noites de insônia,
não poderei deixar-me embalar pela música fútil
das valsas de Strauss.
Escreverei, escreverei,
com Robeson e Marian gritando comigo:
<>
OH DEIXA PASSAR O MEU POVO.

(Apud:FERREIRA, Manuel. No Reino de Caliban III,3.ed., 1985)


Percebemos que o texto é, em primeiro lugar, uma negação ao estilo português de poesia, não contendo métrica, nem rimas, dando um ritmo particular ao poema, em que constatamos um tom de oratória à poesia. Encontramos também, na obra, elementos característicos, típicos de Moçambique, como a “marimba” (v-2), e “casa de madeira e zinco” (v-5), sendo estas, moradias típicas da classe popular de Moçambique, introduzindo assim, também, elementos que denunciam as diferenças sociais existentes.
Há, no texto, um forte apelo emocional, que procura sensibilizar e comover o leitor, pedindo voz para seu povo, que o permita se expressar (“oh deixa passar o meu povo” v-11). Elementos da cultura africana são colocados no poema, em que a família é representada de forma a denunciar a exploração do colonizador (“Minha mãe de mãos rudes e rosto cansado/ e revoltas, dores, humilhações” v-29,30).
Vemos que a autora busca uma identificação com os negros americanos, encontrando uma identidade na música negra americana, em que seus cantos e lamentações congruem com o contexto moçambicano de luta e sofrimento(“Mas as vozes da América remexem-me a alma e os nervos” v-7).
Assim podemos ver que na Negritude, o negro, os elementos da terra, enfim, tudo que fora desconsiderado pelo colonizador, é matéria a ser encontrada em suas obras, de maneira a valorizar e desmitificar o negro e sua cultura.
Em contra partida, encontramos, nos dias de hoje, obras, na qual o negro é colocado em destaque, apresentando, também, um tom reivindicatório, com elementos de denúncia social, denúncia da discriminação, onde se busca através da exposição destes fatos a conscientização da população, no intuito de trazer a condição do negro, na sociedade atual, para um debate mais amplo. Para tanto, trazemos a letra de uma música de um grupo carioca, chamado Farofa Carioca, para que possamos identificar essas características.

A Carne

A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra

Que vai de graça pro presídio
E para debaixo do plástico
Que vai de graça pro subemprego
E pros hospitais psiquiátricos

A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra

Que fez e que faz história pra caralho
Segurando esse país no braço meu irmão
O gado aqui não se sente revoltado
Porque o revólver já está engatilhado
E o vingador é lento
Mas muito bem intencionado
Esse país vai deixando todo mundo preto
E o cabelo esticado
E mesmo assim ainda guarda o direito
De algum antepassado da cor
Brigar por justiça e por respeito
De algum antepassado da cor
Brigar bravamente por respeito
De algum antepassado da cor
Brigar por justiça e por respeito
De algum antepassado da cor
Brigar...

(Álbum Moro no Brasil)

Na obra apresentada encontramos diversos elementos semelhantes ao poema da autora moçambicana, já que percebemos, nitidamente, um caráter de denúncia social, e um forte apelo emocional nesta letra. Vemos que a condição do negro é exposta de forma a mostrar a indignação e a revolta do autor diante do que o negro é submetido nos dias de hoje. Percebemos que há a preocupação de explicitar a assimilação, por parte dos negros, da cultura dominante (“e o cabelo esticado” v-21), mas que muitos estão conscientes da sua condição e buscam lutar por melhorias (“E mesmo assim ainda guarda o direito/De algum antepassado da cor/Brigar por justiça e por respeito” v-22,23,24).
Com isso, constatamos que, tanto no poema, quanto na letra da música, o negro é colocado em destaque, denunciando suas condições de vida sofrida, e a partir da arte desencadeando um movimento de luta.

* Marcos Fiuza
Poeta, professor e pós-graduando em Literatura portuguesa e literaturas africanas de língua portuguesa - UFRJ mvfiuza@yahoo.com.br



A Dança de Mané


Suécia, 1958, durante a copa de mundo de futebol, um brasileiro de pernas tortas mostra ao mundo os paços de uma dança chamada futebol. É a arte de Mane Garrincha.
Ele que foi um membro ilustre de uma vasta companhia que brilha até hoje no preto e branco das recordações da época.
Nelas, Mané parece um mágico que esconde a bola dos adversários e hipenotiza a quebrável razão do velho mundo com o vai e vem de duas pernas tortas. Parecia que os marcadores obedeciam o bailar de Garrincha. Mas eles não tinham o molejo suficiente. Era por isso que pisavam na bola, ou melhor, no pé do dançarino que lhes ensinava os passos do futebol arte.
Mesmo assim lá ia Mané feito um passarinho apaixonado levar as cores de sua escola rumo a glória. Sem temor, atravessava com dribles a roda punk inglesa e até mesmo o corredor polonês se fosse necessário.
Enquanto jogou, Mané foi o anjo sarará das pernas tortas que saculejou o mundo ao batucado ritmo Afro-brasileiro.
Mas aqueles que não queriam aprender com Mané sabotavam-no. Eram faltas duras que esmigalhavam seus alegres joelhos. Até que, já a partir de 1963, começavam as dolorosas seções para retirar a água dos joelhos de Mané que sempre inchavam.
Daí em diante, raramente o craque jogava duas partidas seguidas. E isso atrapalhava seu condicionamento físico e entristecia aquela estrela que, antes de tudo, brilhava pela alegria de sua dança cheia de dribles.
Foi, sem dúvida, essa tristeza que em 1983 levou Mané Garrincha. O que resta agora é a lembrança mágica das pernas tortas que, graças a Deus, ninguém conseguiu endireitar.
Salve a dança de Mane Garrincha!


Rafael Alvarenga


Meu superlativo

p/ Ricardo

Meu anjo caído, meu anjo, anjinho, asa quebrada, vôo torto, você me entorta, transtorna, me torna tua, toda tua, presa apanhada em vôo rasante, que anseia ser devorada, presa rasgada em tua garra afiada, desbaratada, você me rodeia, me enleia, me enlaça, você me entontece tecendo tua teia pra me segurar, me pesca na rede do fundo do teu olhar, eu peixe perdido no mar dos teus olhos, eu peixe pulando num barco em teus braços, eu embarco na tua onda sem saber surfar, caixote, você me atordoa, você me espreita, prepara o bote, você me ronda, meu gato a ronronar, você, meu gato, me atiça, você se espreguiça dentro de mim, se afia em meu corpo, tuas garras de louco, gato, gatinho, você me agarra quando troca as garras pelos dentes, eu ando por aí, felina infeliz, a trocar as pernas, tonta, tonta, embriagada de tua boca, logo eu, gatinha escaldada, basta um sorriso teu e você tem minhas sete vidas e todas as minhas encarnações a teu lado, meu anjo fera, meu gato alado.

Bia Tavares


Personagem - parte 2
por Aguinaldo Ramos


Família
Há identidades.
Muitos são os espelhos
e sempre encontram Personagem.
Eles, se a cercam,
mostram ousados suas faces
nem todos à sua frente...
Tentam lhe imprimir
uma outra maneira.
Ela se não se reserva
mantém-se em contato com o carinho.
É um tempo de espera:
uma semelhança se forma no ar
(qualquer ar abandonado de um canto)
e a identidade desabrocha
sua grande família
de possibilidades
generosamente
reconhecíveis e amorosas
verdadeiro espalhar-se
de alegrias...
Neste momento
Personagem é acolhida.




Distância
Na visão de Personagem
fome não é questão
necessariamente bem resolvida.
Costuma ser mais atrevida
que o suportável.
Assume importância demais...
Sente na fome o coração dividido.
Um pedaço é assim, paciente,
acompanha a receita
espera um recheio.
Outro é assado
temperado demais
já vem esquentado
prefere em fatias...
Em volta da fome,
mantendo seu gosto,
barreiras sutis.
A fome tem boa embalagem,
por isso o preço é tão alto.
De resto, às vezes,
lhe restam os restos.




Susto
Em contato com a natureza
Personagem se entrega.
Capricha nos detalhes
elabora a postura
sai espontânea a performance.
Sua natureza também é inesperada,
animal.
Percebe-se fronteiriça aos arquétipos.
Mitológica por um átimo,
sua figura é meio humana
meio cósmica,
algo se mistura em sua ética
se toca.
Mescla os corpos e esquece a alma.
Incorpora às vísceras outros sangues
mais rascantes...
Esse gozo
se arrebata, pouco dura...
Banhada em civilizações,
vestida em seu verniz,
mantém-se firme:
a pose.




Receita
Estranho, saber das entranhas...
O que se sabe dos segredos das prisões?
O que são as prisões, senão segredos?
Não são os segredos estranhas prisões
incrustadas nas entranhas do ser?


O que sabe esse ser
esse estranho ser
aprisionado a si mesmo?
Prisões dão engulhos,
pressupõem abcessos,
absurdos excessos de pressão,
são abortos de expressão.
Curtido no encardido interior de suas paredes
Personagem sabe: precisa recriar com seu fogo
a energia aprisionada fora dos muros.
Debruça-se sobre as próprias entranhas,
cozinha os instintos,
busca encontrar ponto de equilíbrio
entre o impulso da explosão
e as paredes da pressão.
A receita exata: fazer da inércia vir a ação,
do desgosto sabedoria,
da paixão compaixão.




Vazio
O acúmulo de vida no tempo
é um volume pesado.
Faz-se fixo
torna-se forte
assume proporções desumanas.
Deixa de ser movente
cria raízes
domina.
Num certo momento Personagem aceita
a impossibilidade de alterar essa massa.
Sente que apenas arranha a casca
não pode mais alcançar suas folhas.
Sua história tem mais poder que a vontade,
é uma presença maciça...
à sombra dessa abundância é que vive.
Só lhe resta a cotidiana costura da ação,
a resistência a cada ponto,
um sempre criar de novas memórias,
uma calma de não pretender se afastar de seu tronco.
Cada ponto passado não seja o último...
Mantém verde a vivência
acrescenta à história
um novo conto.






Personagem é projeto de livro, com 80 fotos jornalísticas recontextualizadas e ressignificadas pelos textos, contando a trajetória de um “personagem”, que, de todos, pode ser qualquer um.

Veja algo mais de Personagem em: http://www.telemar.com.br/museu/expofoto/persona/personabox.html


* Aguinaldo Araújo Ramos foi repórter-fotográfico por quase 30 anos. Palpiteiro, sociólogo e mestrando em História Comparada, IFCS, tem feito alguns investimentos literários (finalista no Prêmio SESC de Literatura 2005) e está orgulhoso de publicar em Palavril.



Centro Nervoso: “Eu quero É botar meu bloco na rua!”
por Vinicius Longo


Assim como dizia Sérgio Sampaio, o Centro Nervoso não quer ficar para trás, mas afinal de contas, o que é esse bendito Centro Nervoso?

Tudo começou em dezembro de 2005 com uma singela reunião com midias independentes, para compor uma matéria jornalistica sobre a midia não-corporativas, (uma suíte – continuação - de uma matéria que o Leo Almeida já tinha realizado em seu site colaborativo Eletroliteraria, com a Tarja Preta e a Mosh!). Essas publlicações normalmente se encontram fora do eixo da comunicação global (Portais e redes de Televisão). Normalmente tem o estigma de ser aquele jornalzinho que seu amigo de infancia faz, mas que poucas pessoas conhecem. Então, a partir dessa reunião, surgiu a idéia da fundição de um grupo que valorizaria essas publicações e trabalhasse no sentido de que essa pequena publicação ganhasse o mundo. Por quê não? Afinal, muitas publicações são tão informativas e de excelente qualidade, assim como jornais de grande circulação. O que falta é justamente essa máquina de distribuição (que no Brasil é viciada e pouco lucrativa). Por isso, o Centro Nervoso quer colocar o bloco na rua e vai fundar a sua primeira barraquinha de distribuição independente de livretos, publicações, livros e CDs. Tudo em prol da cultura independente.

Se você quiser participar, é só chegar junto em eventos como Filé de Peixe, Sarau João do Rio e muitos outros que rolam todo mês e outros ocasionalmente. Procurar a barraquinha do Centro Nervoso e se informar como funciona. Garanto para os interessados, que coisa melhor não terá, com a função de fazer circular a cultura independente (não globalizada) por todos os cantos do Rio de Janeiro. Se tudo der certo, a publicação daquele seu amigo de infância, poderá circular por todo o Rio de Janeiro, até chegar em Recife, Paraná, Amazonas e até quem sabe algum dia, na França, em Londres ou até no Japão. Mas até isso acontecer, ainda há muito trabalho pela frente e a idéia precisa sair da cabeça de seus realizadores para a vida prática do dia-a-dia.


Acesse a comunidade no orkut e se relacione com os participantes: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=7996152&refresh=1
Qualquer dúvida, sugestão ou critica, pode ser enviada para centronervoso@gmail.com


* Vinicius Longo é poeta e palhaço vinicius.longo@gmail.com



Perdido

Nesses dias de corpo frio e alma quente
Dá uma saudade que se esfrega na vontade
Da beleza que se esconde atrás da tua beleza
Do cheiro além do perfume detrás da tua orelha

Como uma flor brotando de outra flor
Quero sua leveza sem onda ou moda
Quero-te mineral e fresca
do jeito que tú brota

Daniel Paes


Indo para NIKITE

Quero a foto na barca
a gente afundando palavras,brincando de peixe e timão
Estou à treze milhas de trigo
O vento meu pé apertando
Quero pousar no mar
Entrar no cardume esquisito
arracando as escamas
nadando vogais,
Hoje sou peixe mestiço,
guelras destino aprendendo a falanadar
Maristela Trindade


Nem são números

Os vejo partir como a manhã credora
Os meus
E só pelo telefone
Não os reconheceria fisicamente
Tão longe essa dor...
Um quarteirão pelos ares
E outro amanhã
Talvez lembrar e ler o jornal
Não tenho fios em mim
Extensões
Mecanismos pra dizer
pi pi pi pi
Estou
por todas madrugadas
em busca da manhã.
Renato Limão

...e assim fiquei
Escuro como a noite fria dos pensamentos
Um dia morno
Tão claro de cegar os olhos
As muletas que guiam até que caia a chuva
E não haja mais pretexto para ir
Chove a água fria que me trinca os dentes
Arde a pele; e o não querer se faz tão envolvente
Fica em casa e dorme
Deixa a agitação passar e abre os olhos com calma
Porque é aos poucos que se vai levando...
Fabiano Parracho

Fenômeno

Idéias não suportam o pulsar sanguíneo
E como vapores d’água que o corpo expulsa
Exilam-se no véu oculto de um sentido
Que explode em sensação, como a alma busca

Insiste em estar viva a veia latejante
O dedo já se move por vontade própria
A língua é enrolada dentro da garganta
No peito a redundância de amor e ódio

São átomos e células, tecidos e órgãos
Os músculos que estendem também se contraem
O cérebro da casa fica lá no sótão
E os sonhos são amantes que não se encontraram

Transborda o sentimento e a palavra cala
O olho lacrimeja sem ter um motivo
O pescoço se traduz como um arrepio
E o tato todo gira como uma mandala

O dente apenas morde e a ferida sangra
Aberto o apetite, sabor e aroma
vermelho traz a fome, fome traz a dança
a sede nos caninos é só um sintoma

O corpo submisso exige mais um pouco
E as unhas são a águia sobre o meu pescoço
A alma está segura pelas minhas coxas
Some o pensamento sem nenhum esforço

Agora é só o peso, e grato à gravidade
Procuro a tua boca, olhos já cerrados
Sou o universo inteiro dentro de uma flecha
Outrora eras meu alvo...agora és meu arco.
André Bentes


AH! ... ESSES ANIMAIS

Se o homem fosse boi
E o boi homem fosse
Levaria boi o homem ao matadouro
Esquartejaria o homem.
Boi ?
Dividiria anatomicamente seus quartos
Penduraria suas partes em ganchos cruentos
Venderia a um sequioso comprador, boi
Suculentos e sanguinolentos bifes homem
Em quilogramas
Boi homem
Embrulharia a traseira ou a dianteira
E sairia mugindo sorrindo
Para seu pasto de boi
Dalberto Gomes


A HERANÇA DO PROVENÇAL - 1º parte
por Euclides Amaral

Dedicado a Paulo Henriques Brito, poeta, tradutor e professor da PUC-Rio que inspirou esse texto e a forma como foi feita a classificação das tendências explicitadas.


Por onde andará a poesia? Como está sendo veiculada? Pergunto e respondo. De diversas formas. De tantas formas, que na certa precisaria de várias laudas para explicar e ainda assim não conseguiria. Porém, com a finalidade de afunilar a discussão vou tratar apenas de quatro tendências. Superficialmente das três primeiras e entrando um pouco no mérito estético de cada uma e por fim, um pouco mais profundamente da quarta, que é a que realmente me interessa. Sempre deixando claro, que toda classificação que se preza, deixa de fora muita coisa e parte do pressuposto que os exemplos citados são os mais representativos.

A primeira tendência é a que podemos chamar de “Construtivista” é a que tem como base o apuro à linguagem, a impessoalidade e a desenfatização do subjetivismo. Esta tendência é representada por poetas descendentes da estética Mallarmaica e Poundiana. Seus representantes na maioria das vezes são estudiosos e críticos e por isso há uma certa facilidade na publicação de seus trabalhos, já que estão inseridos no mercado editorial. Citando alguns nomes que se destacam nesta tendência temos Augusto e Haroldo de Campos, Décio Pignatari, José Paulo Paes, Antonio Fraga, Pedro Paulo de Senna Madureira, Carlito Azevedo e Paulo Leminski, este último, transitando mais livremente em outras tendências. O lado positivo desta tendência é a estratégia poética de negação aos excessos subjetivista, porém, com emoção e técnica na construção da linguagem, o que é o caso destes autores citados. Já o lado negativo, é o narcisismo intelectual do autor e a cumplicidade do leitor, que aqui e acolá reconhece determinadas citações de autores badalados como Joyce, Dante, Homero, Octavio Paz, Jorge Luis Borges, entre outros e compactua (o leitor) com esse excesso de formalismo que muitas vezes leva o poema à perda da emoção, tornando-se poema de citação.

A segunda tendência é a “Subjetivista” e tem como enfatização o “Eu lírico”. Dentre os nomes mais conhecidos desta tendência temos Carlos Drummond de Andrade, Mário Quintana, Vinicius de Moraes e Affonso Romano de Sant’Anna. O lado positivo desta tendência é que quando este trabalho é bem feito, não se distancia do apuro estético e consegue unir a carga emocional do autor à funcionalidade da língua como coisa viva que o é. Já o lado negativo, fica a cargo de poetas que declaram guerra ao próprio umbigo e pensam que suas dores, amores, paixões e sofrimentos são as dores do mundo e saem por aí cometendo poemas numa pieguice tremenda e com um baita narcisismo emocional e encontrando em alguns leitores a cumplicidade que merecem. É muito comum encontrar esse tipo de poeta em cadernos de poesias de iniciantes – infância poética. Todavia, sabemos que é impossível fazer uma obra de arte toda vez que se escreve, sendo necessário, porém, que se tenha “leituras” e conseqüentemente senso crítico na hora em que vai publicar um texto ou mostrar um trabalho.

A terceira tendência é a que foi classificada na década de 1970 por críticos como Heloísa Buarque de Hollanda e Carlos Alberto Messeder Pereira, entre muitos outros, como “Poesia marginal” e que magistralmente o poeta e tradutor Paulo Henriques Brito chamou de “Poesia vivencial” em artigo no jornal Arte & Palavra. Essa tendência caracteriza-se pela reação aos excessos academicistas da poesia construtivista. Sua principal forma é o verso livre e a renovação da forma a cada poesia com base nas experiências imediatas do poeta, aproximando-se assim do ritmo e da fala coloquial, tendo como precursor desta tendência os poetas modernistas e entre eles Oswald de Andrade e Luis Aranha. Dos atuais agitadores deste tipo de poesia, mas com qualidade, temos Leila Míccolis, Tanussi Cardoso, Chacal, Ledusha, Simão Pessoa, Nicolas Behr e Alice Ruiz. O lado negativo desta tendência e o uso indiscriminado dessa não-forma e que muitos poetas pensam ser de fácil uso, bastando a espontaneidade. Porém, esquecem, esses poetas, que existe a inteligência crítica e o conhecimento de algumas das outras formas, conseguindo assim manter o equilíbrio quando for andar na corda bamba e no fio do verso livre.

A quarta e última tendência eu chamarei provisoriamente de “Canção” e classificarei pela via-poundiana usando a denominação de uma de suas categorias que é a melopéia, aquela na qual as palavras estão impregnadas de uma propriedade musical que orienta o seu significado, com base no som e no ritmo, muito comum nos poetas provençais: Guilhem de Peitieu (1071-1127), Bernart de Ventadorn (1150-1195), Marcabru (1130-1150), Bertan de Born (1140-1210) e outras feras dessa época que viriam a influenciar a nossa canção popular. Diga-se de passagem, que a denominação “canção” é literária, tais como soneto, haicai, ode e elegia, entre outras. Esta forma de poesia (genericamente falando), atingiu uma amplitude tal que chegou aos nossos dias como o melhor meio de divulgação dos poetas, se não o melhor, pelo menos o mais eficiente hoje em dia. Como disse, terei que segmentar um pouco o tipo de poeta a ser comentado, descartando assim compositores como Caetano Veloso e Chico Buarque, que perfeitamente se encaixam como representantes de um tipo de poeta que trazem consigo a herança dos provençais. Contudo, pretendendo direcionar ainda mais o assunto, falarei apenas de poetas-letristas, entendendo aqui como tal, aqueles que lidam com a palavra e não (também) com harmonia e construção melódica como é o caso de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque, este último, sem sombra de dúvida, um dos maiores letristas, tanto de suas músicas como nas de outros compositores. O que quero tratar aqui é de poetas-letristas da nossa música popular e que através dela, conseguem divulgar seu trabalho para um público mais amplo, muito mais do que o público restrito aos livros. Em um país em que se lê pouquíssimo, ainda mais poesia, aliar a escrita poética à mídia é muito importante. Para se ter uma idéia, a cidade de Buenos Aires tem muito mais livrarias que em todo o Brasil, talvez pela inexistência de uma política governamental direcionada ao livro. São apenas três mil bibliotecas públicas em todo o país de dimensões continentais. O que existe, são esforços isolados como o do Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro que na gestão de José Maria de Souza Dantas criou alguns projetos, que por fim definharam por falta de apoio municipal, estadual ou federal. Tudo isso, somando e multiplicando, fez com que os poetas procurassem formas de divulgação que não passassem somente pelo formato “livro”.


...continua na próxima edição


Por Marcelo Ricardo


PALÍNDROMO SEM NENHUM SENTIDO

"O três é deserto"


PALÍNDROMO SEM NENHUM SENTIDO II

"O míssil é belíssimo"

Para Pensar
O vital é relativo?

A BOBA

"Só namoro romanos"


Maiores e Menores, Fortes e Fortes
Por Rod Britto

Pois é; infelizmente em muitas vezes as novas turmas culturais são logo desacreditadas por forças supostamente "maiores" (resulta daí desestímulo e opacidade), porque estas últimas truculentas, e de todas as maneiras estas mesmas forças (muitas vezes carentes de inteligência e com alto colesterol), ainda que nos bem escondidinhos, tentarão anular forças supostamente "menores", que são estas apenas em potencial, assim, até então, até aqui, até agora, por seus bons índices de serviços prestados à renovação do indivíduo cultural ou de grupos de indivíduos, num bairro, na cidade, no Brasil (menos a intolerância, a esperteza e a deselegância intrínsecas à maioridade), visíveis, se quiserem. Até aqui estamos virtuais, não é mesmo? Mas quem garantirá o dia de amanhã, no esforço coletivo de apresentarmos sugestões gratuitas às razões maiorais, stricto sensus, como se não, não, não mesmo, munidos de argumentos, não vamos arrumar as ruas pro sensacional/virtual hepta? - mas não necessariamente contra eles e elas, pois dali pressupõe-se a disputa, a busca de pódio à altura, a perda da vergonha e da moral. Digo que como estímulo natural contra o desestímulo implantado é até boa a suposição de diletantes, a flutuação engajada/provocativa, o tal do maniqueísmo, as turmas bem diferenciadas e seus fortes, e mundialmente assim reconhecidos como menores ou maiores, sem misturas ou oxigenações da aldeia global, a condição de cada lado, desde que cá estejamos nós e outros os mais diversos - podendo aliar tantos fortes forem com motivos parecidos, mas não selecioná-los ou categorizá-los - livres, em ações continuadas, com um suporte de bons princípios, iguais na divisão do tempo/espaço/tarefas (alguns dos quais até ingênuos na sociedade em que vivemos e pela qual trabalhamos em suas diferentes áreas e pausas e giros - até o artísitico-intelectual, pode nem parecer, pelo lado de lá, mas tenho que sim). Uma utopia? O ideal. Afinal, não somos bêbados como querem, pagando de loucos e querendo aparecer para falar merda o tempo todo no microfone e no telão. Somos mesmo bem menores do que isso. Enfim, em assim se confirmando, outra vez na história, servir-nos-emos muito bem, à vontade - não só a nossa, mas a dos outros também. A nossa Liberdade de atuação fortalece o que é chamado por muitos de "de menor", apenas com a marca de uma cerca a olhos nus. E desgasta sempre os chamados eficientes como tais, em fortalezas, assim o 'são-sendo', desde há muito, os maiores deles e suas forças truculentas.
Fiquem bem.
Um abraço comunal, do Rod Britto.


Obs: Extraordinariamente a idéia lida acima é uma disposição extra ao texto enviado a mim pelo jornalista da Palavril, Vinícius Longo. Meu querido e digníssimo Alex, então, sinta-se tranqüilo ao menos por um mês...


Sobre a fragilidade do gelo

Houve um tempo em que ele costumava sentar-se à margem da pista, e observava as pessoas patinando, todas agasalhadas, com seus patins arranhando o gelo e formando desenhos uns sobre os outros naquela placa que formava o chão no inverno. Fazia já alguns anos que ele próprio não se entregava àquela distração; preferia assistir, preferia manter-se ali, a observar, a perder-se naquele vai e vem repetitivo, naquela hipnose misturada de patinadores. Casais, crianças, jovens, idosos, aprendizes, experientes, medrosos, ousados, cruzavam-se pra lá e pra cá em um interminável redemoinho, voltas e voltas, como numa orquestra desencontrada, cada um em seu ritmo. Só que uma orquestra silenciosa, preenchida apenas pelo burburinho das vozes. Só que o silêncio do parque era tão opressor no frio que as vozes se perdiam a pouca distância, e a alegria dos patinadores ficava até meio estranha, surda, uma alegria sem som, abafada, uma alegria de um sol se pondo, de algo se desfazendo, se dissolvendo, como o próprio gelo.

Quando ele ouviu o choro da criança, tão fraco como os outros ruídos, foi preenchido por uma sensação ainda sem nome. A lembrança foi se formando em seu espírito e, ao longo dos segundos, naquela insistência do choro, foi se dando o reconhecimento, com a vaga lembrança de uma frase: don't be surprised when a crack in the ice appears under your feet. E os patinadores foram desaparecendo de sua visão, enquanto ele se concentrava em dar nome àquela lembrança.

Virou-se. Tentou reconhecer de onde vinha o choro. Uma moça jovem muito pálida, de cabelos ruivos, ninava um bebê a poucos metros dele, pouco mais à esquerda. Mamma loves her baby; and daddy loves you too.

Lembrava-se agora. Com a totalidade da sensação que aquela música lhe proporcionava desde tempos remotos.

Lembrava-se de como a canção era sombria. De como começava com um choro de criança. De como continuava com a repetição de notas agudas no piano. De como terminava com uma guitarra ameaçadora. De como eram terríveis aqueles dois minutos e meio. De como ele tentava evitar lembrar-se do que a canção dizia - justamente por acreditar. Justamente por concordar.

Virou-se novamente. And the sea may look warm to you, babe. And the sky may look blue. But oh, babe... Ele sentiu uma leve pontada no peito, uma dor aguda de algum tempo atrás.

A mãe, cheia de seus cuidados, nunca seria suficiente. Mesmo aquela moça ruiva, concentrada em consolar o choro do filho. Nem enquanto aquela criança permanecesse criança. Nem quando ela crescesse, e tivesse que enfrentar sozinha a vida. Por enquanto, havia aquele consolo; aquele cuidado. Mas mesmo nessa época, talvez aquela mãe causasse danos ao próprio filho, sem tomar consciência disso. O perigo repousava nas mesmas mãos que acariciavam aquela pele tão nova, que conduziam aqueles passos errantes, que o incentivavam a se alimentar. O perigo repousava nela própria, e em todos ao redor. E quando ele olhasse com mais atenção, repararia, em algum momento de sua vida, como era frágil o solo em que ela se erguia. Como era frágil o solo de todos nós.

Você se engana, e você se enganará sempre. E você percorrerá os caminhos mais perigosos, acreditando ser apenas uma passagem ou uma trilha. E você ainda conservará aquela vaga lembrança dos braços te acolhendo após o choro, mesmo quando eles não estiverem mais lá, mesmo quando nada tiver substituído, que será o momento em que você vai mais precisar. Você, apenas mais uma criança, nos braços de alguém que nunca poderá tornar o caminho mais sólido para você pisar.

Ele se virou novamente, a criança cessara o choro. Enquanto isso, um patinador seguia, de costas, pelo gelo, e afastava-se do grupo. Ele ia devagar e cauteloso, cruzando a massa branca sob seus pés, alternando as passadas, sem reparar na insuficiência da beleza de seus passos.

Quando percebeu as rachaduras, hesitou.

De longe, ele viu. Observava, mas não conseguiu fazer nada. Com a testa franzida, um temor que o paralisou, ele assistia o patinador buscando para onde ir, a que direção seguir, mas era inútil. O gelo se abriu sob ele, sugando-o tão silencioso quanto abruptamente, e no mesmo instante já não se via mais aquele cachecol colorido em meio à paisagem branca. Ele viu ainda os movimentos das braçadas desesperadas. Viu como as pessoas em volta não reparavam, e continuavam sua diversão. Viu como os poucos que se deram conta do ocorrido, apenas olharam para baixo, num movimento resignado, e pararam apenas por um momento, para juntar-se novamente aos outros, ignorando a eventualidade da repetição do acidente.

No segundo seguinte, ele não viu mais o buraco. O patinador que ele acreditara ter caido na água congelante, estava misturado ao grupo, demorou apenas alguns segundos para reconhecê-lo, achá-lo em meio aos inúmeros outros patinadores. A criança repousava à esquerda, no colo da mãe, aquecida e protegida.

E enquanto ele permaneceu ali, tentou afastar de seus pensamentos a súbita certeza de que, acontecesse o que acontecesse, em algum dia, mesmo que ele não estivesse lá para presenciar, cada um daqueles patinadores seria sugado por um rachar do gelo. Cada uma daquelas pessoas se surpreenderia com o vão surgindo sob seus pés, apesar de que ninguém em volta tomaria conhecimento. Cada um deles. Todos eles. Ele, inclusive. E sentiria o frio percorrer-lhe a espinha até retirar-lhe a vida, mesmo após tantas voltas naquela pista que parecia apenas um divertimento banal de inverno de todos os anos.

Sheila Louzada



Ponto de interrogação

Estou tão farto de você(sou individualista).Não sei bem quanto tempo devo permanecer assim:pode ser que eu mude daqui a alguns minutos(não consigo fazer uma narrativa em terceira pessoa).
Será que não consigo perceber a realidade através dos meus personagens interiores?Não. Besteira. Talvez um dia ou nunca,(tô me sentindo um sofista)a quem eu quero convencer?
Ela andava na rua tão apressadamente(ou apressada), sentindo o aroma do vento(atitude leviana?) me sinto dentro dos instantes-já de Clarice. Que droga! Sou um ser em processo constante e disforme. Bem, continuando a falar do vento(ou da garota?).
Não sei ser epifânico, talvez eu não seja nada. Cada dia mais perco o rumo do vento(tenho de parar de ler Clarice). Olha! Veja por si mesmo que não há nada a se ver(isso é um texto escrito - por incrível que pareça).
Ela continua sua caminhada em direção multilateral(amplia sua visão de mundo?) E o vento? Ah! Ele está bem aqui! Você o respira! Por meio dessas linhas que escrevo, você sorve tudo até ficar inundado.
- sim. Meu nome é a garota-vento(estou contida dentro de mim mesma?)- me indagou. E como ela apenas me indagou, vou deixa-la sem resposta até daqui a meio segundo.


Natan de Oliveira

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